sábado, 28 de setembro de 2024

O bolsonarismo era vidro e se quebrou e direita está em guerra nas redes sociais

Por Sergio Denicoli*

Jair Bolsonaro está inelegível para 2024 e, com isso, sua liderança tem sido colocada em xeque

 Jair Bolsonaro está inelegível para 2024 e, com isso, sua liderança tem sido colocada em xeque Foto: Wilton Junior/Estadão

É inevitável a ascensão de novas lideranças, que trocam cotoveladas para ocupar o vácuo deixado pelo ex-presidente

A ciranda política em que a direita brasileira se meteu não tem caminho de volta. A inelegibilidade de Jair Bolsonaro transformou o ex-presidente em uma espécie de “rainha da Inglaterra”. Todos pedem sua bênção e batem continência, mas sabem que, em 2026, quem dará as cartas serão os nomes que se apresentarão como candidatos, com a aprovação de partidos sobre os quais Bolsonaro não tem controle. Alguns, convenientemente, até tentam manter a narrativa de que ele poderá voltar a ser liberado a se candidatar, mas poucos acreditam realmente nessa possibilidade.

Nesse cenário, é inevitável a ascensão de novas lideranças, que trocam cotoveladas para ocupar o vácuo deixado pelo ex-presidente. No tabuleiro político, destacam-se os governadores Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior. Também surgem novas figuras, como Pablo Marçal, que atrai um percentual significativo dos conservadores, especialmente os mais radicais, que se encantaram com o discurso antissistema que deu impulso à campanha de Bolsonaro, em 2018.

O fato é que não há amor na política. Há conveniência, oportunismo e um jogo de expectativas em torno do poder. “O amor que tu me tinhas, era pouco e se acabou”, poderia dizer um Bolsonaro confuso, hesitante e fragilizado diante daqueles que agora piscam os olhos para outros nomes.

Nas redes, as militâncias da direita não fazem ensaio diplomático e já partem para as críticas pesadas. O X, após a suspensão no Brasil, virou um ambiente habitado sobretudo pela direita que não hesita em usar VPN – um subterfúgio tecnológico - para acessar a plataforma, e exemplifica bem as disputas internas desse grupo ideológico. O antigo Twitter tem sido palco de agressões entre pessoas que antes caminhavam unidas.

Não faltam ali xingamentos de direitistas a Bolsonaro, o chamando de covarde, frouxo, refém do sistema, entre outros adjetivos. A defesa do ex-presidente aparece, mas de forma tímida e pouco convincente, baseada apenas em termos como “confie no capitão”.

Também sobram ataques para o nome que representa a maior vitória eleitoral do governo Bolsonaro: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Sua atitude cordial e sua sagacidade política incomodam, e as vozes dissidentes já tentam classificá-lo como mais alinhado ao centrão do que à direita-raiz.

Na última semana, o tabuleiro das eleições de 2026 movimentou peças importantes. Nikolas Ferreira, uma liderança incontestável nos meios online e com grande influência sobre os conservadores, iniciou uma guerra declarada contra o PSD, partido ao qual o deputado atribui o impasse em torno do processo que busca o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Tarcísio, que tem uma forte ligação com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, entrou na mira. Somente no Instagram, o vídeo de Nikolas alcançou quase 11 milhões de visualizações.

Enquanto isso, Bolsonaro permanece praticamente calado, vendo seu império de popularidade se quebrar em cacos reluzentes e raivosos. Até chegou a fazer uma crítica velada ao governador de Goiás, que, apesar de se posicionar à direita, está em um palanque oposto ao do ex-presidente, nas eleições municipais de Goiânia, e atua nos bastidores para se tornar o presidenciável dos conservadores.

No entanto, continua, por exemplo, a engolir as críticas dos apoiadores de Marçal, que enxergam no candidato a prefeito de São Paulo um radicalismo inconsequente há muito abandonado pelo ex-presidente.

O cenário das redes mostra que o bolsonarismo, embora ainda ressoe nas bases conservadoras, parece ter perdido sua força unificadora, abrindo espaço para novas dinâmicas na direita brasileira. O cenário político caminha para uma reconfiguração, onde antigas lealdades se desintegram e novas alianças começam a se formar.

O futuro do movimento conservador brasileiro dependerá não só de quem irá liderá-lo, mas também de como será capaz de se reinventar em meio às mudanças inevitáveis do jogo político, que está em constante transformação. Enquanto isso, a esquerda, sob a tutela de Lula, se mantém unida e agradece.

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Opinião por Sergio Denicoli

*Autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.

Fonte:  https://www.estadao.com.br/politica/sergio-denicoli/o-bolsonarismo-era-vidro-e-se-quebrou-e-direita-esta-em-guerra-nas-redes-sociais/

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