segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Quem precisa do X?

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Quem precisa do X?  
Decisão de Moraes bloqueou o X no Brasil 
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Xandão bancou mais uma. Derrubou O X do bad boy de extrema direta Elon Musk. Tem uma comunidade de órfãos chorando nos cantos das redes sociais. Eu era do Twitter, virei parte do X. Graças ao pontapé de Alexandre de Moraes no traseiro do golpista internacional falastrão, tirando do ar a sua rede cada vez mais conservadora, em nome da soberania nacional e do cumprimento de ordens judiciais do STF, descobri que há vida fora do X. O Bluesky, criado por Jack Dorsey, o pai do Twitter, oferece tudo o que X possibilitava com uma grande vantagem: sem Elon Musk.

Abre-se uma conta no Bluesky em um minuto. O logo é uma borboletinha azul. A lógica do passarinho está de volta. X é prosa. Borboleta é poesia. O desenho da plataforma é prático e funcional. Está todo mundo migrando para lá. Mais de um milhão de brasileiros fez isso em um dia. Fui junto. Felipe Neto mudou-se e levou junto seus adoradores. Em 24 horas atraiu cem mil seguidores. Nesse ritmo, a clientela brasileira do X vai se instalar de mala e cuia no Bluesky. Se voltar, o X talvez só tenha a audiência do seu público de extrema direita. Vai virar uma rede de nicho. Já tem gente acenando e dizendo “tchau, querido”. Como somos seres de hábitos, ainda abro o X sem querer, mesmo sabendo que está bloqueado. Vai passar logo.

O problema, claro, são os seguidores acumulados no X. Eu nunca tive muitos. Mesmo assim, eram 71 mil. Será que migram? Alguns estavam lá há anos e talvez nem se lembrem disso. Ficarão pelo caminho. Quem sabem aparecem novos? Parte da grande mídia brasileira está, mais uma vez, pagando mico defendendo Elon Musk. A grande mídia do Brasil tem uma tradição de apoio a causas erradas: deu sustentação ao golpe de 1964, puxou o saco da ditadura até ser censurada e mesmo assim continuou gostando do seu modelo econômico, até que a inflação rebentou tudo. Eis o X da questão.

Tecnicamente ninguém precisa do X para se comunicar em rede. Além do Bluesky existem outras plataformas à disposição. A permanência no X era mais inercial do que tecnologicamente necessária. Já encontrei o Xico Sá no Bluesky. A conversa lá está naquela fase de chegada no bar. Todo mundo conhecendo a casa nova. É confortável e arejada. Esse êxodo para o Bluesky talvez apresse Elon Musk a mudar de ideia sobre indicar um representante legal no Brasil mais do que as pressões do STF. Se voltar só com a extrema direita, o X poderá mudar de letra no Brasil e se chamar B de Bolsonarão. Nunca se viu a direita raiz brasileira tão preocupada com liberdade de expressão. Um pedido: não deem o endereço do Bluesky para o Pablo Marçal. Merda, ele já está lá. Bem, o Bluesky é uma rede aberta a todos.

Casa nova, vida nova. No X, Elon Musk era um anfitrião mala. Ficava enfiando suas postagens na timeline de cada um. Quem, de fato, queria ouvi-lo? Ele só falava ali por ser o dono da bola. Ainda não vi postagem do Jack Dorsey no Bluesky. Musk comprou e matou o Twitter. Será que se matou com o X? É possível que muita gente abandone o Bluesky se o X voltar. Afinal, mudança implica recomeço, fazer novas amizades, sair da zona de conforto. Em todo caso, o essencial está visto: não é preciso ficar refém de Musk.

*Jornalista. Escritor. Prof. Universitário.

 Fonte: https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/quem-precisa-do-x/

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