Affonso Romano de Sant’Anna
“O aluno está errado
porque a professora fez bem e
m optar pela vida
e não pela morte,
em optar pela solidariedade
e não pela fraude e pelo crime”
Não é só aqui. É em toda parte. Aqui até que são menos violentas, apesar de, por exemplo, no Rio, professores ganharem mais por trabalharem em “área de risco”. Nos Estados Unidos, é aquele horror. Lá, as escolas têm detetores de metal porque os alunos vão armados como se fossem para a guerra. A última vez que entrei numa universidade lá, fiquei chocado: portas que só abrem com senhas e, se você não tem um cartão, tá fora, não entra nem na biblioteca.
Na França, por exemplo, a violência nas escolas virou epidemia. Leio agora que Sarkozy foi visitar o Liceu Gagny, que uma semana antes havia sido invadido por uma gangue em “expedição punitiva”. Detalhe: “expedição punitiva” era o termo que os fascistas italianos usavam quando saíam para bater e matar os adversários. Na França, há 100 escolas consideradas nichos de brutalidade. Vejo fotografia de diretores feridos pelos alunos. Claro, os alunos se justificam: “O professor passa todo o tempo a nos humilhar, dizendo que não servimos para nada”. É verdade, o ensino francês (e de alguns outros países) curte isso. Na França e na Inglaterra, ainda há pouco havia (ou há?) a palmatória.
Vamos ser honestos: o ensino que havia em algumas escolas estava mais para tortura medieval. Um autoritarismo criminoso, sádico, sobre adolescentes aterrorizados. Que o digam os que estiveram em internatos. Há uma vasta literatura e filmes sobre isso, além do recente Entre os muros da escola, que está mexendo com a cuca de tanta gente.
Na novela Caminho das Índias, apresentaram uma cena em que um aluno, repreendido, debocha da professora, alegando que não vai estudar, optou pela vagabundagem porque vai se virar melhor do que a professora que ganha uma miséria. O aluno está certo, pois, enquanto a profissão da professora não for valorizada, inclusive salarialmente, parte da crise não será resolvida. O aluno está errado porque a professora fez bem em optar pela vida e não pela morte, em optar pela solidariedade e não pela fraude e pelo crime.
Outro dia tive uma experiência contrastante: participei do lançamento de uma antologia, A escola e a letra (Editora Boitempo), para a qual Flavio Aguiar e Og Doria selecionaram textos de autores brasileiros relatando como se dava o aprendizado antigamente. Num lançamento lá em São Paulo, no entanto, depois de ter lido para o público o poema Gymnasium, que está nessa seleta, me dei conta de que estava falando de uma escola totalmente diferente da de hoje. Uma escola em que havia hierarquia e disciplina. Reprovações, repreensões e castigos eram aplicados. Ou seja, havia uma ordem, mas, convenhamos, a violência era do sistema, da instituição. E isso não era visto como violência, posto que tal educação produzia resultados para a comunidade. Os alunos tinham que se submeter. Entendia-se que a educação pressupunha isso.
A partir dos anos 1950 começou o “liberou geral”. Em muitos aspectos, houve melhoras, em outros, piora. A questão, enfim, que deve ser discutida em intermináveis seminários, é esta: será que o ser humano só produz e se organiza socialmente por meio da repressão?
Ou então: por que confundimos liberdade com permissividade e democracia com licenciosidade?
Por que à primeira brecha no sistema viramos uma horda primitiva?
Não é possível encontrar um meio-termo saudável e responsável entre o autoritarismo e a repressão de ontem e a rebeldia irracional das gangues?
* Affonso Romano de Sant’Anna escreve quinzenalmente neste espaço
http://www.correiobraziliense.com.br/impresso/ 19/04/2009
Enviamos informações que são do seu interesse.
ResponderExcluirAtt.
