Corrente francesa

Juremir Machado da Silva*

Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER

Conhece esta corrente, caro leitor? "Em 2011, os meses de julho e outubro serão diferentes. Dê uma olhada no calendário e veja isto: o mês de julho teve cinco sextas, cinco sábados e cinco domingos. Isso só acontece uma vez a cada 623 anos. Os chineses chamam essa exceção de ''sacos de dinheiro''. O mês de outubro terá também a sua exceção: cinco domingos, cinco segundas e cinco sábados. Isso só acontece uma vez a cada 823 anos. O ano de 2011 conta, além disso, com quatro datas inabituais: 1/1/11, 11/1/11, 1/11/11 e 11/11/11. Agora, divirta-se um pouco. Pegue os dois últimos números do ano do seu nascimento e adicione a idade que você atingirá neste ano. Exemplo: 66 + 45. A soma será a mesma para todos: 111. Anos assim são conhecidos como de ganho. Um provérbio diz que se você enviar esta mensagem a oito bons amigo, choverá dinheiro nos quatro dias seguintes. Segundo a regra de Feng Shui, aqueles que quebrarem a corrente nada receberão e ainda terão problemas financeiros. É um mistério. Mas vale a pena continuar."

O aspecto que mais interessa dessa corrente é a sua origem. No passado, recebi mensagens assim de Edgar Morin, o grande pensador francês da complexidade, o mago da racionalidade aberta e sensível. Morin é daqueles que, pragmáticos, acreditam no "se bem não faz, mal não faz...". É o princípio da precaução e do gole para o santo. Desta vez, porém, a mensagem não veio do velho Edgar. Veio de outro francês. A cartesiana França está na New Age, que, se pensarmos na China, de nova tem muito pouco. Há a possibilidade de que os franceses, apaixonados por matemática, espalhem essa corrente por causa da magia dos números que ela contém. Eu fiz o teste: 62 (minha data de nascimento) + 49 (minha idade) = 111. Fiquei maravilhado. Peguei anos de nascimento e idades de várias pessoas. Tudo na mosca: 111. Aí fiz algo inabitual: comecei a pensar. Ano que vem terei 50 anos: 62 + 50 = 112. Peguei a data de nascimento de um amigo: 52 + 60 = 112. Descobri o óbvio. Não sou mesmo um gênio?

Claro que não. Quer dizer, não por essa descoberta. O futuro, algo entre 623 e 823 anos, ainda reconhecerá a minha genialidade. Devo receber um Nobel póstumo lá por 2634. Meu amigo Patrick Tacussel, professor da Universidade de Montpellier, um erudito, um enciclopedista (não confundir com vendedor de enciclopédias, ainda que Diderot tivesse de cuidar dos negócios), dono de uma extraordinária cultura e de uma vasta biblioteca, diverte-se enviando essas pegadinhas para testar o raciocínio dos incautos. Em todo caso, por precaução, tratei de repassar a mensagem a todos os meus leitores, que já andam em 32, de modo a proteger o meu cartão de crédito, de pouco uso, pois sou conservador e quase só utilizo cartão de débito. Outubro é um mês especial. Pode não chover dinheiro. Se não chover no começo da Feira do Livro já será um grande negócio. A Feira terá os dias 1/11/11 e 11/11/11. Não é incrível?

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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Tradutor. Cronista diário do Jornal Correio do Povo.juremir@correiodopovo.com.br

Fonte: Correio do Povo on line, 06/10/2011