"Hegel diz, numa passagem célebre (Wissenschaft der Logik, II,58) que a contradição é tão essencial à realidade quanto a identidade. Com efeito, se tivéssemos de escolher, entre estas duas, a mais importante, escolheríamos a contradição, pois ela é a fonte de toda a vida e de todo movimento.
Mas isso soa contraditório. Hegel considera a contradição a fonte do movimento porque o que quer que esteja em contradição tem de transformar-se em alguma outra coisa, seja essa passagem a passagem ontológica entre níveis de ser que seguem existindo coetaneamente, seja a passagem histórica entre diferentes estágios da civilização humana. Mas parecia impossível ter ambas as coisas. Se a contradição é a fonte das passagens de um nível a outro, é precisamente por ser fatal à continuidade da existência, ou assim se julgaria com base no princípio do senso comum segundo o qual nada que é contraditório existe. Hegel parece usar esse princípio do senso comum quando explica passagens dialéticas dessa maneira. Contudo, por outro lado, as coisas seguem existindo (na cadeia do ser, se não na história) mesmo depois de terem sido sentenciadas como contraditórias, e, com efeito, afirma-se que a contradição está em todo lugar. Como podemos conciliar estas afirmações?"
(Do livro:Hegel e a sociedade moderna. Charles Taylor. Trad. Luciana Pudenzi, Ed. Loyola, SP, 2005, pp. 61/62)
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