domingo, 29 de setembro de 2024

O terrorismo tecnológico entrou no nosso quotidiano

 Luis Vidigal*

Pagers do Hezbollah explodem após serem adulterados – TVBV ONLINE

Explosivos foram implantados nos equipamentos eletrônicos. 
Imagem: Reprodução Telegran.

As novas ameaças ocultas e subliminares

Enquanto o terrorismo convencional é caracterizado por ataques físicos, o terrorismo tecnológico é mais alargado, ao utilizar as inovações tecnológicas como armas para causar destruição, medo e desestabilização, com recurso a ciberataques a infraestruturas críticas e adulteração de dispositivos quotidianos, transformando-os em armas letais, como foi o caso das explosões de pagers israelitas no Líbano.

No mundo hiperconectado de hoje, os ataques a infraestruturas críticas, como redes elétricas, sistemas bancários, hospitais e redes de transporte, são uma das maiores preocupações atuais, através de malware ou técnicas de hacking, em que terroristas digitais podem causar interrupções graves de infraestruturas, que afetam a vida de milhões de pessoas.

Os pagers adulterados que foram utilizados no Líbano, enquanto dispositivos de comunicação anteriores aos telemóveis, aparentemente inofensivos e mais seguros, foram transformados por Israel em armas letais e alertaram-nos para um novo terrorismo particularmente preocupante, porque poderá estar oculto em objetos quotidianos e insuspeitos, o que torna muito difícil identificar as ameaças antes que os ataques aconteçam.

A manipulação dos pagers demonstrou que qualquer dispositivo, por mais banal que seja, pode ser usado como arma terrorista, para criar um ambiente de medo, mas neste caso o ataque é especialmente insidioso, pois explora a confiança que os utilizadores têm nas tecnologias que fazem parte do seu quotidiano.

As operações de sabotagem que envolvem a manipulação de produtos tecnológicos comercializados globalmente criam um problema de confiança nas cadeias de fornecimento, por isso os governos e as indústrias terão de implementar medidas mais rigorosas de segurança em todas as fases de produção e distribuição de dispositivos eletrónicos, para impedir a adulteração de produtos, através de auditorias regulares para garantir que os produtos não sejam adulterados antes de chegarem ao mercado.

As redes sociais desde há muito que também podem ser consideradas armas terroristas, por serem capazes de radicalizar indivíduos e grupos de forma subliminar, sem levantar suspeitas, pois podem espalhar o pânico e a desinformação em larga escala, para afetar a opinião pública, manipular eleições ou causar o caos em tempos de crise.

O terrorismo tecnológico levanta novas questões geopolíticas, à medida que as fronteiras entre o mundo digital e o mundo físico se tornam mais difusas, onde governos, empresas e cidadãos estão cada vez mais vulneráveis a ataques que podem ser lançados a partir de qualquer parte do mundo, sem necessidade de presença física.

Trata-se de uma das ameaças mais graves e imprevisíveis do século XXI e por isso a luta contra o terrorismo tecnológico não pode ser feita isoladamente, pois os países precisam de colaborar e partilhar informações sobre ameaças globais à segurança tecnológica.

À medida que a tecnologia continua a evoluir e a tornar-se parte integrante das nossas vidas, os riscos associados ao seu uso malicioso também aumentam. Casos como as explosões de pagers no Líbano servem como um alerta para a vulnerabilidade das nossas infraestruturas tecnológicas e para a necessidade de uma vigilância constante.

* Representante da sociedade civil na Rede Nacional de Administração Aberta. Consultor internacional de e-Government

 Fonte: https://www.dn.pt/1737328242/o-terrorismo-tecnologico-entrou-no-nosso-quotidiano/ 

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