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Jovens estão expostos ao conteúdo de influenciadores masculinistas, que divulgam visões retrógradas e potencialmente nocivas sobre masculinidade e relacionamentos (Foto: Pixabay)
É uma nebulosa. Influenciadores e produtores de vídeo engajados na defesa de uma identidade masculina que consideram ameaçada. Frequentemente ligados à extrema direita, suas principais figuras vêm em socorro do patriarcado, soldados valorosos de uma guerra feroz, às vezes cínica, inteiramente dedicada à causa dos homens
Ao saber do apoio de Éric Ciotti1 ao partido francês de extrema direita Reunião Nacional (RN), Julien Rochedy não escondeu a alegria: “Meu sonho político há mais de dez anos”, exultou em sua conta no X (137 mil seguidores). O dinâmico trintão, diretor da juventude da então Frente Nacional (atual RN) no início dos anos 2010, deixou o partido de extrema direita em 2014, principalmente para protestar contra a presença de “garotos ao redor de Florian Philippot”,2 “pessoas que não são homens segundo [seu] coração”. Desde então, Rochedy tentou criar uma escola de masculinidade e sedução (a escola Major), um projeto que não teve sucesso, apesar de sua receita original (“coragem”, “espírito de conquista”, “vontade de potência”). Atualmente, ele segue uma carreira de videomaker na internet e publica livros pela Éditions Hétairie: L’Amour et la guerre. Répondre aux féministes [O amor e a guerra. Responder às feministas], de 2021; Veni vidi vici. Menaces sur les gauchistes [Veni vidi vici. Ameaças aos esquerdistas], também de 2021, com o blogueiro e influenciador Papacito; Surhommes et sous-hommes. Valeur et destin de l’homme [Super-homens e sub-homens. Valor e destino do homem], de 2023… Fica evidente que o ensaísta tem suas obsessões: ele quer restaurar o “ideal de uma virilidade saudável e aristocrática para a masculinidade, aquela do ‘homem total’ europeu, do grego ao cavaleiro medieval”.
Com os também influenciadores Papacito, Baptiste Marchais, Valek e Stéphane Edouard, Julien Rochedy representa a fina flor da esfera masculinista francesa (a “manosfera”), que fantasia um mundo regido por mulheres no qual a masculinidade estaria ameaçada, em um discurso que mistura homofobia, misoginia e frequentemente xenofobia e desejo de autoritarismo. Ideias cada vez mais compartilhadas, observa a antropóloga Mélanie Gourarier, que investigou durante vários anos grupos de sedutores. “Esse discurso se desenvolve há três décadas na França e mais amplamente na Europa e na América do Norte, em torno da defesa dos pais, dos homens e do masculino de forma geral. Aparentemente sem relação entre si, esses relatos vitimistas procedem da mesma ideologia masculinista, baseada na apologia da ‘causa dos homens’.” Uma reação “às lutas feministas” e a “várias décadas de opressão misândrica”.3
Alguns deles, os pick-up artists [artistas da sedução], viram aí uma oportunidade. Mediante pagamento, eles treinam seus pares, paralisados pelas novas regras do mercado sexual. Ao mesmo tempo estetas e caçadores, sua habilidade em “capturar” indivíduos femininos impressiona. Não hesitam em usar qualquer manipulação para “fisgar” mulheres e colocá-las em suas camas, trocando truques para vencer “a resistência de última hora”, aquela que poderia fazer sua presa fugir.
Os incels,4 por sua vez, resignam-se ao celibato e odeiam as mulheres que os privam das relações sexuais a que acham que têm direito. Em seus fóruns na internet, alimentam ideias sombrias. Como Elliot Rodgers (seis vítimas em 2014) e Scott Beierle (duas em 2018), nos Estados Unidos, e Jake Davison (cinco vítimas em 2021), no Reino Unido, os mais radicais cometem atentados e depois se suicidam. Nos tempos atuais, consideram que manter relações com mulheres constitui um perigo. Quantas carreiras destruídas após uma “feminazi” reclamar de um comportamento inapropriado? A justiça, totalmente misândrica, decidiria sistematicamente em favor das mães em caso de divórcio, privando os homens de seus filhos, enquanto os condena a pagar pensões alimentícias arruinadoras.
Na época de 1968, seguindo o modelo dos grupos de conscientização feministas, homens se reuniam para discutir o patriarcado e seus males. No entanto, “a iniciativa de se reunir entre homens”, explica Francis Dupuis-Déri, “abriu caminho para o desenvolvimento da ideologia masculinista e de uma onda antifeminista. Deve-se dizer que a não mistura para os grupos dominantes não tem o mesmo significado político nem o mesmo efeito que para os subordinados”.5 Observando a recorrência de “crises da masculinidade” em épocas e sociedades tão distantes quanto a Roma antiga, a Alemanha nazista e a Índia contemporânea, o cientista político zomba: “Os homens não estão em crise, eles fazem as crises”.
