Dominique Wolton*
Dominique Wolton, óculos redondos, rosto de professor Cosinus [personagem da história em quadrinhos francesa Tintin], mais sorridente e menos iluminado, foi entrevistado em um café perto da Porte d’Auteuil. Apaixonado e determinado, lança suas reflexões como outros disparam uma metralhadora, com rajadas e balas reais. Sua palavra é viva, segura, de cadência rápida. Sobre a mesa, seu último livro. Apressado, evoca suas pesquisas, alfineta os jornalistas e políticos que “não escutam os homens de ciência...”, passa de um assunto a outro, desenvolve um pensamento que nem sempre é fácil de compreender.
Nascido em 1947, em Duala, Camarões, é um dos pioneiros na França a se debruçar sobre a “comunicação”. Não a “.com”, mas esta atitude que os homens têm para entrar em relação. “Comunicar é dirigir-se a um outro que não nos compreende porque não é nós mesmos. É construir uma relação com o outro sabendo que ele é um outro. Comunicar, no fundo, é aprender a conviver”.
Uma preocupação cujas raízes, confessa, remontam à sua infância africana. “No Camarões, quando menino, fiz a experiência, sem o saber, da alteridade. E com ela, da dificuldade de se compreender”. Uma questão que ele retoma sob a direção de Alain Touraine no EHESS no começo dos anos 1970, antes de entrar no CNRS, em 1979. Dois livros o fazem sair do anonimato: Le Spectateur engagé, um livro de entrevistas com Raymond Aron, e La Folle du logis, um ensaio sobre a televisão que rapidamente se transformou na bíblia de todos os estudantes em comunicação e jornalismo.
“Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, mais lenta se torna a comunicação humana”
Com o passar dos anos, a partir dessas obras e desses trabalhos, Dominique Wolton construiu seu objeto de estudo: “Os cientistas criaram as ciências humanas, as ciências naturais... mas ainda não as ciências da comunicação. Ora, esse terreno de estudo é fundamental em nossa sociedade”. O que comunicar? Como podemos nos compreender? O que sabemos do “receptor”? São questões urgentes e candentes em tempos de meios de comunicação de massa. “Quanto mais as tecnologias se aperfeiçoam, tanto mais a circulação da informação é rápida e tanto mais lenta é a comunicação humana.”
Os progressos vão mudar esta situação? Não, diz ele. “Os progressos da técnica, longe de gerar uma aldeia global, como pensava McLuhan, nos mergulham na torre de Babel. A multiplicação dos canais de informação, como o mostra a internet, favorece comunidades e redes. Permanecemos entre nós”. Por essa razão, Dominique Wolton é um advogado incansável das grandes mídias generalistas: “Elas exercem um papel capital em nossa sociedade. Seu desafio, que é o desafio da comunicação, é colossal: como se dirigir a todos quando cada um é diferente?”.
A televisão criadora de vínculo social
Longe de desprezar a televisão, ele foi um dos primeiros a definir seu papel na cidade: criadora de vínculo social. “Como a imprensa generalista, ela permite ao cidadão sair de seus interesses pessoais e ir ao encontro da coletividade.” O lugar do leitor, do ouvinte, do telespectador é central nessas pesquisas. E ele é hoje um dos poucos a pensar sinceramente que os telespectadores são mais inteligentes e menos influenciáveis do que se acredita.
“O telespectador não é ingênuo. Ele não adere incondicionalmente e sem distância ao que lhe é mostrado: não é porque ele assiste que ele adere! Como em todas as indústrias da cultura, não é a demanda que cria a oferta, mas a oferta que cria a demanda.”
Uma afirmação feliz e rara que colide com o discurso pessimista dominante. Tantos temas abordados com brio em seu último livro. Se Dominique Wolton se inflama quando fala sobre as mídias, o pesquisador é mais reservado quando fala de si.
Entrevistador de Jean-Marie Lustiger em Le Choix de Dieu, o sociólogo não esconde que é católico. “Uma confissão que não é simples no mundo científico. Pouco me importa. Eu o sou, é tudo!” Ainda uma aposta de comunicação, de convivência.
*Dominique Wolton, pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa)
A reportagem é de Laurent Larcher e publicada no jornal francês La Croix, 27-03-2009. A tradução é do Cepat.
Postado no IHU/UNISINOS, 04/04/2009
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