sábado, 1 de outubro de 2011

Palmatória, sim e não!

“Estamos criando a ditadura das crianças”

Olga Inês Tessari, psicóloga e escritoraA psicóloga Olga Inês Tessari, de São Paulo, vocaliza o pensamento de muitos pais brasileiros que se sentem acossados pelo projeto de proibir os castigos corporais. Confira a entrevista:

Zero Hora – Quais são as objeções que a senhora faz à proposta de proibir castigos corporais?
Olga Inês Tessari – Essa lei interfere na educação que os pais dão aos filhos. É óbvio que, se existem pais que agridem, temos de proteger a criança. Mas é um exagero proibir o pai de dar uma palmadinha, para colocar limite, nas situações em que falar não adianta mais ou quando a criança não entende o sentido das palavras, até por causa da idade. Muitas vezes, uma palmadinha não mão para entender que não se pode fazer alguma coisa é o suficiente para resolver. Temos de conter a violência, é claro, do pai que descarrega suas neuroses e raivas no filho.

ZH – A senhora acredita que a lei trata de forma igual pais que agem de forma diferente?
Olga – Exatamente. A lei nivela por baixo. Se observamos qualquer ação violenta de um pai contra a criança, temos obrigação de denunciar. Não precisamos de lei nova.

ZH – A senhora entende que a palmada pode ser educativa?
Olga – Todo mundo levou palmada na infância e nem por isso virou uma pessoa violenta e traumatizada. A palmada pode ser educativa, quando usada com parcimônia e depois que se esgotaram todos os argumentos. Não é violência. Tem de permitir isso quando for estritamente necessário, o que não significa dar palmada em qualquer caso.

ZH – Proibir a palmada e punir os pais pode criar problemas dentro da família?
Olga – Sim. Estamos criando a ditadura das crianças. Elas podem tudo, e os pais não podem nada. Os pais não vão mais poder educar direito os filhos. As crianças vão poder fazer o que querem e vão aprender que podem tudo. O que vai ser delas no futuro, quando depararem com realidade diferente fora de casa?

“Quando se bate, se ensina a bater”

Carlos Zuma, da secretaria executiva da rede Não Bata, EduqueFormada por uma série de entidades de defesa à criança, a rede Não Bata, Eduque apoia a proposta de banir os castigos corporais. Leia a entrevista com Carlos Zuma:

Zero Hora – O país está atrasado em relação aos castigos corporais?
Carlos Zuma – Sim. Está arraigada no Brasil a ideia de que o pai pode bater. A gente vê isso até em novela. Como signatário da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o país tem obrigação de proibir os castigos corporais. Mas não é só a lei que muda a cultura, tem de mostrar formas positivas de educar.

ZH – Que formas seriam essas?
Zuma – Os pais têm obrigação de educar e disciplinar, mas confundem educação com castigo físico. Eles dizem que batem porque não querem que o filho se transforme em bandido. Queremos mostrar que existem métodos de educar sem necessitar do castigo corporal. Propomos uma educação na qual se explica à criança o que pode e o que não pode. Em última instância, recorre-se a castigos que não sejam físicos e que não humilhem, como deixar a criança cinco minutos no corredor da casa.

ZH – Quais são as consequências do castigo corporal?
Zuma – A criança tende a reproduzir o modelo. Nos grupos de reflexão que promovemos com homens que batem nas mulheres, 70% relatam que apanharam quando crianças ou presenciaram violência do pai contra a mãe. Quando se bate em criança, ela está sendo disciplinada, mas também aprendendo que pode responder batendo. Há várias consequências: retraimento, dificuldade de aprendizado e baixa autoestima.

ZH – Adversários do projeto de lei argumentam que ele interfere em uma questão de foro íntimo.
Zuma – Essa argumentação é estranha, a mesma que surgiu em oposição à Lei Maria da Penha. A Constituição e o ECA dizem que a responsabilidade pelo desenvolvimento das crianças não é só do pai e da mãe, mas de todos. Se há violência, não existe espaço privado.
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Reportagem Itamar Melo
Fonte: ZH on line, 01/10/2011

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