“Estamos criando a ditadura das crianças”
Olga Inês Tessari, psicóloga e escritoraA psicóloga Olga Inês Tessari, de São Paulo, vocaliza o pensamento de muitos pais brasileiros que se sentem acossados pelo projeto de proibir os castigos corporais. Confira a entrevista:
Zero Hora – Quais são as objeções que a senhora faz à proposta de proibir castigos corporais?
Olga Inês Tessari – Essa lei interfere na educação que os pais dão aos filhos. É óbvio que, se existem pais que agridem, temos de proteger a criança. Mas é um exagero proibir o pai de dar uma palmadinha, para colocar limite, nas situações em que falar não adianta mais ou quando a criança não entende o sentido das palavras, até por causa da idade. Muitas vezes, uma palmadinha não mão para entender que não se pode fazer alguma coisa é o suficiente para resolver. Temos de conter a violência, é claro, do pai que descarrega suas neuroses e raivas no filho.
ZH – A senhora acredita que a lei trata de forma igual pais que agem de forma diferente?
Olga – Exatamente. A lei nivela por baixo. Se observamos qualquer ação violenta de um pai contra a criança, temos obrigação de denunciar. Não precisamos de lei nova.
ZH – A senhora entende que a palmada pode ser educativa?
Olga – Todo mundo levou palmada na infância e nem por isso virou uma pessoa violenta e traumatizada. A palmada pode ser educativa, quando usada com parcimônia e depois que se esgotaram todos os argumentos. Não é violência. Tem de permitir isso quando for estritamente necessário, o que não significa dar palmada em qualquer caso.
ZH – Proibir a palmada e punir os pais pode criar problemas dentro da família?
Olga – Sim. Estamos criando a ditadura das crianças. Elas podem tudo, e os pais não podem nada. Os pais não vão mais poder educar direito os filhos. As crianças vão poder fazer o que querem e vão aprender que podem tudo. O que vai ser delas no futuro, quando depararem com realidade diferente fora de casa?
Carlos Zuma, da secretaria executiva da rede Não Bata, EduqueFormada por uma série de entidades de defesa à criança, a rede Não Bata, Eduque apoia a proposta de banir os castigos corporais. Leia a entrevista com Carlos Zuma:
Zero Hora – O país está atrasado em relação aos castigos corporais?
Carlos Zuma – Sim. Está arraigada no Brasil a ideia de que o pai pode bater. A gente vê isso até em novela. Como signatário da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o país tem obrigação de proibir os castigos corporais. Mas não é só a lei que muda a cultura, tem de mostrar formas positivas de educar.
ZH – Que formas seriam essas?
Zuma – Os pais têm obrigação de educar e disciplinar, mas confundem educação com castigo físico. Eles dizem que batem porque não querem que o filho se transforme em bandido. Queremos mostrar que existem métodos de educar sem necessitar do castigo corporal. Propomos uma educação na qual se explica à criança o que pode e o que não pode. Em última instância, recorre-se a castigos que não sejam físicos e que não humilhem, como deixar a criança cinco minutos no corredor da casa.
ZH – Quais são as consequências do castigo corporal?
Zuma – A criança tende a reproduzir o modelo. Nos grupos de reflexão que promovemos com homens que batem nas mulheres, 70% relatam que apanharam quando crianças ou presenciaram violência do pai contra a mãe. Quando se bate em criança, ela está sendo disciplinada, mas também aprendendo que pode responder batendo. Há várias consequências: retraimento, dificuldade de aprendizado e baixa autoestima.
ZH – Adversários do projeto de lei argumentam que ele interfere em uma questão de foro íntimo.
Zuma – Essa argumentação é estranha, a mesma que surgiu em oposição à Lei Maria da Penha. A Constituição e o ECA dizem que a responsabilidade pelo desenvolvimento das crianças não é só do pai e da mãe, mas de todos. Se há violência, não existe espaço privado.
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Reportagem Itamar Melo
Fonte: ZH on line, 01/10/2011
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