segunda-feira, 24 de maio de 2010

Robin Hood

L. F. VERISSIMO*

 Nunca entendi muito bem o sucesso do Russel Crowe como ator. Ele é da linha do Alan Ladd, de quem se dizia que tinha apenas duas expressões: com chapéu e sem chapéu. Fora, talvez, seu desempenho como o informante naquele filme do Michael Mann sobre os podres da indústria de cigarros, em que só precisava parecer ressentido, Crowe enfrentou feras no Coliseu e férias na Provence com a mesma cara, o que não o impediu de ser o ator preferido de Ridley Scott, que também o escolheu para a sua versão de Robin Hood.

Neste caso, Crowe teve que enfrentar o fato de que o Robin Hood definitivo já existia: Errol Flynn, na versão de 1939 dirigida pelo Michael Curtiz, um dos primeiros filmes coloridos feitos em Hollywood. E Crowe não pode nem alegar que seu Robin Hood é mais velho e portanto não deve ser comparado ao do Errol Flynn. O Robin Hood mais velho definitivo também já foi feito, por Sean Connery, formando um inesquecível casal crepuscular com Audrey Hepburn no papel de Marian, num filme dirigido por quem mesmo? Crowe foi atirado, de novo, às feras.

Como todos os filmes de Ridley Scott, Robin Hood é um espetáculo visual à prova de maus atores e maus roteiros. Uma curiosidade: chamaram o Tom Stoppard para dar um jeito no script, mas não se nota sua presença no roteiro nem aparece o seu nome nos créditos, provavelmente a seu pedido. Depois que o James Cameron se revelou um anti-imperialista furioso em Avatar, Ridley Scott faz do seu Robin um insurgente republicano, que só vira um guerrilheiro fora da lei – o filme é, na verdade, um prólogo da lenda do bandido distributivista – quando o rei se recusa a abrandar sua prepotência de origem divina.

As melhores razões para ver o filme são duas atrizes, Cate Blanchett, como uma Marian também já madura, e Léa Seydoux, como a namorada francesa do rei. Os franceses, como se sabe, inventaram o boudoir, uma peça da casa especificamente para a mulher bouder, ou fazer beicinho. As francesas fazem beicinho como ninguém. Léa Seydoux só aparece em cena para bouder, mas o faz magnificamente. Seu beicinho redime o filme.
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*Escritor. Colunista da ZH
Fonte: ZH online, 24/05/2010

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