Gustavo Guiotto*
Do que a música de hoje é feita? De onde vem a matéria-prima do hoje? Será que tudo que escutamos não parece com algo que já foi criado no passado?
Já venho me perguntando a algumas semanas se há algo de novo na nossa música brasileira. Na realidade, na música em geral, seja brasileira ou mundial. E a resposta que encontrei depois de alguns devaneios e observações mais profundas é sim, tem muita coisa nova na música. Todos os dias nascem músicas novas em todos os cantos do mundo e, nos tempos de hoje, podemos escutar o que quisermos, música instrumental, música cantada, música inteligente, música estúpida, música triste, música alegre, música boa e música ruim, através da internet com muita facilidade. Agora vem a parte mais interessante do que noto na música atual: ela é sempre calcada na música que foi feita no passado. Sempre se busca uma sonoridade antiga. Um timbre vintage, seja de um piano elétrico, seja em efeito para guitarra, no contrabaixo ou no estilo de gravação. Claro, tirando uma minoria de artistas inovadores que fogem desta cartilha, a maioria busca voltar no tempo para criar coisas novas. Nada mais saudável e natural, mas às vezes tenho impressão de que as coisas continuam antigas ou pelo menos com “sabor” antigo.
Muitos dos artistas que buscam novidades na sonoridade não são reconhecidos pelo grande público e são taxados de “experimentais de mais”. Outros misturam tantos ritmos e sonoridades que vira uma bagunça.
Não estou dizendo que não aprecio o antigo, pelo contrário, eu mesmo adoro coisas antigas. Na realidade, escuto muito mais velharias do que música nova. Porém, sinto que a música precisa se reinventar e não somente o modo como a consumimos. Precisamos de algo realmente novo. Timbres diferentes, sonoridades mais atuais. Deixemos aquele piano antigo, aquela guitarra rachada dentro do baú. A música precisa disso. Precisamos sair do marasmo musical, do tédio, do vácuo em que a música se encontra.
Que nós tragamos para o nosso dia-a-dia o que o velho tem de bom mas que andemos para frente buscando a “sonoridade” mais adequada para os dias de hoje.
Pensei nisto tudo quando ouvi pela primeira vez o projeto criado por Rodrigo Amarante (Los Hermanos), do Fabrizio Moretti (The Strokes): Little Joy. As músicas são realmente boas, mas não parece que tu já ouviu em algum lugar?
*Músico.
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