Nossas vidas sociais estão cada vez mais nas telas
Imagem da Internet
AUTOR COMENTA MUDANÇAS CAUSADAS
PELA INTERNET E
ADAPTAÇÕES DO
NOSSO CÉREBRO À LÓGICA DA REDE
Nicholas Carr tem em seu currículo nomes invejáveis.
Escreveu um livro que virou best-seller do "Wall Street Journal", colaborou com "Wired" e "New York Times Magazine" e deu palestras em instituições como MIT, Harvard e Nasa.
Tudo isso por causa de seus pressupostos que geraram conclusões inusitadas.
Seria possível comparar a chegada da eletricidade à da internet? Sim, claro. Assim surgiu seu best-seller, "The Big Switch". Estaria o Google nos tornando burros? Outro livro! Em "The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains" (o que a internet está fazendo com o nosso cérebro, em tradução livre), ele nos mostra como os hábitos adquiridos com a internet estão nos deixando mais distraídos.
Pode-se não concordar, mas o homem tem opiniões muito bem fundamentadas.
Os brasileiros terão a oportunidade de conhecê-lo hoje, no evento Info Summit, que ocorre no Renaissance São Paulo Hotel, em São Paulo. Confira, abaixo, trechos da entrevista que Carr concedeu à Folha:
Folha- No seu livro "The Big Switch", você compara a revolução causada pela chegada da eletricidade à da internet. A internet teria causado uma revolução por não ser mais preciso instalar programas nos computadores, já que tudo ocorre na nuvem. Como você encaixaria as redes sociais neste processo?
Nicholas Carr - A internet social só se tornou possível pelo fato de os computadores passarem a ser tratados como utilitários. O fato que possibilitou a origem de redes sociais como Facebook e Twitter é que os dados estão sendo processados e armazenados em uma central. Isso permite que diferentes pessoas usem a mesma aplicação e dividam os mesmos dados simultaneamente. Isso é um serviço de computação em nuvem, o que é bastante diferente do que ocorria quando precisávamos instalar aplicativos nos nossos computadores.
Que outras mudanças causadas pela revolução da internet ainda vamos ver?
É mais uma progressão do que algo radicalmente novo. Acho que a grande mudança pela qual estamos passando é a transformação dos celulares em computadores com várias funções.
"Como a internet nos acostuma
a estar constantemente distraídos
e consumindo pequenos pedaços de informação
a uma corrente constante,
nossa mente se habitua a
consumir informação desse jeito."
Ainda sobre seu livro, você pode citar algumas das diferenças entre as revoluções causadas pela eletricidade e pela internet, além do óbvio? Acha que estamos preparados para a revolução?
Bom, existem as diferenças óbvias entre a corrente elétrica e as informações que circulam nas redes da internet. No geral, são dois serviços que podem ser centralizados -e acho que é isso um pouco o que estamos vendo hoje, estruturalmente. Mas, obviamente, as informações que rodam pelas redes de computador são mais sensíveis -existem questões de segurança e privacidade.
Isso também significa que, quanto mais os serviços e as empresas adotam as redes de computadores, mais existe automação e esses serviços podem ser transferidos para qualquer parte do mundo rapidamente. E eu não acho que estamos preparados para as consequências desse processo. Em termos, por exemplo, de criação de riqueza. Existe a possibilidade de vermos cada vez mais empregos, até mesmo alguns mais sofisticados. Meu palpite é que haverá esse impacto na economia.
Além dos impactos nas questões culturais, intelectuais e sociais envolvidas, na medida em que cada vez mais nossa vida social é conduzida por meio das telas.
No seu livro mais recente, você fala sobre como o nosso uso da internet muda nossas funções neurológicas. Como acontecem esses tipos de mudança?
Quando adquirimos novos hábitos de pensamento, nossas funções neurológicas são rápidas ao se adaptarem a tais hábitos. Como a internet nos acostuma a estar constantemente distraídos e consumindo pequenos pedaços de informação a uma corrente constante, nossa mente se habitua a consumir informação desse jeito. A parte ruim, na minha visão, é que começamos a sentir dificuldade para nos concentrarmos e filtrarmos as distrações. Essa é a grande mudança pela qual estamos passando.
RAIO-X NICHOLAS CARR
QUEM É Autor e palestrante norte-americano que escreve livros e artigos sobre assuntos como tecnologia e cultura
FORMAÇÃO Passou pelas universidades de Dartmouth e Harvard nos Estados Unidos
NA MÍDIA Colaborou com publicações como "New York Times Magazine", "Wired", "The Financial Times", "Die Zeit", "The Guardian" e "The Industry Standard"
SITE nicholasgcarr.com
______________________________RAIO-X NICHOLAS CARR
QUEM É Autor e palestrante norte-americano que escreve livros e artigos sobre assuntos como tecnologia e cultura
FORMAÇÃO Passou pelas universidades de Dartmouth e Harvard nos Estados Unidos
NA MÍDIA Colaborou com publicações como "New York Times Magazine", "Wired", "The Financial Times", "Die Zeit", "The Guardian" e "The Industry Standard"
SITE nicholasgcarr.com
Reportagem por AMANDA DEMETRIO DE SÃO PAULO
Fonte: Folha online, 01/12/2010
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