1. Introdução
O pragmatismo é um método para a verdade. Foi isso que disse um dos principais representantes dessa filosofia, William James, no início do século XX. No término do século XX, Richard Rorty, o análogo de James para a nossa época, insistiu que se cuidássemos da liberdade a verdade cuidaria de si mesma. Ora, o que mudou no pragmatismo em cem anos?
Alguns diriam que a mudança, do tempo dos pioneiros do pragmatismo para os pragmatistas do final do século do início do XXI, está ligada apenas à linguistic turn. Filósofos como James e Dewey teriam estado longe da terminologia e do estilo que, depois de Quine – ele próprio um tipo de pragmatista –, teria conquistado muitos filósofos americanos, pragmatistas ou não. Essa maneira de contar a história da filosofia do século XX, no que envolve o pragmatismo, tem a ver com Rorty.
Rorty não alimentou as divergências entre o pragmatismo dos pioneiros e o seu próprio. Nunca quis que elas fossem maiores do que as pequenas querelas contemporâneas entre ele e outros pragmatistas como Putnam ou Davidson. Durante um bom tempo, Rorty sonhou em criar uma historiografia a partir de uma visão antes da continuidade do que das rupturas no interior da família pragmatista.
A história da filosofia americana, até Rorty, vinha sendo explicada a partir de uma ruptura entre o positivismo lógico, aportado na América em meios à vinda de refugiados europeus do nazismo, e a tradição propriamente americana, a do pragmatismo de Dewey e James, filósofos mais voltados para o campo de problemas psicossociais, políticos e culturais. Em parte, Rorty tentou enriquecer essa historiografia de modo a dizer mais do que apenas essa visão esquemática. Ele trabalhou nesse projeto, especificamente, durante mais de duas décadas. Agiu nisso de dupla maneira. Por um lado, escreveu ensaios históricos, por outro lado, ele protagonizou um importante capítulo da história do pragmatismo.
A minha própria forma de ver a história do pragmatismo é bastante afinada com a compreensão desenvolvida por Rorty. No entanto, ela é só minha. Ela não é a de Rorty. A maneira como vejo essa história me permite analisar os últimos escritos de Rorty, em especial o quarto volume de seus Philosophical Papers. Assim, o que farei a seguir é expor em linhas gerais essa história para, na seqüência, comentar o tema central de Rorty em seus escritos finais, resumido no subtítulo do volume em questão: “a filosofia como política cultural”.
*Filósofo. Educador. Possui o site: http://ghiraldelli.pro.br/2009/10/filosofia-pc/ onde você pode ler o texto completo.
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