LULI RADFAHRER*
ESPECULA-SE MUITO hoje em dia sobre o fim da web, embora a questão seja de importância discutível. O nome WWW -sigla para "rede de alcance mundial"- sempre foi exagerado. A definição mais correta para ela seria a de um grande aplicativo, flexível, aberto e maleável, disponível pela rede, ao alcance de todos. A web não é nem nunca foi a internet, essa sim a grande revolução em tecnologias de comunicação que redefiniu boa parte dos processos do mundo atual, sem a qual seria dificílimo imaginar o cotidiano.
Nada disso. A tal "internet gráfica" sempre foi, como o e-mail, mais uma dentre as várias funcionalidades da internet. Entre os especialistas, os dias dessas tecnologias, como os de tantas outras, sempre estiveram contados. O que poucos imaginavam é que seriam tão populares. Ou que durariam tanto. A web, afinal, sempre dependeu de computadores e browsers. À medida que surgem outros aparelhos e aplicativos, era natural que ela perdesse seu posto. Quem usa o Twitter a partir de seu BlackBerry ou manda e-mail a partir de um videogame usa informações da internet, sem passar pela web.
"Para se progredir no digital,
é fundamental aprender a
questionar o humano."
O fim da web, enfim, é tão relevante quanto o fim dos disquetes ou do PageMaker. O problema não está em sua morte, mas em quem vem para substituí-la. E talvez aí estejam motivos para preocupação.
A web sempre foi um ambiente criativo, libertário, aberto, flexível, quase hippie. O cenário on-line que se vê hoje é bastante diferente. Nos EUA (leia-se: você, amanhã) os 12 sites mais acessados são responsáveis por 75% do tráfego. Não são muito diferentes de canais de TV. Google, Twitter e Facebook -onde a maioria está quando diz estar "na internet"- são empresas privadas e podem ser bloqueadas ou mudar de regras a qualquer instante. Neles, como em boa maioria do resto que defende a independência de conteúdo, o que se discute é cada vez mais raso e simplório.
A web é só mais uma tecnologia. Não é panaceia nem seria capaz de melhorar a humanidade, pelo menos não em tão pouco tempo. Talvez ao expor publicamente o que tanta gente (não) tem a dizer, mostre que qualquer revolução que se pretenda duradoura precisa de alicerces profundos e evolução mais consistente. Para se progredir no digital, é fundamental aprender a questionar o humano.
______________________*Articulista da Folha
- folha@luli.com.br
Fonte: Folha online, 01/12/2010
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