Martha Medeiros*
Nesta quarta-feira foi preciso decidir entre acordar holandesa ou
australiana – não concebo presença num estádio sem torcer para alguém.
Estarei às 13h no Beira-Rio, e mesmo não sendo meu time que entrará em
campo, torcerei. Mas para quem? Holanda ou Austrália? Com que roupa eu
vou?
Eu tinha pouca idade – quatro, cinco anos? – e já sentia fascínio pela Holanda, um país do qual eu nada sabia, a não ser que tinha nome de mulher e sobrenome de Chico Buarque. Assim iniciou minha simpatia. Holanda, 1 x 0.
Aí ganhei de uma tia um par de tamancos de madeira. Ela havia retornado de uma viagem por aquele país que parecia tão feminino na minha imaginação, enquanto que da Austrália eu ainda não tinha notícias. Holanda, 2 x 0.
Então, virei adolescente e comecei a trocar cartas (cartas!) com uma neozelandesa que, por ser vizinha dos australianos, poderia ser considerada como tal. Foi por causa dela, da Michelle, minha primeira amiga além-mar, que comecei a simpatizar com cangurus também. 2 x 1.
Mas a Holanda tinha tulipas, e desde muito cedo desenvolvi o apego por flores, por todas elas – um apego que se mantém até hoje – e a Holanda marcou de novo: 3 x 1.
A Austrália tinha praias, era um país jovem, a longa distância me induzia a pensar que era um destino para quem não tinha outro objetivo a não ser a boa vida. Mas, afora esse saudável oba-oba, me fazia falta alguma informação mais consistente. Eu seria capaz de citar um pintor australiano? Àquela altura, já havia aprendido a gostar de arte e uma reprodução caprichada de Van Gogh inspirava a família na parede de casa. Holanda, 4 x 1.
E chegou o dia de viajar para o Exterior pela primeira vez. Europa, meu foco. Quando desembarquei em Amsterdã, aluguei uma bicicleta, tomei algumas Heineken e me entortei a fim de homenagear a bebedeira arquitetônica das casas que margeiam seus canais, umas escoradas nas outras, como quem volta de uma noitada forte. Pirei com (e em) Amsterdã. Já era uma goleada: 5 x 1.
Quando a Austrália parecia irremediavelmente humilhada, eis que assisto a um filme com um ator australiano que eu nunca vira antes. Ele se chamava Hugh Jackman e me causou boa impressão. A Austrália descontou com categoria: 5 x 2.
Eis a lógica matemática da Copa. Ao menos a lógica de uma fan (farrona) do esporte, que não entrou em nenhum bolão, não entende profundamente de futebol nem de nada, que não sabe muito bem para quem torcer quando não é a seleção do seu país que está em campo, mas que faz questão de acompanhar o entusiasmo da festa com a irreverência permitida pela ocasião. Para quem torcer, Van Gogh ou Wolverine? E para qual resultado?
5 x 2. É justo. Afinal, o que se quer é gol para tudo que é lado. E Van Gogh gostava de girassóis.
Eu tinha pouca idade – quatro, cinco anos? – e já sentia fascínio pela Holanda, um país do qual eu nada sabia, a não ser que tinha nome de mulher e sobrenome de Chico Buarque. Assim iniciou minha simpatia. Holanda, 1 x 0.
Aí ganhei de uma tia um par de tamancos de madeira. Ela havia retornado de uma viagem por aquele país que parecia tão feminino na minha imaginação, enquanto que da Austrália eu ainda não tinha notícias. Holanda, 2 x 0.
Então, virei adolescente e comecei a trocar cartas (cartas!) com uma neozelandesa que, por ser vizinha dos australianos, poderia ser considerada como tal. Foi por causa dela, da Michelle, minha primeira amiga além-mar, que comecei a simpatizar com cangurus também. 2 x 1.
Mas a Holanda tinha tulipas, e desde muito cedo desenvolvi o apego por flores, por todas elas – um apego que se mantém até hoje – e a Holanda marcou de novo: 3 x 1.
A Austrália tinha praias, era um país jovem, a longa distância me induzia a pensar que era um destino para quem não tinha outro objetivo a não ser a boa vida. Mas, afora esse saudável oba-oba, me fazia falta alguma informação mais consistente. Eu seria capaz de citar um pintor australiano? Àquela altura, já havia aprendido a gostar de arte e uma reprodução caprichada de Van Gogh inspirava a família na parede de casa. Holanda, 4 x 1.
E chegou o dia de viajar para o Exterior pela primeira vez. Europa, meu foco. Quando desembarquei em Amsterdã, aluguei uma bicicleta, tomei algumas Heineken e me entortei a fim de homenagear a bebedeira arquitetônica das casas que margeiam seus canais, umas escoradas nas outras, como quem volta de uma noitada forte. Pirei com (e em) Amsterdã. Já era uma goleada: 5 x 1.
Quando a Austrália parecia irremediavelmente humilhada, eis que assisto a um filme com um ator australiano que eu nunca vira antes. Ele se chamava Hugh Jackman e me causou boa impressão. A Austrália descontou com categoria: 5 x 2.
Eis a lógica matemática da Copa. Ao menos a lógica de uma fan (farrona) do esporte, que não entrou em nenhum bolão, não entende profundamente de futebol nem de nada, que não sabe muito bem para quem torcer quando não é a seleção do seu país que está em campo, mas que faz questão de acompanhar o entusiasmo da festa com a irreverência permitida pela ocasião. Para quem torcer, Van Gogh ou Wolverine? E para qual resultado?
5 x 2. É justo. Afinal, o que se quer é gol para tudo que é lado. E Van Gogh gostava de girassóis.
-----------------
* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH online, 18/06/2014
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário