HISTÓRIA DE JÓ
Adélia Prado
e calcas aos pés tua pobre criatura,
teu sofrimento é enorme, deus,
a dor de tua consciência ingovernada.
Difícil me acreditares,
pois tenho um céu na boca.
Tem piedade de nós,
dá um sinal de que não foi um erro,
ilusão de medrosos,
fantasia gerada na penúria,
a crença de que sois bom.
O medo regride à sua estação primeva,
à sua luz branca.
E quero a vida nos álbuns:
assim eram as avós e suas criadas negras:
Não posso ir o teatro,
convocada que sou pra esta vigíliade segurar seu braço pusilânime,
eu criatura digo-Vos, coragem.
Perdoa-me, contudo, perdoa-me.
(“História de Jó”, Oráculos de Maio, p. 53)
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