segunda-feira, 31 de maio de 2010

O ''biólogo doméstico'': um especialista indispensável



Começa em 375 dólares uma primeira visita do "home biology consultant", o biólogo doméstico. O protetor da saúde contra as agressões invisíveis que sofremos entre as paredes de um apartamento: exalações químicas, ondas eletromagnéticas e outros venenos escondidos na água da torneira, na despensa, nos detergentes e nos cosméticos.

Em Manhattan, basta entrar no site healthydwellings.com ("casassaudáveis.com") e marcar uma visita com Matthew Waltezke. 35 anos, triatleta, fanático convicto pela saúde. Waltezke estudou na Flórida, no Institute for Bau-Biologie & Ecology, que executa experiências-piloto nascidas na Alemanha. Waltezke se apresenta nas casas com um arsenal que lembra os "Ghostbusters", os caça-fantasmas armados com misteriosos aparelhos eletrônicos. Mas os fantasmas que ele caça são reais.


Ele usa uma medidor multidirecional de frequências de rádio, um gasômetro, uma espécie de compasso eletrônico para o magnetismo, um medidor de umidade. "Contrariamente ao senso comum – explica o biólogo –, também em uma megalópole imersa na poluição como Nova York, a poluição das ruas é 50% inferior à que respiramos dentro das paredes de casa". Justamente onde acreditamos estar mais seguro, estamos cercados.

"Slow Death by Rubber Duck", ou seja, a morte lenta por meio do patinho de plástico, é o título irônico de um estudo publicado por dois cientistas ambientais canadenses. Subtítulo: "O perigo escondido nos objetos cotidianos". Do forno de micro-ondas à tela de TV ultraplana, do detergente para pisos até o banheiro: tudo parece programado para nos matar.

O primeiro exame do biólogo é dedicado aos eletrodomésticos. Até a geladeira emite radiações. As suas radiações, por sorte, se atenuam assim que nos afastamos 30 centímetros dela. O micro-ondas, ao contrário, continua bombardeando-nos a dois metros e meio de distância. Waltezke acrescenta as radiações dos celulares e telefones sem fio, aparelhos hi-fi, computadores, até os interruptores de luz que hoje estão mais na moda, aqueles com regulação de intensidade luminosa.

"Entre os aparelhos eletrônicos domésticos, do automóvel, as antenas nos tetos dos arranha-céus – explica um outro especialista em bioconstrução, Louis Seslin –, a espécie humana é a cobaia de um gigantesco experimento biológico à base de tempestades elétricas".

Outros inimigos são menos hi-tech. O medidor de mofo revela essa praga escondida dentro das paredes, principalmente perto de banheiros e cozinhas: o percentual de pessoas afetadas por alergias, asmas e outros distúrbios respiratórios ligados ao mofo cresce de modo exponencial. E a água que bebemos? Os ambientalistas contestam a mania das águas minerais, que enche o planeta de garrafas de plástico e aumenta as emissões de CO2 (por causa do transporte). Mas a celebrada "água do prefeito" que sai da torneira não é tão pura como gostaríamos. Em Nova York, ela contém flúor, cloro e até traços de arsênico.

O biólogo doméstico Waletzke esvazia o armário do banheiro para revistar os assassinos que nós mesmos introduzimos: cosméticos embutidos de substâncias químicas mortais, como os ftalatos no xampu mais comum. Também não se salvam os produtos New Age que associamos a um bem-estar zen: "Fora com as velas aromáticas – ordena Waletzke –, tudo o que exala fumaça envenena, não importa se é perfumada".

Por 375 dólares, a sua primeira visita no apartamento dura três horas. Ela termina com um diagnóstico preciso, oito folhas, incluindo um elenco de prescrições. "O meu objetivo – explica o biólogo doméstico – é identificar todos os elementos físicos de alto potencial estressante, os alimentos contaminantes, os plásticos cancerígenos, os detergentes tóxicos. Vocês não podem controlar a poluição do planeta que lhes agride assim que saem lá fora. Pelo menos dentro das paredes de casa, vocês têm essa opção".

Por exemplo, repintar todas as paredes com tinta de carbono, cor preto lúcido, que absorve até 97% das ondas eletromagnéticas. Uma alternativa menos custosa: cobrir as paredes com papel de parede de cânhamo natural. Para a água, são obrigatórios os filtros (Oliver Stone tem um consultor específico só para isso, o "biólogo das águas domésticas", que fatura mil dólares por intervenção).

Existem também os remédios "pobres", ao alcance de todos, como as janelas abertas. Um verdadeiro elixir é redescobrir o uso que as nossas avós faziam do vinagre: detergente quase universal, sem contraindicações. Salvo o cheiro que não é um Chanel Nº. 5...

O biólogo doméstico, porém, não quer nos dar outro estresse: "No final do check-up da sua casa – diz Waletzke –, indico uma série de intervenções facultativas, em ordem decrescente de urgência. É preciso ter uma hierarquia de prioridades também nas angústias".
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*A reportagem é de Federico Rampini, publicada no jornal La Repubblica, 29-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU online, 31/05/2010

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