A RITLA (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), em parceria com a Secretaria de Estado de Educação/GDF, está realizando um Plano de Convivência Escolar na Rede Pública de Ensino. O projeto busca incentivar, em escolas de ensino fundamental e médio, processos de boa convivência e a prevenção de violências. Parte do processo foi a realização de pesquisa qualitativa e quantitativa, representativa de todos os alunos e professores da rede pública de ensino do DF, entre a 5a série do Ensino Fundamental e o 3o ano do Ensino Médio. A amostra pesquisada foi constituída por seis escolas por Diretoria Regional de Ensino - DRE (quatro de Ensino fundamental – séries finais – e duas de Ensino Médio). A pesquisa dedicou-se à realização de um diagnóstico sobre a convivência escolar, o que consistiu em investigar as relações sociais, os conflitos expressos e latentes no ambiente escolar, identificar as percepções de alunos, professores e do corpo técnico-pedagógico sobre o conflito e a violência, mapear os tipos de incidentes ocorridos, freqüência e gravidade dos mesmos.
De junho a setembro de 2008 foram aplicados cerca de 10 mil questionários para alunos e 1300 para professores, em 84 escolas amostradas, além de terem sido realizadas entrevistas e grupos focais com alunos e professores.
A iniciativa de desenvolver uma pesquisa sobre convivência escolar e violência nas escolas com a finalidade de embasar ações concretas, levada a cabo pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, é um empreendimento pioneiro no Brasil. Corresponde a uma etapa fundamental para compreender e retratar a realidade como passo importante na tentativa de estimular uma atmosfera não-violenta nas escolas e a criação do hábito do diálogo e da resolução de conflitos, contribuindo, assim, para a melhora da qualidade de ensino e de aprendizagem e evitando que problemas comuns ao cotidiano cresçam e se desdobrem em desfechos graves.
A pesquisa dedicou-se à realização de um diagnóstico sobre a convivência escolar, o que consistiu em investigar as relações sociais, os conflitos expressos e latentes no ambiente escolar, identificar as percepções de alunos, professores e do corpo técnico-pedagógico sobre o conflito e a violência, mapear os tipos de incidentes ocorridos, freqüência e gravidade dos mesmos.
O resultado final da pesquisa será apresentado em um livro a ser lançado ainda no mês de maio/2009.
Neste âmbito, foram promovidos seminários intitulados Convivência Escolar: debatendo resultados e pensando alternativas, que ocorreram de outubro a dezembro de 2008 com o objetivo de sensibilização e aprofundamento do debate sobre violência e convivência escolar, a partir dos resultados iniciais do diagnóstico que integra o Plano de Convivência Escolar na Rede Pública de Ensino no DF. A devolução dos dados para diversos atores envolvidos na esfera da Educação e no cotidiano escolar constituiu-se em uma fase essencial no trabalho, tanto para divulgar e discutir as principais características do quadro de realidade das escolas quanto para identificar uma série de pontos que demandam maior atenção. Com resultado final da pesquisa novos seminários serão realizados.
Entre as atividades previstas para 2009 podemos destacar o Curso Juventude, Diversidade e Convivência Escolar, com início em maio/2009. O curso será ministrado por especialistas nas temáticas, sendo organizado, monitorado e coordenado pela RITLA em parceria com a SEEDF. Visa formar um grupo de 640 professores e coordenadores das séries finais do Ensino Fundamental, estimulando-os na complexa discussão sobre violências nas escolas e instigando-os à reflexão aprofundada sobre o tema.
Importantes temas serão tratados no curso como: violência e sociedade, juventude, família e escola, violência e discriminação no ambiente escolar, gênero e sexualidade na escola, convivência escolar, mediação, drogas e trafico no contexto escolar, gangues, adolescentes em conflito com a lei, entre outros. As discussões terão como produto final um projeto de intervenção social a fim de colaborar com a construção de uma boa convivência no contexto.
Este curso busca colaborar com a construção de melhores relações no ambiente escolar, a fim de que a escola passe a ser um local de proteção e protegido e que todos os atores sociais possam discutir e dialogar sobre os fenômenos cotidianos que acontecem no contexto.
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