quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os limites da política econômica

Joaquim Falcão*

De quem será o futuro: da China ou dos Estados Unidos? Ou dos dois? Ou de algum terceiro, ou terceiros? Essa foi uma das perguntas centrais do fórum de economia realizado por Bresser-Pereira na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo. Reuniu economistas brasileiros e estrangeiros, chineses também. Paradoxalmente, as respostas, sejam do economista capitalista Delfim Netto e do economista socialista chinês Ping Chen, parecem convergir. E, ao convergirem, revelam os atuais limites das políticas econômicas.
Delfim Netto alerta que, com tantos tipos diferentes que vicejam no mundo, capitalismo virou uma espécie de codinome, um conceito que encobre muito mais do que esclarece. E revelou, em sua análise, uma preocupação básica sobre o futuro da economia mundial. O fato mais importante que teria ocorrido desde Obama no poder seria a indicação do Prêmio Nobel chinês-americano Steven Chu para o que corresponderia a ministro de ciência e tecnologia dos Estados Unidos, além de generosa dotação de um orçamento de cerca de US$ 25 bilhões. Ao lado da designação e do cheque, Steven Chu tem uma meta: investir em pesquisa de tal modo que os EUA realizem, antes dos outros, um novo salto tecnológico, como foi a internet. Encontre um breakthrough como foi no passado a imprensa e a máquina a vapor. Time flies. Política econômica sozinha adia, embala, segura, mas não resolve a crise. Tem que estar aliada a inovação científica e tecnológica.
O que Delfim estava dizendo é que a arena vital, a que vai definir o vencedor, China ou Estados Unidos, é mais a disputa entre as táticas, teorias e estratégias macroeconômicas. Matematizadas ou não. A arena decisiva é a da invenção ou não da ciência e tecnologia. É a arena do conhecimento. É nela que a competição mundial de fato ocorre.
Paralelamente, o chinês Ping Chen, da Universidade de Pequim, alertou que era um engano o Ocidente acreditar que a principal arma econômica da China era a mão de obra barata embutida em seus produtos exportáveis a inundar os países, encher seus tesouros de dólares e de quebra conter a inflação mundial. Alertou que o importante para a China de hoje era justamente o desenvolvimento tecnológico. E que Pequim tinha resolvido investir em pesquisa científica de médio e longo prazo, em três áreas.
Primeiro, na tecnologia verde; sendo a China o poluidor-mor, indispensável para tornar suas cidades habitáveis e sobreviver o mundo. Segundo, na biotecnologia, porque o problema da seguridade social e da assistência da saúde não é como o Ocidente pensa, uma questão de truques institucionais e agências reguladoras, ou controle orçamentário ou mais impostos. Esse caminho é necessário, mas não resolve o problema. A realidade básica a enfrentar é clara: a atual medicina é muito cara. É impagável. Ou se reinventa a arte de curar e prolongar a vida de maneira mais barata ou todos os países terão seus orçamentos arrasados pela previdência social. Sejam capitalistas ou socialistas, cristãos ou muçulmanos.
Finalmente, o terceiro grande investimento chinês em ciência e tecnologia será nos projetos de controle e alimentação populacional. Como alimentar e reduzir o número de chineses e no mundo. Exportá-los para a África é um caminho sempre insuficiente. Um breaktrough no verde, na saúde e na alimentação, eis o programa da vitória econômica chinesa. Como nos Estados Unidos, a arena decisiva é a do conhecimento.
A partir daí, duas considerações. Primeiro: fica claro os limites da política econômica, que, sem ser acoplada a uma política de desenvolvimento científico, é apenas um paliativo de vitórias efêmeras e frustrações fragorosas, como vimos agora em Wall Street. Segundo: e o Brasil? O que fazer e como ampliar suas vantagens tecnológicas obtidas nas áreas da energia e da agricultura? Teremos prioridade maior? De repente, precisamos de mais engenheiros e cientistas mais do que de economistas e advogados. A propósito, nenhum dos últimos presidentes chineses é advogado de Harvard ou Yale. São engenheiros.
*Joaquim Falcão - Diretor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (RJ) e membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
Postado Correio Braziliense, 15/10/2009



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