sábado, 3 de outubro de 2009

Amor e sexo virtual

Joaquim Zailton Bueno Motta*
Nesta primeira década do terceiro milênio, convivemos com uma significativa expansão dos relacionamentos amorosos e sexuais pela internet. Durante muito tempo, os serviços que aproximam pessoas foram vistos como recursos de última instância, uma apelação de quem não conseguia se relacionar pelos meios habituais de contatos e paqueras. Progressivamente, esse preconceito tem perdido terreno e muita gente se permite a facilidade de conhecer os candidatos a namoro e/ou transa através do contato virtual.
É evidente que o microcomputador bem como o telefone celular estão trivializados, quase todo mundo tem acesso à virtualidade globalizada, o que também contribui muito para que sejam utilizadas essas pontes que ligam os portais da internet. Há os que navegam virtualmente pelos sites, blogs, Tweeters, MSN, Orkut, Skype, Facebook (sempre surge algo novo...), escrevem através da linguagem simplificada e cheia de siglas, jogam, estão bastante familiarizados com tudo o que espoca na grande rede, mas não a aproveitam para paquerar ou tentar conexão de sexo ou namoro. Ou não chegam a conhecer parceiros e companheiros porque não estavam se servindo da internet para isso.
Em outras palavras: assim como uma pessoa vai a uma escola para ter aulas e lá conhece alguém para paquerar (não imaginou isso, foi ao acaso), também ocorre algo semelhante no ambiente virtual. É bem diferente daquele que navega especificamente para xavecar.
Na virada do século, as estatísticas indicavam que a maioria dos casais que se organizava para o namoro e o casamento advinha dos locais de trabalho (ou estudo). Os pares conheciam-se aonde conviviam profissionalmente ou no happy hour. Também muitos se entrosavam nos colégios, faculdades, cursos de idiomas etc.
Hoje, as pessoas estão se servindo cada vez mais da internet, em ambientes virtuais variados, desde os que contam com organização profissional que funcionam por pagamento, como agências de encontros, até aquelas isentas de despesa, como salas de bate-papo oferecidas pelos provedores.
Uma excelente matéria sobre as relações afetivas e sexuais no universo virtual foi apresentada pela revista Época da semana passada, edição 592. Um repórter que não se identifica, bem como não revela nome verídico de nenhuma pessoa com quem se relacionou, fez um longo e dedicado trabalho, didaticamente bem reportado, com o título: “Minha vida amorosa na internet”. Ele entrou no Par Perfeito (www.parperfeito.com.br) por motivações pessoais, como deixa explícito na reportagem, e não por causa do projeto de fazer a matéria. Antes da experiência, ele pensava que a internet era para “encalhados”. Durante 15 meses, esteve interagindo com várias candidatas a conexões sexuais e/ou afetivas.
Resumindo, repare bem na filtragem que ocorreu: 7 mil mulheres viram o perfil dele, ele viu o perfil de 3 mil; 1.200 mulheres enviaram e-mails, ele enviou e-mails para 500; houve conversa pelo MSN com 85 mulheres; aconteceram 18 encontros ao vivo; o namoro rolou com 6.
Da iniciativa básica de enviar 500 mensagens de correio eletrônico, chegar ao namoro com 6 é praticamente 1%! Isso mostra como deve ser a estratégia mais interessante para se edificar uma boa relação.
O melhor é realmente ir devagar, começar por alguns poucos e-mails, não ficar muito tempo na comunicação virtual, não valorizar as imagens (fotos podem iludir muito), logo iniciar a conversa por programas de trocas instantâneas ou por telefone. Não desistir, se necessário, tentar muitas vezes, até agendar alguns encontros pessoais. Uma única reunião pessoal é muito limitada. Três ou quatro chances de conversarem ao vivo devem definir as compatibilidades e a impressão de entrosamento afetivo e atração física.

*Joaquim Zailton Bueno Motta é psiquiatra e sexólogo
http://cpopular.cosmo.uol.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1655239&area=2190&authent=29CBC4DCF362221159FC4ECBF01A83
Correio Popular, 03/10/2009

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