sexta-feira, 18 de julho de 2014

Quando os jovens tiverem cem anos

 Moisés Mendes*
 
Um dia, todos serão jovens de cem anos, com a aparência daquela pessoa que você conhece e não envelhece. Um colega, uma prima, um amigo ou alguém que você vê na TV. Ele continua jovem não só no rosto, mas nas roupas, nos gestos, na fala, nas ideias.

Você convive com aquela pessoa há anos e percebe que todos em volta envelhecem, mas ela não. Ou de repente vocês se pecham no supermercado, 15 anos depois do último encontro, e o que surge à sua frente é a mesma pessoa, com a mesma blusa, os mesmos tênis e apenas um sutil, um só, pé de galinha no canto do olho.

Durante a Copa, me diverti com o programa Extra Ordinários, do SporTV, e lá estava, ao lado da Maitê Proença, uma dessas pessoas. Eduardo Bueno, o Peninha, é um guri de 56 anos. O jornalista tem a mesma fala de 30 anos atrás, veste as mesmas camisetas, lambe a mesma franja e comete os mesmos atrevimentos e assim continua jovem.

Peninha é da tribo de Evandro Mesquita, o cara da banda Blitz, o mecânico Paulão da Grande Família. Você reúne os dois e mais alguns conhecidos seus e forma um grupo retrô. Não é só a aparência que conta. Eles são personagens dos anos 70 e resistem, com o que têm de melhor em suas cabeças, a modismos e tendências falsamente rejuvenescedoras.

Peninha é da linhagem de Tarso de Castro, o criador do Pasquim, da turma dos gaúchos meio acariocados. Debocha dele mesmo e dos gauchismos e brinca com a ideia de que é um reacionário. Dança de pés descalços no fio da navalha. Foi assim que liderou o grupo do mais abusado programa de TV da Copa.

Peninha e os seus tênis roxos têm algo a ver com uma pesquisa sobre a tendência de retardamento da maturidade, da Universidade Fordham, de Nova York. Estou sempre procurando notícias sobre pesquisas na Internet e encontrei esta tão otimista. 

Eles concluíram que pessoas com quase cem anos tendem a ser não só mais sábias, mas também mais positivas e divertidas. E avisam pelo menos metade dos nascidos por volta do ano 2000 irão durar em torno de cem anos.

A pesquisa diz ainda que uma pessoa só está plenamente madura para compreender suas fragilidades e aceitar a ideia de finitude quando chega aos 70 anos. A partir daí, na caminhada em direção aos cem, vamos ficando mais sociáveis e extrovertidos e expressamos melhor nossas emoções. Quanto mais velho formos, mais Peninha seremos. 

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Você que é jovem, que está na idade da eternidade aos 15 anos e senta num bar da Cidade Baixa e encontra saídas para todos os bretes existenciais da humanidade, porque essa é a grande missão da adolescência, você pode ter pelo menos 85 anos pela frente.

No fim do século 21, com a vida sendo espichada sem parar, você, os novos Peninhas e as novas Maitês terão 90 anos e se comportarão como se tivessem 20. E serão então pessoas maduras e divertidas. Quanta coisa vai dar pra fazer com tanta vida. 
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* Jornalista. Colunista da ZH
Fonte: ZH online, 18/07/2014
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