quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Lugar da poesia

Ruy Carlos Ostermann*
A moça, e quase sempre são as moças que tem a coragem de romper com a cerimônia da distância e do silêncio - não me peçam justificativas, que não tenho, só me respeitem no registro a que me obrigo diante da moça, alta, de saltos vertiginosos, óculos lindo, de grau com moldura amarela e uma profundidade atrás das lentes que escodiam a naturalidade de seus olhos, no fundo -, sem bloquinho de notas nem a Bic quase irreparável nessas circunstâncias, de pé, sorridente, quase do meu tamanho e perguntando com um sorriso cúmplice e de agrado:
- Como se faz para ser poeta?
Lembrei-me, então, por camadas sucessivas que tive de ir removendo da minha frente, daquela manhã no Tribunal de Contas em que me empolguei um pouco e comecei a pensar em transversal, pelo outros lados dos assuntos sugeridos - a transparência, a fiscalização, a ética, a coragem e a prestação de serviço público. Foi uma manhã intensa, eu de um lado, o Jarbas Lima de outro, ambos empenhados em corrigir o mundo dessas contas e dar a maior solidariedade.
Mas teria sido lá que a moça surpreendeu essa dimensão da experiência humana que vai para os lados da poesia?
Achei que não, mas detive minha resposta com receio de cair de quatro numa obviedade medíocre. Ela fez olhos ainda mais profundos, sem arredar o pé direito que se adiantava ao esquerdo com graça e naturalidade.
- E, então, a poesia?
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* Jornalista. Cronista. Colunista da ZH
Fonte: http://www.encontroscomoprofessor.com.br 13/10/2011
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