sábado, 8 de outubro de 2011

Jobs, o homem

Seguro, considerado por amigos

o centro de seu próprio universo,

o fundador da Apple foi

tão ousado na vida pessoal 

como em sua carreira

FLÁVIA YURI

HOMEM DE FAMÍLIA Steve Jobs e sua mulher, Laurene Powell, em 
sua casa em Palo Alto, em 1997. O fundador e CEO da Apple mantinha sua 
vida pessoal e familiar longe da mídia (Foto: Diana Walker/SJ/Contour by
 Getty Images)
Ativo, carismático, obstinado e perfeccionista. Focado, impetuoso e ríspido. Mágico na arte do convencimento. Steve Jobs era tudo isso. Teve tanto uma vida profissional extraordinária como uma vida pessoal incomum, as duas intimamente conectadas. “Criar é fazer conexões. Pessoas criativas conseguem inventar algo porque tiveram mais experiências ou porque pensaram mais sobre suas experiências do que os outros”, disse o visionário fundador da Apple. Na vida de Steve Jobs, não faltaram experiências – nem reflexões sobre elas.
Nascido na californiana San Francisco, em 24 de fevereiro de 1955, Jobs foi entregue por seus pais biológicos para adoção. Naquela época, a americana Joane Simpson e o professor de política sírio Abdulfattah Jandali não eram casados e acharam que não conseguiriam criá-lo. Mas só aceitaram entregá-lo à contadora Clara e ao operário Paul Jobs com a promessa de que eles pagariam a faculdade do menino. O casal cumpriu a promessa – só faltou combinar com o próprio Jobs. Ele cresceu em Montain View, também na Califórnia, e aos 17 anos foi aceito na Universidade Reed College, em Portland. Após apenas seis meses, abandonou o curso. “Desistir foi a melhor coisa que fiz. Pude me dedicar às coisas que eu realmente queria fazer.”
"Havia um lado negativo desse poder de indução. 
Jobs tinha um gênio ranzinza, que beirava o irascível.
Em uma entrevista para a revista americana Wired, 
o repórter perguntou que conselho o Steve Jobs de 42 anos daria ao de 25. 
“Não participar de entrevistas idiotas”, disse. 
O repórter depois diria: “Jobs tinha um olhar devastador. 
Ele me liquidou de tal maneira que, 
quando me afastei, chorei”. 
Com os mais próximos, a rispidez era similar, 
afirma a amiga Heide Roizen. 
“Ele era o centro do universo – 
o universo dele próprio.”
Entre os assuntos que lhe chamaram a atenção estava um curso de caligrafia, que mais tarde lhe serviria para definir as fontes do Macintosh e impor à indústria uma preocupação estética até então inexistente. Jobs também embarcou num retiro espiritual na Índia, onde mergulhou no zen-budismo e em alucinógenos, como o LSD. A impetuosidade de suas escolhas mostra um dos traços dominantes da personalidade de Jobs: a segurança e o gosto por decisões incomuns. Um programador da Apple, Bud Tribble, criou uma expressão sarcástica que ficaria famosa: Jobs provocava um “campo de distorção da realidade”. A expressão vem do seriado Jornada nas estrelas e significava que Jobs era capaz de, com seu misto de convicção e arrogância, alterar o campo de visão das pessoas. “Steve era permanentemente persuasivo, mesmo quando não precisava ser. Isso era natural nele”, diz Bob Metcalfe, criador da Ethernet e amigo de Jobs. “Ele conseguia vencer qualquer discussão, mesmo quando estava errado.”
Havia um lado negativo desse poder de indução. Jobs tinha um gênio ranzinza, que beirava o irascível. Em uma entrevista para a revista americana Wired, o repórter perguntou que conselho o Steve Jobs de 42 anos daria ao de 25. “Não participar de entrevistas idiotas”, disse. O repórter depois diria: “Jobs tinha um olhar devastador. Ele me liquidou de tal maneira que, quando me afastei, chorei”. Com os mais próximos, a rispidez era similar, afirma a amiga Heide Roizen. “Ele era o centro do universo – o universo dele próprio.”
- (Foto: Reprodução)
A vida de Jobs mudou (segundo ele mesmo admitia) depois de ser demitido da empresa que ajudara a criar. Não chegou a se tornar um homem humilde, mas ficou mais sereno. Enquanto apostava numa companhia nova, a Next, e comandava a Pixar, conheceu e, em 1991, se casou com Laurene Powell, com quem teve três filhos: Reed (1991), Erin (1995) e Eve (1998). Jobs também era pai de Elisa, nascida em 1978 de um relação com a artista plástica Chris-Ann Brennam – Jobs só aceitou reconhecê-la quando a garota já era adolescente. Steve tinha duas irmãs. Uma biológica, a quem só conheceu depois de adulta, a escritora Mona Simpson, e uma irmã adotada, Patti, que cresceu com ele. Jobs chegou a visitar a mãe biológica algumas vezes. Mas nunca teve contato com o pai.
Jobs teve com sua intimidade o mesmo zelo adotado com a família. Budista, gostava de ficar com a família e adorava música (sua banda preferida eram os Beatles). Mas sua saúde foi assunto de interesse público a partir de 2004, quando o câncer no pâncreas foi descoberto. Em 2009, passou por um transplante de fígado. Voltou à ativa, mas tirava licenças ocasionais. Em agosto deste ano, anunciou sua saída da função de CEO da Apple e, na semana passada, o adeus foi definitivo. Para Jobs, trabalho e vida continuaram intimamente ligados. Até o fim.
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Fonte: Revista ÉPOCA on line, 07/10/2011

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