domingo, 11 de outubro de 2009

Voltando à infância

MOACYR SCLIAR*

O Dia da Criança é um dia de alegria, um dia de conviver com os filhos e também um dia para lembrar a infância. Voltar a ser criança é um sonho que todo adulto tem, e que em parte realiza quando tem filhos. Aí a gente pode se permitir brincar como criança, rir como criança e até ter sustos como criança.Uma oportunidade que às vezes surge de maneira inesperada. A primeira e única vez que andei de montanha-russa foi na Disneylândia, na Califórnia. Era uma montanha-russa enorme, altíssima, os vagonetes voando sobre os trilhos a velocidades fantásticas. Valeria a pena tentar. Achei que sim. Eu sabia que era aterrorizante, que eu iria dar vexame, mas como ninguém me conhecia, qual era o problema? Embarquei, dei o esperado vexame gritando a plenos pulmões (para espanto dos meninos americanos que estavam no vagonete comigo), desembarquei mais morto que vivo. Mas feliz.


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Na semana passada, minha mulher e eu vivemos outra dessas aventuras, no Museu Aeroespacial de Washington. Lugar fantástico: toda a história da aviação está ali, desde os tempos heroicos das primeiras aeronaves até a era espacial – neste ano, por causa do aniversário da chegada do homem à Lua, há uma grande exposição sobre o tema. A gente vê os aviões, e os satélites, e as naves espaciais, e os mísseis. Em algumas dessas aeronaves e espaçonaves podemos entrar e ter, ao menos por alguns momentos a sensação do que são essas incríveis viagens.


Em uma seção é oferecida a oportunidade de pilotar um avião de combate. Na verdade não é um avião; é uma espécie de cabine, capaz de se movimentar, e equipada com uma tela que dá a ilusão do voo. Existem dois modelos: um com movimentos limitados e outro que faz tudo o que um avião de verdade pode fazer. Foi esse que escolhemos.Entramos na cabine, eu como piloto, Judith, a meu lado, como artilheira. A moça que nos orientava mastigou algumas instruções, fez com que colocássemos os cintos de segurança e, detalhe preocupante, baixou sobre nós uma espécie de concha plástica, o que já antecipava o que estava por vir.

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Decolamos, e logo ficou claro que aquele era um voo absolutamente maluco. Éramos jogados de um lado para outro e de repente estávamos de cabeça para baixo, eu tentando controlar a aeronave, Judith agarrando-se no banco.

O voo durou exatos seis minutos – os seis minutos mais longos de nossas vidas. Finalmente pousamos, mais mortos que vivos. A moça nos ajudou a sair e deu-nos uma notícia surpreendente: Judith tinha, sem saber como, abatido um avião inimigo. Quem era esse inimigo, onde estava o tal avião, e como tínhamos conseguido acabar com ele ficou sendo um mistério. Como os mistérios que povoam nossa infância e que com ela voam.
*Escritor. Colunista da ZH - 11/10/2009

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