quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Incêndio no mundo dos tablets?

JULIO VASCONCELLOS*

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Aumenta a expectativa sobre qual será
a resposta da Apple ao desafio lançado
pela Amazon e seu tablet

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Na semana que passou, a internet e o mundo pararam para homenagear Steve Jobs e lamentar sua morte. Na sequência, em outra forma peculiar de homenagem, apareceram as primeiras piadas envolvendo o fato. Em uma delas, ao chegar ao céu, são Pedro apresenta Jobs a Moisés como "o cara que vai fazer um upgrade nos seus tablets".
O quadrinho faz um trocadilho com as palavras tablet do dispositivo eletrônico e as tábuas contendo os dez mandamentos, ambas representadas em inglês pelo mesmo termo, tablet.
O quadrinho suscita várias possíveis leituras. Há, por um lado, o aspecto quase religioso com que Jobs construiu a marca da Apple. Seus consumidores são fiéis não apenas no sentido de lealdade à marca mas também de reverenciá-la e fazer adorações aos seus "templos", as Apple Stores.
Os eventos de divulgação dos novos produtos da empresa não tinham uma natureza de lançamento, e sim de revelação, com as tradicionais "pregações" de Steve.
Há também uma outra reflexão que o quadrinho suscita. Assim como fez com outros segmentos, Jobs inaugurou uma nova era ao conceber o iPad. Ao criar um novo mercado onde aparentemente não havia um, a Apple conquistou uma dianteira até aqui imbatível. Segundo previsões da Gartner, sairão da empresa de Cupertino mais de 75% dos 64 milhões de tablets que, segundo se estima, serão comercializados em 2011.
Por coincidência, na mesma semana em que Jobs morreu, apareceu a primeira empresa/produto a desafiar a primazia da Apple no mundo dos tablets. Jeff Bezos, presidente-executivo da Amazon, subiu ao palco e apresentou ao mundo o seu Kindle Fire. O estilo de apresentação lembrava o de Jobs, mas as semelhanças paravam por aí. A estratégia do produto era radicalmente diferente.
A Apple sempre investiu em inovação e assim criou produtos únicos e cobrou caro por isso. A Amazon, não apenas no caso do Fire, apostou na massificação por meio de preços extremamente agressivos. Por conta desse posicionamento, a "Economist", em edição recente, chamou a empresa de "Walmart do mundo virtual". Mas a ameaça estaria apenas na estratégia de preço? Não faria sentido. Outros já tentaram oferecer dispositivos por preços baixos sem grande êxito. Um fabricante indiano anunciou até mesmo que, com ajuda de subsídios governamentais, vai ofertar seu produto por apenas US$ 35.
O Kindle Fire reúne outros atributos que vão além do custo (US$ 199 no mercado norte-americano). Embora sua loja de aplicativos ainda não seja tão diversificada como a Apple Store, o acervo de conteúdo de áudio, vídeo e livros oferecidos pela sua fabricante é impressionante. Nessa última categoria, de livros em versão eletrônica, a Amazon é simplesmente imbatível.
Não nos esqueçamos que a empresa viabilizou a existência desse mercado de e-readers com a criação do Kindle tradicional e o ecossistema que o acompanha.
Afora o conteúdo, há também a capacidade de logística e distribuição da Amazon, combinada à visibilidade do próprio site, que talvez seja uma das "vitrines" mais poderosas do mundo.
Como suporte às funcionalidades a serem desenvolvidas por programadores mais criativos para o Kindle Fire também está toda a infraestrutura de computação nas nuvens da Amazon S3, uma das mais robustas em funcionamento e diretamente integrada ao dispositivo. Após a partida de Jobs, aumentou ainda mais a expectativa em torno de qual será a resposta da Apple ao desafio lançado pela Amazon. No passado, ao enfrentar esses embates com concorrentes, a empresa sempre surpreendeu ao conceber inovações inusitadas e incrivelmente criativas.
Esperamos que Steve Jobs tenha deixado discípulos capazes de fazer jus a tal legado e seu novo desafiante, Jeff Bezos.
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*JULIO VASCONCELLOS, 30, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.
Fonte: Folha on line, 13/10/2011
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