quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Afinal, o quê?

Ruy Carlos Ostermann*

Participo comedidamente da aflição nacional pela realização da Copa do Mundo, em 2014, aqui mesmo. Participo porque é o que os jornais publicam, e, agora mesmo, a presidente Dilma Rousseff, acompanhada do ministro dos Esportes, Orlando Silva, estava assumindo em Bruxelas diante da FIFA o compromisso de que tudo estará em condições de uso. Os estádios e os entornos (gosto da palavra, ela quer dizer quase tudo e nada), os aeroportos, a mobilidade urbana de ruas, canais e elevadas, os restaurantes (os muito chiques, menos que chiques, razoáveis, populares e muito simples, mas de boa comida brasileira – feijão, arroz e carne assada), as vias expressas, as grandes paisagens, o mar e as lagoas, os ventos do inverno.
Palavra da presidente, do ministro, repetida já não sei quantas vezes, mas, desta vez, na frente das maiores autoridades europeias. Não aumenta a responsabilidade nem deixa contra a parede. Alguém deve assumir que tudo está andando, embora não se perceba com facilidade, só com boa vontade, que, aliás, tem faltado nos mínimos e nos máximos aos jornais do dia, sem falar dos noticiários das TVs que obedecem a outros entendimentos gerenciais. Mas é do jogo e o que é dele, ninguém tira.
Mesmo em matéria tão controvertida, que permite assumir todas as direções e quase todas as conclusões, com base na impressão, no sentimento, na ansiedade, no mau-caratismo, no oportunismo ou nesse desejo inconfessável de ser o primeiro, fico comedido. Não tenho opinião sobre a metade do que se afirma, do que se especula e do que se mente com base em possíveis realidades. Essa é uma hora em que muitos se lembram que somos brasileiros e sempre procedemos assim, na última hora ou minuto. Ou não fazemos nada.
Deve haver alguma coisa errada em toda essa aflição nacional. Somente ganância de empreiteiras e mão gorda de políticos e dirigentes, não pode ser. E será o quê, então?
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* Formado na UFRGS, foi assistente do professor Ernani Maria Fiori na cadeira de Introdução à Filosofia. Lecionou Filosofia no Colégio Israelita Brasileiro e no colégio João XXIII e foi professor de Psicologia da Educação na UFRGS.

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