Transei com Gugu
Fábio Porchat
Mais importante que uma boa matéria é um título impactante.
Não,
eu não transei com o Gugu Liberato, mas arrisco dizer que muita gente
vai começar a espalhar por aí que sim. Talvez esse se torne um dos meus
artigos mais compartilhados. O que acontece é que(números do DataFábio) 80% das pessoas não leem o texto todo, só o título e já formulam suas opiniões.
Um
dia, tive uma crítica péssima de uma peça de teatro publicada no
jornal. Dizia que meu texto era péssimo, não tinha graça e as atuações
eram pífias. Mas o que aparecia como chamada em letras garrafais era:
“Comédia é para fazer rir”. Recebi algumas ligações de pessoas me dando
parabéns pela crítica.
Ler dá trabalho e somos um país que não lê e a internet está nos provando cada vez mais isso. O público se baseia em seu próprio (pré)preconceito para dar uma opinião. Não vou nem entrar no mérito de que a maioria das pessoas ouve apenas um só lado da história (e geralmente o lado que reforça a sua opinião), porque ultimamente as pessoas não estão ouvindo nem a história propriamente dita. O que vem acontecendo na internet é que, de um modo geral, as pessoas não têm o menor comprometimento com o impacto da sua opinião.
A
sede por falar mal e “desmascarar” alguém é muito grande. Tanto faz se a
notícia é verdadeira ou falsa. Se sai em algum lugar que todas as
músicas do Caetano Veloso na verdade não são dele, mas sim plagiadas,
imediatamente alguém irá publicar no seu Facebook ou no twitter:
eu sabia. Esse imbecil retardado nunca poderia compor aquelas músicas
sozinho. Aí, no dia seguinte, se descobre que isso foi uma notícia
completamente mentirosa. Esse mesmo alguém jamais irá dizer que errou e
que na verdade o Caetano é incrível mesmo. O importante não é ter uma opinião fundamentada, o importante é ter opinião. Qualquer que seja.
De preferência que bata em alguém. E, mesmo se a sua opinião é boa,
haverá um comentário de alguém dizendo que a sua opinião é um lixo e
você é um idiota. E, como se não bastasse o público em geral, alguns
jornalistas/formadores de opinião tecem comentários e escrevem artigos
em cima de casos completamente deturpados.
Recentemente, a apresentadora Regina Casé
foi envolvida em uma confusão por causa de uma matéria equivocada que
saiu no jornal. Ela teve que dar explicações sobre um fato que não
ocorreu. Quer dizer, você tá lá no seu canto, fazendo suas coisas,
alguém resolve te atacar pra conseguir cliques numa matéria torta e, o
pior de tudo, quem se sai mal nessa história é você, que tava na boa,
quietinho e agora vai ter que se justificar e mostrar que nada daquilo
tem sentido. O que fica para o público é que provavelmente a Regina deve
ser a errada, afinal ela teve que se defender. O jornalista, ninguém
nem sabe quem é e nem precisou falar nada, porque pra ele não fez a
menor diferença. Um dia, vi uma chamada: Rafinha Bastos não estará na próxima edição de A Fazenda. Quer dizer, estamos vivendo a Era da não-notícia. A reencarnação do Buda também não estará na próxima edição de A Fazenda, o Papa Francisco também não e o Neymar também não.
Na
verdade, 7 bilhões de pessoas mais ou menos não estarão. A não ser que a
pessoa tenha anunciado que estaria, a notícia tem que ser quem vai
estar! Essa foi a notícia mais clicada no dia. Pena. Aliás, um abraço
pro Gugu Liberato!
Fonte: O Estado de S. Paulo – Caderno 2– Domingo, 16 de agosto de 2015 – Pg. C6 – Internet: clique aqui.
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