“A recorrência histórica do tema da ‘crise’ ou do ‘mal-estar’ da masculinidade destaca de fato o papel dessa motivação como um instrumento de resistência em relação à evolução das relações de gênero”, escreve Mélanie Gourarier. Essa retórica alarmista é um marcador e uma bandeira, a causa comum de um movimento social contrário que é encarnado, por causa da internet e das redes sociais, pelas figuras da “manosfera”.
Na França, o masculinismo on-line contribui para a batalha cultural da extrema direita. Veteranos eminentes abriram caminho para a jovem guarda. Antes de reeditar La France juive [A França judia], de Édouard Drumont, Alain Soral se alarmava com o destino dos homens em seus livros6 e filmava Confession d’un dragueur [Confissão de um paquerador] em 2001. Na época, os críticos da revista Les Cahiers du cinéma não odiaram a produção. Por sua vez, Éric Zemmour, candidato a presidente da França em 2022 pelo partido Reconquista, também de extrema direita, vinculava precocemente o destino do país à defesa da virilidade. Em seu livro Le Premier sexe [O primeiro sexo] (Denoël, 2006), aprendíamos que “tudo aconteceu como se os homens franceses e europeus, tendo colocado seu falo no chão, não podendo ou não querendo mais fecundar mulheres que se tornaram rebeldes, tivessem chamado para socorrê-los seus antigos ‘servos’, os quais haviam emancipado”. O L’Express (23 fev. 2006) observava então que, “no conformismo reinante, um pouco de insolência não faz mal”.
Entre os influenciadores masculinistas franceses, Anne-Thaïs du Tertre d’Escoeuffant, mais conhecida pelo pseudônimo de Thaïs d’Escufon, se destaca. Membro efêmera do Action Française e porta-voz da Génération Identitaire, movimentos da extrema direita francesa, ela agora luta na internet contra “a sociedade moderna, que tornou o homem miserável e a mulher sem princípios”.7 A crítica, novíssima especialista em relações homem-mulher, corre em socorro da masculinidade branca e, no processo, quadruplica seu número de seguidores.
Convencida de que “as feministas destruíram tudo”, Thaïs d’Escufon não negligencia nenhum canal. No X, no YouTube, no TikTok e no Telegram, ela ataca as mulheres “desvairadas” e avisa: “Um homem com um futuro brilhante merece uma mulher com um passado puro”. Os “homens médios” são zelosos e aprendem por conta própria a evitar as armadilhas das tchoins – o equivalente a “garota fácil” no dialeto marfinense… – para encontrar uma “mulher de alto valor” com quem construir uma família. Assim, ela exorta seus 64.900 seguidores no X: “Se uma mulher realmente te ama e você a trata corretamente, ela vai: cozinhar para você, dormir com você, apoiar seus projetos, te dar filhos, limpar a casa, te obedecer, te respeitar. É o mínimo. Caso contrário, vá embora”.
O algoritmo do TikTok não se preocupa com sutilezas: o modelo econômico da rede social preferida dos jovens de 15 a 24 anos incentiva a disseminação de conteúdos escandalosos. O último relatório do Alto Conselho para a Igualdade entre Mulheres e Homens sobre o estado do sexismo na França não convida ao otimismo. “Os reflexos masculinistas e os comportamentos machistas se enraízam, particularmente entre os jovens homens adultos, enquanto a atribuição das mulheres à esfera doméstica e ao papel materno ganha terreno.”8 No entanto, não é certo que o mérito seja apenas de Thaïs d’Escufon.
Em 26 de maio de 2024, Thibaud Delapart, também conhecido como Tibo InShape (20 milhões de seguidores), tornou-se o maior youtuber francês. Entre duas sessões de abdominais, ele participa da promoção do Serviço Nacional Universal (SNU, um programa oficial com atividades cívicas e educativas voltado para a juventude) em um vídeo patrocinado pelo governo, grava um vlog com a polícia e se emociona com a insegurança pública. Se encarna certa virilidade, o videomaker fitness também sente emoções como qualquer outra pessoa. Em junho de 2017, Delapart organizou o concurso Miss InShape para encontrar uma companheira: “Você é uma garota e tem pelo menos 18 anos? Faça um vídeo se apresentando e explicando por que você deve ser a nova senhora InShape, e os assinantes votarão para eleger a melhor candidata!”. Recentemente, ele compartilhou suas “questões íntimas” com a sexóloga Thérèse Hargot. “Como durar mais tempo na cama?”, perguntou. Sexo “é um trabalho em equipe”, ela responde. “As mulheres são responsáveis por sua sexualidade. […] Não é porque recebemos que devemos ser passivas. É como quando você recebe alguém em casa […], você decide o que serve de aperitivo e quando traz a sobremesa.”
