Martha Medeiros*
O jogo do amor, nesta véspera de Dia dos Namorados, está sofrendo uma concorrência indecorosa. Só se fala em futebol.
A pipoca promete desbancar os bombons, a cerveja promete vencer os
cálices de vinho, e beijo, alguém falou em beijo? Só se for para
comemorar vitórias em campo. Não é hora de romantismo, e sim de
patriotismo.
Suspiro. Nesse clima (ainda que insosso) de torcida organizada, de
nação reunida, de milhões em ação, fica difícil dedicar o tema da coluna
apenas para dois: um par.
Mas é o que me propus, desde que li, dia desses (acho que no livro
Doralina, de Luiz Horácio), uma frase que me fez pensar: “Amar é
encontrar aquilo que não se procura”. E subitamente lembrei daqueles que
se produzem no sábado à noite para sair em busca de paquera, de quem se
vale do aplicativo Tinder na esperança de achar sua cara-metade, de
quem se matricula em todos os cursos prevendo que dali será pinçado um
candidato a marido ou a esposa, de quem pede aos amigos para que lhe
apresentem solteiros e solteiras à disposição, lembrei de todas as
artimanhas justas e válidas para que a pessoa se recoloque no mercado
amoroso, numa ânsia também justa e válida de preencher seu vazio
emocional – só que o justo e o válido não são mágicos.
Aquilo que vem por encomenda, atendendo a pedidos, pode, claro,
satisfazer plenamente seu desejo. Quer casa, comida e roupa lavada? Tem
quem ofereça. Quer companhia para o cinema? Aos montes. Quer sexo e nada
mais? Comece a distribuir senha. Se você está consciente do que
procura, encontrará alguém que se encaixe no seu ideal de
relacionamento. Funciona mais ou menos como uma entrevista de emprego.
Justo e válido.
Porém, amar é encontrar aquilo que não se procura. Aquilo que surge
sem explicação, que não tem lógica, e contra o que não adianta lutar:
nenhuma resistência é suficiente. Amar é puro fascínio. Você cruza com
uma pessoa que talvez nem equalize com seus sonhos, mas é com ela que se
deu o click, o curto-circuito, que algo foi despertado. A mágica está
no que não veio por encomenda, nem atendendo a pedidos, nem no momento
certo, nem mesmo pegou você de banho tomado – é um flechaço do Cupido,
que às vezes é ruim de mira, mas ao menos tem boa intenção. Ou, se não
for a hora de falar em Cupido, mas em Neymar, Fred, Hulk e Jô, pode-se
dizer que a mágica é um potente chute de fora da área no qual ninguém
acreditou, mas a bola entrou assim mesmo. Gol.
Aos namorados de amanhã, grudem-se. Façam essa mágica durar.
Aos solitários de amanhã, torçam – mas pela Seleção, não por si
mesmos. Esqueçam um pouco de si mesmos. Permitam-se parar de querer, de
procurar, de se preocupar. Sem planos e sem ânsia, aguardem calmamente a
chegada do que nunca pediram.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH online, 11/06/2014
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