MARTHA MEDEIROS*
Fico sempre de pé atrás com pessoas que passam por uma metamorfose radical, virando justamente o oposto do que eram. Quando li um depoimento da outrora Regininha Poltergeist, furacão sensual, musa de Fausto Fawcett e que teve breve carreira como atriz pornô, dizendo que hoje atende pelo nome de Regininha Pentecostes, me deu um frio na espinha. De louca a santa? Ora. De louca a louca e meia.
Acabei lendo um pouco mais sobre essas “perdidas” que se transformam em crentes, as Marias Madalenas deste século. E soube que algumas ex-capas de revistas masculinas hoje estão a serviço da castidade e da abstinência, inclusive pretendem estrear um programa na linha do Saia Justa para “levar uma visão de Deus a assuntos polêmicos”. Pregam que sexo, agora, só depois do casamento. Dizem que foram traídas por quase todos os homens que tiveram e que já se pegaram entre elas a socos para defenderem a posse de seus bofes. Hoje, arrependidas, concluem que só lhes resta ajoelhar e orar.
O famoso meio-termo, nem pensar. É como se um gremista fanático virasse colorado do dia pra noite, ou vice-e-versa.
Sou a primeira a incentivar que as pessoas reavaliem suas escolhas e, caso estejam desgostosas, mudem, se deem a chance de vivenciar novas experiências. Faz parte da dinâmica da vida. Alguns baladeiros notívagos hoje dormem depois da novela e acordam às 5h. Garotas de programa se apaixonam, casam e têm filhos, virando fidelíssimas esposas. E, se alguns céticos passam a frequentar a igreja, ótimo, nenhuma contradição, estão em movimento, desde que não inventem de se transformar em novos messias.
Prefiro comprar um carro usado da Rita Cadillac a um da Regininha Pentecostes. Desconfio de pessoas que trocam de nome, que “renascem depois do acidente”, como se fosse um acidente ter vivido uma história que já não lhes interessa mais. Há muitas coisas que fizemos e não voltaríamos a fazer, estamos sempre em busca de crescimento, e trocar de ideia e de hábitos é parte natural da aventura de estar vivo, mas posar de convertida? É acreditar demais em pecado e salvação.
Todos nós temos um pouco de loucos e de santos, somos modernos para nos vestir e caretas para educar os filhos, corajosos para esportes radicais e apavorados para sair de carro à noite. Se há algo que nos torna criaturas saudáveis é justamente o fato de sermos flexíveis, diversos. E divertidos! O passado passou, não é preciso negá-lo e virá-lo do avesso para legitimar uma nova persona, isso mais parece penitência. Engessar-se num único perfil, seja qual for, é doentio. Nada nos define. A não ser o nosso time, claro.
______________________________*Escritora. Colunista da ZH
Fonte: ZH online, 26/05/2010
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