L. F. Veríssimo*
Lembra quando se dizia que determinado jogador era o
cérebro do time? Foi uma das expressões que desapareceram do glossário do
futebol, como “cabeça de área”. Era uma denominação imprecisa. Não
significava que o jogador monopolizava a inteligência do time. Nem
deveria ser tomada literalmente, como uma descrição anatômica (assim
outro jogador seria o pulmão do time, outro o coração, outro o
fígado...). O cérebro do time era geralmente um centromédio – outro
termo que desapareceu – que “pensava o jogo” e distribuía a bola com
sabedoria. Orientava os companheiros, municiava o ataque com passes
certeiros e só não jogava fumando um cachimbo metafórico, para completar
sua imagem professoral, porque o juiz não deixaria.
O futebol mudou e o meio do campo não é mais um lugar seguro para intelectuais. É onde o domínio do jogo é disputado com rudeza, a machadadas, e não há tempo nem espaço para a sabedoria. Hoje você olha o meio-campo da Seleção Brasileira com uma nostalgia difícil de definir – até se dar conta de que está procurando o “cérebro”. Você está com saudade do antigo “cérebro”. E não vê nada sequer parecido no time do Brasil.
Eu já tinha me resignado a nunca mais ver um “cérebro” em campo, convencido de que a espécie simplesmente se extinguira, como os dinossauros. Olhava em volta e não via nem um simulacro. Via Xavi, grande jogador, mas não exatamente o que procurava. Via Pirlo e via Schweinsteiger, também grandes jogadores, mas não cérebros. E então, assistindo pela televisão o amistoso entres os Estados Unidos e a Nigéria, me apareceu um “cérebro” clássico. Eles ainda existem! Ou pelo menos existe um: o Michael Bradley, aquele careca com o numero 4 dos Estados Unidos. Não sei se Bradley foi uma aparição ou se confirmará na Copa as suas qualidades de meia-armador à antiga. O que nos interessa não é o americano, mas o fato de que não há ninguém como ele no nosso time.
Nosso meio-campo é bom. Luiz Gustavo é pegador. Paulinho, Ramires, Hernanes etc., todos ótimos. Mas não há um Bradley entre eles.
O futebol mudou e o meio do campo não é mais um lugar seguro para intelectuais. É onde o domínio do jogo é disputado com rudeza, a machadadas, e não há tempo nem espaço para a sabedoria. Hoje você olha o meio-campo da Seleção Brasileira com uma nostalgia difícil de definir – até se dar conta de que está procurando o “cérebro”. Você está com saudade do antigo “cérebro”. E não vê nada sequer parecido no time do Brasil.
Eu já tinha me resignado a nunca mais ver um “cérebro” em campo, convencido de que a espécie simplesmente se extinguira, como os dinossauros. Olhava em volta e não via nem um simulacro. Via Xavi, grande jogador, mas não exatamente o que procurava. Via Pirlo e via Schweinsteiger, também grandes jogadores, mas não cérebros. E então, assistindo pela televisão o amistoso entres os Estados Unidos e a Nigéria, me apareceu um “cérebro” clássico. Eles ainda existem! Ou pelo menos existe um: o Michael Bradley, aquele careca com o numero 4 dos Estados Unidos. Não sei se Bradley foi uma aparição ou se confirmará na Copa as suas qualidades de meia-armador à antiga. O que nos interessa não é o americano, mas o fato de que não há ninguém como ele no nosso time.
Nosso meio-campo é bom. Luiz Gustavo é pegador. Paulinho, Ramires, Hernanes etc., todos ótimos. Mas não há um Bradley entre eles.
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* Luis Fernando Veríssimo. Jornalista. Escritor. Cronista da ZH
Fonte: ZH online, 09/06/2014
Excelente esse seu texto!
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