Stone acredita que serviço de microblogs
está pronto para começar a gerar receita,
com o lançamento de
novos produtos.
Aos 34 anos, o americano Biz Stone está à frente de uma empresa que, com apenas três anos de vida, já está avaliada em mais de US$ 1 bilhão. O Twitter, rede de microblogs criada por ele e pelos colegas Evan Williams e Jack Dorsey, transformou-se em pouco tempo em um dos maiores sucessos da história da internet, atingindo a marca de 45 milhões de usuários cadastrados. No Brasil, o Twitter vem registrando uma ascensão fulminante - já são oito milhões de usuários, sendo que a maior parte deles, cerca de cinco milhões, ingressou no sistema nos últimos três meses. O sucesso, porém, ainda não se reverteu em bons resultados financeiros. Situação, por sinal, similar à de outras investidas do gênero, como os sites de vídeos YouTube e a rede social Facebook. Todos ainda estão em busca de gerar receita para seus acionistas. Stone participa hoje no Brasil do II Encontro Agenda do Futuro, organizado pela empresa de serviços de comunicação TV1. Antes de chegar ao País, deu a seguinte entrevista, por e-mail:
Em três anos, o Twitter conquistou 45 milhões de usuários e está avaliado em cerca de US$ 1 bilhão. Você e seus sócios previam isso quando criaram a rede?
Sob muitos aspectos, o Twitter cresceu mais rápido do que o esperado. Os números mencionados impressionam em muitos níveis, e certamente não esperávamos tamanho crescimento num período tão curto. Dito isto, ainda sentimos que estamos apenas no começo do Twitter enquanto serviço e enquanto empresa, e por isso esperamos um crescimento ainda maior no futuro.
Em Cannes, durante o festival de publicidade, você demonstrou certa tranquilidade pelo fato de o Twitter ainda não apresentar receita. Quando você acredita que a empresa vai começar a dar lucros?
Vamos lançar este ano produtos capazes de proporcionar renda. Um desses produtos que estamos desenvolvendo, mas que ainda não lançamos, permitirá às contas comerciais um novo nível de acesso à informação relativa às suas próprias contas do Twitter. Todas as contas do Twitter permanecerão gratuitas, mas algumas empresas podem estar dispostas a pagar por uma ferramenta analítica que lhes permita avaliar seu sucesso e aprimorar o uso que fazem do Twitter - o que beneficia a todos no longo prazo.
Que modelo de negócio é o mais apropriado para que o Twitter sobreviva à onda de expansão na internet e não tenha o mesmo destino de projetos, como o Second Life, que não se viabilizaram economicamente?
O Twitter é uma rede de informações a caminho de se tornar indispensável no dia a dia das pessoas - para negócios, política, emergências, festas e muitos outros usos. O modelo mais apropriado para o Twitter valoriza o sistema e torna o serviço ainda mais relevante sem se tornar um obstáculo.
O Twitter não estaria apenas à espera de uma oferta de compra bilionária?
Não estamos interessados em nos envolver com negociações de aquisição, porque o Twitter pode ser uma empresa muito importante e rentável por si mesma. Há alguns serviços mais difíceis de operar do ponto de vista da monetização, mas o Twitter não é um deles. O Twitter está em boa posição para gerar receita.
Há algum impedimento técnico para a adoção de anúncios pelo Twitter?
O sistema TweedSpeed (que gerencia o tráfego do Twitter em tempo real), mostra que são enviadas cerca de 12 mil postagens por minuto e, caso os vídeos de anúncios fossem implementados, seria necessário muito mais banda de internet. Não há motivo técnico que nos impeça de entrar no ramo da publicidade.
Incluir no Twitter miniaturas de imagens e vídeos (mesmo que esse conteúdo seja hospedado em sites de terceiros) não seria o próximo passo para a expansão do negócio?
Atualmente, há muitas formas de incluir imagens e vídeos nos tweets (postagens), mas elas são desenvolvidas por terceiros com os recursos de nossa plataforma de tecnologia aberta. Há dezenas de milhares de aplicativos que funcionam com o Twitter, e muitos mais são criados todos os dias. Esses aplicativos permitem que os usuários compartilhem fotos, por exemplo, mesmo que a Twitter, Inc. não esteja no ramo da hospedagem de fotos. Como resultado final, os usuários encontram grande conveniência em nosso serviço, e isso é o mais importante.
Como você interpreta os estudos que dizem que 90% dos conteúdos veiculados no Twitter são produzidos por apenas 10% dos seus usuários e que mais de 30% dos que entram uma primeira vez e se registram nunca regressam uma segunda vez?
Não tenho certeza se esse dado está correto, mas é verdade que haverá no Twitter mais pessoas consumindo informação do que a criando. Nossas ferramentas de busca e descoberta estão melhorando, o que significa que muitos virão ao Twitter para aprender e descobrir, e nem sempre para criar novo conteúdo. Não há problema nisso. Uma questão separada é a de superar a lacuna entre conhecer o Twitter e engajar-se verdadeiramente com o produto - reconhecemos que esse aspecto poderia ser melhorado, e estamos trabalhando nisso no momento. Reitero que o mais importante é oferecer um serviço relevante para nossos usuários.
Como tem sido essa sua atual vida de viajante para divulgar o Twitter?
Todos os dias as pessoas usam o Twitter para fazer coisas notáveis. Elas se organizam para arrecadar recursos destinados a causas importantes, comunicando-se e ajudando umas às outras durante situações de emergência, e descobrem formas de partilhar informações importantes em partes do mundo onde isso não é tão fácil. Minha esperança ao partilhar o pouco que aprendemos até o momento é de que as pessoas compreendam o seguinte: não importa o quão sofisticada seja a tecnologia ou quantas máquinas sejam acrescentadas à rede, o Twitter não é um triunfo da tecnologia, mas um triunfo da humanidade.
Reportagem de MARLI RIBEIRO, jornal Estadão, 21/10/2009
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