Entre dominação e desconstrução, o patriarcado se reinventa
Banalizados pelos influenciadores, os conteúdos masculinistas proliferam agora na internet, especialmente em fóruns como Reddit ou jeuxvideo.com, favorecidos pelo uso de codinomes. “As redes sociais de grande público, como Twitter, Facebook, Instagram, TikTok e Snapchat, tornaram-se plataformas de promoção dessas ideias masculinistas”, observa um relatório do Instituto do Gênero em Geopolítica (IGG). “Uma situação ainda mais preocupante, pois a maioria dos usuários é jovem e as redes sociais são parte integrante de sua construção social.”9
Raewyn Connell, socióloga australiana, já observava em 1995 como a dominação masculina lida com a contestação de sua legitimidade. Segundo ela, “a masculinidade hegemônica encarna uma estratégia ‘aceita em um dado momento’. Quando as condições de defesa do patriarcado mudam, os fundamentos da dominação de uma masculinidade particular erodem”.10
Essa masculinidade hegemônica, constantemente renegociada, permite que a dominação masculina se reinvente e, ao mesmo tempo, se mantenha. Mélanie Gourarier aponta como “a nova injunção à afirmação de uma sensibilidade e emotividade propriamente masculinas não deve ser pensada como um enfraquecimento do masculino”. Pelo contrário, isso contribuiria para “a elaboração de uma nova normatividade masculina, em detrimento dos homens que não são capazes de apropriar-se dela por falta das disposições necessárias. Não basta ser homem para usufruir do poder que esse status proporciona, é preciso ser ‘corretamente’ homem”.
Ora, o espírito do tempo é de questionamento das violências sexistas e sexuais e das atribuições de gênero. Os empreendedores da web não podem ignorar isso. A comunidade de Benjamin Névert, “um cara ‘desconstruído’, um verdadeiro”, certifica o Le Monde (10 out. 2021), conta com mais de 560 mil pessoas no YouTube. O autor de Je ne suis pas viril [Não sou viril] (First, 2021) relata regularmente as dificuldades dos homens e as injunções que pesam sobre eles. Em seu programa Entre mecs [Entre os caras], seus convidados podem compartilhar suas dificuldades em dizer “eu te amo” e discutir temas variados, como paquera, sexo e separação amorosa. Ou falar do pênis.
“Hoje sou claramente um homem feminista”, argumenta “Ben” Névert. Prova disso é o filme de “realismo sensível, humano e comovente” que ele dirigiu em 2022 para a Dorcel. A líder francesa da indústria pornográfica, cujos colaboradores são acusados de estupro, proxenetismo agravado e tráfico agravado de seres humanos, pôde então adicionar ao seu catálogo a obra do influenciador: Vrai couple, vraie baise [Casal verdadeiro, foda verdadeira]. O patriarcado sofreu um grande golpe.
*Anne Jourdain é professora.
1 Presidente do partido da direita tradicional Os Republicanos (LR), expulso “por unanimidade” da agremiação em 12 de junho após declarar apoio ao Reunião Nacional nas eleições de 7 de julho.
2 Liderança do Frente Nacional especialmente nos primeiros anos da década de 2010, quando desempenhou papel importante na estratégia de campanha de Marine Le Pen na eleição presidencial de 2012. Em 12 de dezembro de 2014, a revista Closer revelou que Philippot é homossexual, publicando fotografias em que ele aparece ao lado de um homem com o rosto desfocado, apresentado como seu companheiro. Dois dias depois, Philippot confirmou sua homossexualidade. Em setembro de 2017, ele deixou o Frente Nacional por causa de divergências internas e fundou seu próprio movimento político, Os Patriotas.
3 Mélanie Gourarier, Alpha Mâle. Séduire les femmes pour s’apprécier entre hommes [Macho alfa. Seduzir as mulheres para se apreciar entre homens], Seuil, Paris, 2017.
4 Contração de involuntary celibate [celibatário involuntário].
5 Francis Dupuis-Déri, La crise de la masculinité. Autopsie d’un mythe tenace [A crise da masculinidade. Autópsia de um mito tenaz], Éditions du Remue-Ménage, Montreal, 2018.
6 Como Alain Soral, Sociologie du dragueur [Sociologia do paquerador], Éditions Blanche, Paris, 1996; e Vers la féminisation? Démontage d’un complot antidémocratique [Rumo à feminização? Desmontagem de um complô antidemocrático], Éditions Blanche, 1999.
7 “Les femmes modernes ont tout détruit!” [As mulheres modernas destruíram tudo!], entrevista concedida ao Livre Noir em 12 de novembro de 2023, www.droite.tv.
8 “Rapport annuel 2024 sur l’état des lieux du sexisme en France. S’attaquer aux racines du sexisme” [Relatório anual de 2024 sobre o estado do sexismo na França. Atacar as raízes do sexismo], n.2024-01-22-STER-61, 22 jan. 2024, www.haut-conseil-egalite.gouv.fr.
9 “Contrer les discours masculinistes en ligne” [Contrariar os discursos masculinistas on-line], Institut du Genre en Géopolitique, 16 out. 2023, https://igg-geo.org.
10 Raewyn Connell (org.), “Masculinités. Enjeux sociaux de l’hégémonie” [Masculinidades. Desafios sociais da hegemonia], Éditions Amsterdam, Paris, 2022.
Fonte: https://diplomatique.org.br/nas-redes-sociais-certos-homens-certas-verdades/
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