Eliani Gracez Nedel*
O modelo tradicional de família tem sofrido modificações significativas. O modelo do passado era de uma hierarquia em forma de pirâmide, na qual os filhos deviam obediência aos pais. Esse modelo tornou-se decadente e foi substituído por um novo modelo, em que o filho é tão respeitado quanto o pai, e a mulher tem a mesma igualdade e direitos que o homem. Esse novo modelo não é bom nem ruim, ele é apenas diferente.
O problema é que esse novo modelo requer uma nova forma de educação. A nova criança não tem medo, é ousada, não teme os pais e quer liberdade para fazer suas próprias escolhas. Ela quer ser “dona do seu nariz”. Com isso, os pais perderam a autoridade sobre os filhos. A educação pela autoridade deve ser substituída por um novo modelo rico em sabedoria, no qual a criança compreenda sua importância no mundo e seja preparada para exercer seu papel dentro da sociedade. Essa nova criança surge como espelho à liberdade da mulher. A submissão da mulher, no passado, também foi modelo para crianças que deram continuidade ao patriarcado.
Em meio a essa mudança toda, tem jovens que não sabem o que fazer com sua liberdade, porque não foram preparados para enfrentar o grande desafio que é viver e fazer escolhas. Se no passado os pais faziam escolhas pelos filhos, hoje são os próprios filhos que fazem suas próprias escolhas. Isso exige um preparo que muitos não têm. Exige que pais preparem seus filhos para fazer estas escolhas. Nesse novo paradigma, também é preciso ensinar os filhos a lidar com a adversidade e com as falhas humanas. Não somos perfeitos, vamos errar inevitavelmente mais cedo ou mais tarde. No entanto, os pais de hoje procuram dar de tudo aos filhos e criam a ilusão de uma vida sem erros. No passado, quando uma criança tirava notas baixas na escola, ela sabia que teria de se justificar diante dos pais. Hoje, quando uma criança vai mal na escola, os pais tratam como se a falha fosse do professor e não da criança.
No modelo atual, é o professor que tem que se justificar pelo baixo rendimento do aluno, eximindo a criança do erro. O sonho de uma vida sem erros e repleta de prazer muitas vezes acaba no consumo de drogas. Uma fuga às dificuldades da vida que nem sempre é tão perfeita quanta a infância. Um passarinho que cresceu em uma gaiola, quando é colocado em liberdade, morre, porque ele não aprendeu a voar livremente.
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*Filósofa
Fonte: ZH online, 19/05/2010
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