Harold Von kursk*
Ninguém sente prazer com a morte do jogo bonito do Brasil e sua
aniquilação pela Alemanha. O esmagador placar de 7 a 1 representa uma
virada triste no esporte ou pelo menos uma ruptura decisiva na nossa
compreensão tradicional do equilíbrio de poder do jogo.
Foi uma blitzkrieg no campo – três gols em cinco minutos, quatro gols
em menos de 7 minutos – e, quando o adversário é o Brasil, e não a
Polônia ou a Islândia, algumas questões sérias devem ser levantadas.
É impossível conceber o peso de uma derrota com essas proporções
históricas – a primeira de vocês em casa desde 1975. Aconteceu tão
rápido que ninguém podia acreditar que estava acontecendo.
Sua nação estava tão atordoada assistindo os enxames de atacantes
alemães cortando o gramado quanto o resto do mundo assistindo o jogo na
TV.
Este foi o choque do novo. Este foi um triunfo de uma estratégia
inteligente que representa os valores tradicionais do futebol alemão – o
trabalho em equipe, a dedicação e o equilíbrio psicológico.
Nós todos sabemos que esse não era um grande time brasileiro. Sabemos
também que, além de Neymar, o Brasil não tinha nenhum outro atacante de
classe mundial. Sua ausência certamente criou um vácuo na equipe.
Mas quando uma grande nação do futebol entra em colapso de uma forma
tão patética, torna-se mais difícil para os vencedores se alegrar em seu
triunfo. Ninguém na Alemanha está pensando que temos atletas
maravilhosos ou um estilo de jogo mais bonito. Mas a Alemanha tem
melhores jogadores e uma crença avassaladora em si mesma que só cresceu
diante da emasculação transcendental do lado brasileiro.
A Alemanha mantém o Brasil na mais alta consideração. Nós respeitamos
a graça e a grandeza de lendas como Garrincha, Sócrates, Pelé, Rivelino
e tantos outros. Sabemos também de experiência própria — quando o
Brasil de Ronaldo nos despachou na Copa do Mundo de 2002 com facilidade –
que vocês ainda são o celeiro dos jogadores mais talentosos do mundo.
Mas este ano vocês tinham um time ruim e um péssimo treinador. Não
ponham toda a culpa em Fred. David Luiz jogou ainda pior que ele e seu
meio de campo é culpado de uma rendição que teria envergonhado até mesmo
o exército italiano na Segunda Guerra Mundial.
O Brasil vai renascer das cinzas desta derrota devastadora. Vai
encontrar uma maneira de reconstruir sua equipe e mudar suas táticas.
Todos vão se alegrar quando vocês começarem a jogar bonito novamente. O
mundo ama o Brasil. Mas é hora de trazer de volta a arte para o esporte
que era de vocês.
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* Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi
fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo;
diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
Fonte: Diário do Centro do Mundo, 08/07/2014
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