sábado, 7 de junho de 2014

DO QUE VOCÊ PRECISA PARA SER FELIZ?

 J.J. Camargo*
 
A busca de uma resposta aparentemente simples ao que pergunta o título da coluna de hoje mudou a minha vida.

Com a possibilidade de continuar na famosa Clínica Mayo, retornei a Porto Alegre para encontrar a minha amada Santa Casa agonizante, e trouxe na mala de garupa um prazo para a decisão de voltar, que atormentou todas as minhas madrugadas naquele inverno.

Angustiado, e querendo a opinião de pessoas mais experientes, ouvi do Bruno Palombini aquela pergunta, completada com a sabedoria de sua cabeça luminosa: “Quando a gente responde essa questão, todas as outras decisões brotam espontaneamente!”.

Retrospectivamente, a opção por rejeitar um futuro que estava pronto e voltar para construir um novo, contra todos os desafios, ainda hoje pode ser questionada, mas naquele dia eu soube que até podia nunca realizar meus sonhos, mas os instrumentos estavam aqui. Claro que essas escolhas dependem também da nossa condição de aborígenes e de como valorizamos as nossas raízes, e do quê e quanto sentimos saudades. E isso é de cada um, e sem manual de instruções.

Mesmo com essas ressalvas, me espantou a história de um recente companheiro de viagem que, depois de visitar a família no Brasil, estava voltando para os EUA, onde vive há 13 anos, e já trabalhou numa variedade enorme e díspar de atividades. Segundo ele, estava enfim construindo o seu pé de meia para voltar para casa daqui a alguns anos, e se aposentar. Não resisti perguntar: “Mas o quê você mais gosta de fazer?” .

A resposta foi enfática: “Ganhar dinheiro é a única coisa que faz com que eu me sinta poderoso!” Não lembro de mais nada depois dessa frase, exceto de um sono repentino que me derrubou.

Na despedida, um cartão e um convite para visitar sua nova conquista, uma fantástica empresa de reforma de residências, em Michigan. Assegurei que tinha enorme interesse no assunto e nos dissemos adeus. Para sempre.

Que o dinheiro traz segurança, autonomia, confiança, independência e liberdade, todo mundo sabe. Mas o alto índice de drogadição, alcoolismo e suicídio entre grandes empresários sugere que ele não se basta.

E tudo por conta de uma verdade reconhecida em todos os níveis sociais: existem ingredientes imprescindíveis para a construção da autoestima que o dinheiro se insinua, ronrona, massageia, ameaça, pressiona, avaliza, mas não compra.

Também é sabido que uns nascem para ser grandes, outros se contentam em ser pequenos mas, se, em algum momento da vida se cruzarem, neste instante, eles terão exatamente o mesmo tamanho.

O poeta José Maria Rilke, acompanhado da secretária, costumava passear todas as tardes em torno do quarteirão onde vivia, em Viena. Sistematicamente, jogava uma moeda para uma velha que mendigava na esquina. Um dia, não dispondo de moedas e, tendo ganho uma flor, por impulso ofertou a rosa à pobre mulher.

Ela, aparentemente assustada com o presente inesperado, recolheu seus trapos numa sacola velha de pano sujo e desapareceu. Passados três dias, lá estava ela, outra vez instalada na esquina.

Aliviada ao revê-la, a secretária perguntou: “Do que será que ela viveu nesses três dias?” . Ao que o poeta, sabiamente, respondeu: “Do significado da rosa!”.

As escolhas dependem também de como valorizamos as nossas raízes e do quê e quanto sentimos saudades, e isso é de cada um, e sem manual de instruções.
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* Médico
Fonte: ZH online, 07/06/2014
 


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