Kiko Nogueira*
Júlio César entra fácil em qualquer lista dos jogadores mais sem
carisma da história. Nunca foi ouvido dizendo uma frase perspicaz,
original ou mesmo absurda, não é dado a vibrar, não é um líder, nada. O
anti-Leão.
Mas quem precisa disso quando se tem alma? Foi o heroi do jogo contra
o Chile ao pegar dois pênaltis na prorrogação e após uma defesa difícil
num chute à queima roupa no segundo tempo.
Há quatro anos, foi crucificado depois da partida em que a Holanda
despachou o Brasil nas quartas. Falhou miseravelmente no segundo gol,
numa saída patética em que Felipe Melo acabou marcando contra.
De certa forma, se Felipe Melo não estivesse ali, JC seria o único
culpado. Ele conta que pensou em se aposentar. Se Melo nunca mais
mereceu outra chance, Júlio foi lembrado por Felipão em 2013 — apesar de
estar no Toronto FC, do Canadá, onde só se joga hóquei. Pouco antes,
passara pelo pequeno Queens Park Rangers, da segundo divisão inglesa.
“Quatro anos atrás eu dei uma entrevista muito triste, muito
chateado. Eu to repetindo hoje, mas com muita felicidade. Só Deus e a
minha família sabem o que eu passei e o que eu passo até hoje, mas o meu
ciclo na seleção não acabou”, disse ele com a voz embargada
imediatamente depois da vitória sobre os chilenos. “Faltam três degraus,
e eu espero dar outra entrevista, com o Brasil todo em festa”.
Scott Fitzgerald dizia que não há
segundo ato na vida dos americanos. No futebol, JC é uma prova de que as
novas chances são possíveis. Se Felipão, um homem fiel a um grupo de
atletas, erra ao insistir em Hulk ou Fred, acertou ao bancar o insosso e
emotivo Júlio César.
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*Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi
fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo;
diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
FONTE: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/julio-cesar-o-heroi-sem-nenhum-carisma/
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