Pode ser uma boa oportunidade para o País promover um grande salto, mas o horizonte externo permanece nebuloso. Leia a análise completa neste artigo.
Está em curso uma “conspiração benigna” voltada à formação de expectativas favoráveis sobre o futuro da economia mundial. Sabe-se que as flutuações das atividades econômicas promovem altas e baixas agudas nas variáveis econômicas antes de se atingir os períodos de menor volatilidade.
Mas nesta crise as oscilações foram bruscas demais. O discurso que defende que a situação está normalizada e ocorrerá a retomada dos investimentos e a volta do crescimento econômico apoia estas expectativas positivas. De acordo com esta visão, o setor financeiro estaria bem e nada precisaria ser alterado.
Contrárias a esta postura, restam apenas as poucas vozes dos pessimistas, que nunca se convencem da estabilidade do sistema econômico internacional e se preocupam com os altos níveis de desemprego, a desvalorização dos preços dos imóveis em numerosos países e o baixo volume de produção em relação ao primeiro semestre de 2008.
Boa parte deste debate está associada ao conflito de ideologias e posturas teóricas e não aos fatos reais. Desta forma não se reconhecem as especificidades desta crise, que é a mais profunda desde 1930. Deixa-se de estudar o tema mais estimulante a ser tratado: a surpreendente, forte e rápida recuperação dos índices das principais bolsas de valores e a queda do dólar, quando os indicadores do lado real da economia permanecem negativos ou apontam para a precária recuperação econômica.
No caso do Brasil, as razões para o otimismo são mais fortes, uma vez que a crise internacional nos atingiu de forma menos aguda. A desvalorização do real durante a crise já está sendo anulada pela atual valorização e a queda do volume do comércio internacional está sendo revertida, sobretudo, pela forte expansão da China e de outros países emergentes, e pela recuperação do preço das commodities. As ameaças ao equilíbrio do sistema estariam no aumento dos gastos permanentes do governo, que devem ser combatidas para evitar a inflação. Da mesma forma, a taxa de juros deverá elevar-se logo adiante, para conter uma demanda agregada que pode se tornar excessiva.
De qualquer forma, a economia brasileira permanece fortemente vinculada às oscilações da economia global. A recuperação da economia mundial é frágil e o horizonte permanece incerto. No setor externo da economia internacional observa-se a queda dos fluxos comerciais internacionais acima de 20% neste ano em relação a 2008.
A balança comercial brasileira de setembro gerou superávit de US$ 1,33 bilhão, o menor resultado mensal do ano, com exportações de US$ 13,86 bilhões e importações de US$ 12,53 bilhões. Apenas as exportações para a Ásia, particularmente a China, cresceram. As importações caíram em todos os itens, principalmente as matérias-primas e combustíveis em relação aos bens de capital e de consumo.
O real ainda não atingiu o nível máximo de valorização de agosto de 2008, quando atingiua cifra de 1,559 de real por dólar. Neste ano, o real apreciou-se 34,42% em relação ao dólar, 49,35% em relação ao peso argentino, 33,73% em relação ao iene e 29,10% em relação ao euro, importantes parceiros comerciais do Brasil. Nestas condições, as exportações brasileiras enfrentam grandes dificuldades para se manterem competitivas.
Às vésperas do ano eleitoral, a tendência do governo é buscar notícias favoráveis, como o anúncio de obras e projetos. Esta pode ser uma boa oportunidade para o País promover um grande salto, superar seus “gargalos” e tornar-se mais competitivo. Entretanto, não se pode esquecer que o horizonte externo permanece nebuloso, a forte valorização do real ameaça o desempenho das contas externas já em 2010 e as taxas de juros permanecem muito elevadas.
A reestruturação produtiva vai definir a nova divisão internacional da produção entre tipos de produtos, regiões e países. O Brasil precisa manter-se alerta e atuar na direção de papéis mais significativos no cenário internacional e mais favoráveis aos seus cidadãos. Os fenômenos reais, às vezes obscurecidos pelos vários tipos de “conspirações”, são os que contam a longo prazo. *Hélio *Nogueira da Cruz (Professor da FEA-USP. E-mail: hncruz@usp.br)
Este texto é uma versão resumida de artigo originalmente publicado no Boletim de Informações da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE): http://www.fipe.org.br/web/index.asp
HSM Online - 26/10/2009
HSM Online - 26/10/2009
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