Reportagem do Correio Braziliense*, prenuncia, firmada em pesquisas, que, daqui a 20 anos o Oceano Ártico pode se tornar um mar aberto durante o verão. Diz mais: "Fenômeno agravará aquecimento global e aumentará casos de enchentes". Junto há entrevista com Peter Wadhamas:
Precisamos pensar em soluções”
É possível que haja mudanças
Precisamos pensar em soluções”
É possível que haja mudanças
na circulação atmosférica e oceânica,
porque não vamos mais ter
essa espécie de ‘tampa’ de gelo do nosso planeta”
Peter Wadhams viu de perto as mudanças no Ártico. O oceanógrafo britânico navegou em navios e submarinos em busca dos mistérios da imensidão branca. O topo de gelo do planeta é seu foco de estudo há quase 40 anos. Professor de física oceânica da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, ele já liderou 40 expedições ao Polo Norte. Com o chamado Grupo de Física do Oceano Polar, conseguiu não só registrar as alterações glaciais como prever o futuro da gelada região: dentro de aproximadamente duas décadas, o gelo deve desaparecer totalmente durante o verão.
Peter Wadhams viu de perto as mudanças no Ártico. O oceanógrafo britânico navegou em navios e submarinos em busca dos mistérios da imensidão branca. O topo de gelo do planeta é seu foco de estudo há quase 40 anos. Professor de física oceânica da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, ele já liderou 40 expedições ao Polo Norte. Com o chamado Grupo de Física do Oceano Polar, conseguiu não só registrar as alterações glaciais como prever o futuro da gelada região: dentro de aproximadamente duas décadas, o gelo deve desaparecer totalmente durante o verão.
O especialista diz que o fato pode até ser positivo para as relações econômicas entre os países do extremo norte, mas será extremamente prejudicial para o meio ambiente. “É possível que haja mudanças na circulação atmosférica e oceânica porque não vamos mais ter essa espécie de ‘tampa’ de gelo do nosso planeta. Precisamos nos moldar a isso e começar a pensar em soluções”, alertou, nesta entrevista ao Correio.
Por que o Ártico vai ficar sem gelo durante o verão em cerca de 20 anos?
O motivo é que o Ártico tem uma distribuição de espessura de camadas de gelo. Existe o gelo plurianual — de muitos e muitos anos —, que é bem grosso. E também existe o gelo que cresceu durante o decorrer do ano, chamado de gelo de primeiro ano. O gelo cresce quase 1,5m durante o inverno e costuma derreter 0,5m durante o verão, deixando, consequentemente, um metro de gelo para continuar durante o próximo ano e se transformar em gelo plurianual mais grosso. Atualmente, por causa das temperaturas de ar cada vez mais quentes e do aquecimento da água que fica embaixo do gelo, o crescimento do inverno foi reduzido, enquanto, no verão, o derretimento aumentou. Agora, quase todo o gelo do inverno derrete no verão. Já o gelo que não derrete acaba quebrando, porque está enfraquecido, e se move mais facilmente para fora do Ártico, levado pelo vento. Então, nós atingimos um ponto onde o aquecimento não permite mais que a camada de gelo sobreviva durante o verão. No entanto, é claro, o gelo vai continuar a se formar e a crescer durante o inverno.
Como a sua equipe trabalhou para fazer essa descoberta?
Desde 1971, eu tenho navegado pelo Ártico em submarinos navais que medem a densidade do gelo usando uma ecossonda (equipamento utilizado para medir profundidades). Os dados desse derretimento foram coletados nessas sucessivas viagens. A mais recente foi feita em 2007.
Quais as consequências da perda de gelo para a região polar e para o resto do planeta?
Alguns impactos diretos podem ser considerados positivos, como, por exemplo, o encurtamento das rotas de comércio entre a Europa e o Oriente. Outros, porém, são negativos, como o possível desaparecimento da população de ursos polares, a grave ameaça às focas, e a liberação de gás metano a partir do derretimento da permafrost (tipo de solo encontrado na região), o que leva à aceleração do aquecimento global. Muitos impactos ainda são desconhecidos. É possível que haja mudanças na circulação atmosférica e oceânica, porque não vamos mais ter essa espécie de “tampa” de gelo do nosso planeta. Precisamos nos moldar a isso e começar a pensar em soluções. O senhor tem estudando o Ártico durante muito tempo. O que mudou desde quando começou?
Minha primeira visita ao Ártico foi em 1970, a bordo de um navio quebra-gelo canadense que estava fazendo seu primeiro levantamento oceonográfico do Mar de Beaufort, que fica no norte da costa ártica canadense. Para atingir o gelo pesado e denso, tínhamos de percorrer no máximo 80 milhas (cerca de 50km) para fazer a pesquisa. E isso em agosto (verão no Norte). Hoje, na mesma época do ano, o Mar de Beaufort inteiro está aberto e você pode navegar centenas de milhas em direção ao Polo Norte até conseguir atingir o gelo.
Existe a possibilidade de o aquecimento global pare e o mundo passe a esfriar nos próximos anos?
Sim, claro. Eventualmente, nós vamos em direção a uma nova era do gelo, por causa de fatores astronômicos, pela forma com que a inclinação do eixo da Terra treme. Mas isso está a milhões de anos à nossa frente, e nesse meio tempo os nossos transtornos com o clima podem fazer tanta diferença que a era do gelo possa nem acontecer.
O derretimento do gelo também pode ocorrer no Polo Sul?
Sim, o recuo do Oceano Glacial da Antártida é previsível e, eventualmente, o gelo antártico vai começar a derreter, o que terá um efeito decisivo no nível dos nossos oceanos. Mas as mudanças na Antártida parecem ser mais lentas do que no Ártico. Só não sabemos ainda explicar o porquê.
Qual é o próximo passo para o Grupo de Física do Oceano Polar?
Nós esperamos poder continuar com a medição da densidade do gelo usando veículos autônomos. São pequenos submarinos sem tripulação que navegam abaixo do gelo com uma ecossonda. Eles vão substituir os submarinos navais que raramente vão para o Ártico nos dias de hoje.
*A reportagem é de TATIANA SABADINI, Correio Braziliense, 23/10/2009
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