quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cidades sustentáveis


Ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba,
o arquiteto e conselheiro do movimento Planeta Sustentável
JAIME LERNER
 ensina como se faz uma metrópole
com mais qualidade de vida.

Planeta Sustentável: Por que o sr. acredita que cidade não é problema, mas solução?
Jaime Lerner: Porque qualque cidade - em qualquer parte do mundo - pode melhorar sua qualidade de vida em menos de três anos. Isso é possível porque nem sempre a resposta vem com dinheiro público, mas com ações coletivas. É importante ter decisão política, mas é fundamental a visão estratégica para promover uma mudança e fazer com que todas as forças da comunidade atuem a favor.

Quais os principais problemas das grandes cidades atuais?
São vários, mas três deles são essenciais às próprias cidades e à humanidade: mobilidade, sustentabilidade e diversidade social. Se as cidades resolverem bem esses três quesitos, estarão no caminho certo.

E os maiores entraves para a sustentabilidade?
É a falta de visão do que realmente é sustentável. Hoje, a grande dificuldade é a dependência excessiva do automóvel, a moradia afastada do trabalho, a divisão da cidade por função, enfim, tudo o que dificulta a qualidade de vida dos cidadãos.

Qual a contribuição da arquitetura para a sustentabilidade de uma cidade?
É a de propor sempre uma cidade melhor e uma responsabilidade coletiva. Na cabeça de um arquiteto sempre haverá uma boa ideia para a sua cidade. E precisamos aproveitá-la.

Existe uma fórmula para resolver o problema da mobilidade em uma cidade grande?
o segredo é utilizar os meios de transporte: metrô, ônibus, trem, sem jamais fazê-los competir uns contra os outros. Ao contrário, um deve alimentar o outro.

O sr. é contra o automóvel?
Sou contra o uso errado dele. Brinco dizendo que o automóvel é como uma sogra mecânica. Temos que ter boas relações com essa sogra, mas não podemos deixar que ela comande a nossa vida. Se a única mulher da sua vida é a sua sogra, você tem um grande problema.

"Há 20 anos,
entre 60% e 70% da população de Curitiba
separa seus rejeitos para reciclagem.
É o mais alto índice do mundo"

Então o automóvel pode fazer parte de um sistema ideal de transporte?
Sim, temos que fazer uso deles, mas de uma forma semelhante ao uso das bicicletas em Paris, ou seja, como auxiliares do sistema de transporte público.

Que bom exemplo Curitiba tem a dar?
Certamente foi a implantação pioneira, em 1974, do BRT (Bus Rapid Transit), o sistema de transporte coletivo em corredores exclusivos com pagamento antecipado de passagem. Hoje, 80 cidades em vários países já implantaram esse sistema. Curitiba acaba de ganhar o prêmio Globe Award Sustainable City 2010, oferecido por uma entidade sueca de empreendedores sustentáveis.

Como resolver um dos maiores problemas das metrópoles: a imensa quantidade de lixo?
Educando as crianças. Em Curitiba, alunos de escolas públicas separam, reciclam o lixo e ensinam os pais. Em vez de gastar recursos para coletar o lixo e depois desperdiçar energia para separá-lo, por que não o separar em casa? Há 20 anos, entre 60% e 70% da população de Curitiba separa seus rejeitos para reciclagem. É o mais alto índice do mundo.

Onde mais o cidadão das metrópoles pode contribuir para uma cidade sustentável?
Primeiro: usar menos o carro. Segundo: morar mais perto do trabalho. Terceiro: entender que a sustentabilidade é uma equação entre o que se poupa e o que se desperdiça.

Promover inovação e sustentabilidade numa cidade sai caro?
Ideias simples e baratas são as que trazem inovação. Inovar é, sobretudo, colocar a ideia em prática o mais rápido possível  para provocar a mudança. A criatividade vem quando se corta um zero do orçamento, mas a sustentabilidade é quando se cortam dois zeros.

Há quem diga que é impossível colocar em prática uma cidade sustentável com mais de 5 milhões de habitantes. Isso tem fundamento?
Não importa o tamanho da cidade, nem as suas condições financeiras. Existem cidades de 100 mil habitantes piores que cidade de 6 milhões. Depende muito da cidade e de seus administradores, não da quatidade de pessoas que vivem nela.
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Fonte: Revista INFO, nº 291- maio/2010

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