Por Redação Link
Por Alok Jha / The Guardian
Em fevereiro do 2008, a Nasa enviou a música “Across the Universe”, dos Beatles, para viajar pelo universo. Apontando seus telescópios para as profundezas do espaço, astrônomos discotecaram para na direção da estrela Polaris, esperando que a música pudese ser ouvida por extraterrestres inteligentes durante sua longa jornada de 430 anos até a estrela.
A procura por espécies inteligentes fora da Terra pode ser um marco na literatura e no cinema, mas também está acontecendo na vida real. As sondas da Nasa estão buscando planetas fora do nosso sistema solar, e astrônomos estão ouvindo o espaço atentamente à espera de qualquer mensagem. Seria inspirador conseguir uma confirmação de que não estamos sozinhos no universo e falar, finalmente, com uma raça alienígena, não?
De acordo com o célebre físico Stephen Hawking, não. “Se os extraterrestres nos visitarem, os resultados seriam como quando Colombo chegou à América, o que não acabou nada bem para os nativos”, disse ele para um documentário especial do Discovery Channel. Hawking argumenta que, em vez de tentar achar vida no cosmos e se comunicar com esses seres extraterrestres, seria melhor que os humanos fizessem tudo o que pudessem para evitar esse contato.
Baseado no reduzido número de planetas que os cientistas têm certeza que existem, o físico acredita que não somos a única forma de vida no universo. Há, afinal, bilhões e bilhões de estrelas só na nossa galáxia e é razoável esperar que haja um número ainda maior de planetas orbitando em torno delas. Também não é irracional imaginar que algumas dessas formas de vida alienígena sejam inteligentes e capazes de estabelecer comunicação interestelar. Então, quando alguém com o conhecimento de Hawking sobre o universo dá um conselho contrário ao contato, vale a pena ouvir, não?
Seth Shostak é astrônomo sênior do Seti – Search for Extraterrestrial Intelligence (Pesquisa por Inteligência Extraterrestre em inglês), na Califórnia – organização que realiza a intrigante busca por sinais alienígenas – e não está certo disso. “É um medo injustificável”, disse. “Se o interesse deles (os alienígenas) em nosso planeta é por alguma coisa valiosa que a Terra tem a oferecer, não há uma razão particular para se preocupar com isso. Se eles estão interessados em recursos, já possuem jeitos de encontrar planetas rochosos que não dependem de nós emitirmos sinais ou não. Eles podem ter nos achado bilhões de anos atrás.”
Se estivéssemos realmente preocupados com o fato de estarmos gritando para a selva estelar, Shostak diz, a primeira coisa a se fazer é tirar TVs, rádios e os radares de todos os aeroportos do mundo do ar. Essas transmissões têm se propagado pelo espaço por anos – a mais velha já está a mais de 80 anos-luz da Terra – e já é muito tarde para parar de transmitir o Big Brother e outros programas para os ETs.
Guerra dos Mundos
O esforço para procurar vida fora da Terra começou em 1960, quando, na Virgínia, Frank Drake apontou o rádio telescópio Green Bank em direção à estrela Tau Ceti. Ele estava procurando por sinais de rádio anômalos que pudessem ter sido enviados por algum tipo de vida inteligente. Depois sua ideia se transformou no Seti. O Instituto usava o tempo livre de telescópios, radares e computadores espalhados pelo mundo para varrer o céu em busca de qualquer tipo de sinal. Durante 50 anos, o céu ficou em silêncio.
Há problemas práticos envolvidos na busca por alienígenas e o principal deles, obviamente, é o fato de eles estarem longe. Se, em Guerra nas Estelas, nossos vizinhos mais próximos estão na Lua Endor , a mil anos luz daqui, levaria um milênio para nós recebermos qualquer mensagem que eles pudessem ter enviado.
Caso os ewoks endorianos estivessem nos assistindo, a luz recebida da Terra neste exato momento mostraria para eles nosso planeta como era há mil anos: na Europa, várias lutas entre cavaleiros ao redor de castelos; na América do Norte, pequenas tribos de nativos vivendo em belas planícies. Essa não é uma escala de tempo que permite troca de luz entre eles e nós e, de qualquer forma, eles podem nem estar emitindo frequências na nossa direção.
A falta de sinais de extraterrestres não tem, no entanto, impedido que astrônomos e biólogos (para não citar cineastas) apareçam com as mais variadas ideias sobre como os alienígenas devem ser. No começo do Seti, os astrônomos estavam focados na pesquisa por planetas como o nosso – a ideia é que, já que conhecemos somente a nossa biologia, devemos assumir que os alienígenas são como nós. Mas não há nenhuma razão para que isso seja verdade.
Não é preciso sair da Terra para achar formas de vida radicalmente diferente da nossa. “Extremófilos” são espécies que podem sobreviver em lugares que matariam rapidamente um ser humano e outras formas “normais” de vida. Essas criaturas unicelulares foram achadas em saídas de água fervente no fundo do mar e a temperaturas bem abaixo do ponto de fusão da água.
“Com nosso jeito ingênuo e paroquial, nomeamos esses seres de ‘extremófilos’, o que indica preconceito – nós somos normais, todo o resto é extremo”, diz Ian Stewart, matemático da Universidade Warwick e autor de What does a Martian Look Like? (Com o que um marciano se parece?, sem tradução em português). “Do ponto de vista de uma criatura que vive em águas ferventes, nós somos extremos porque vivemos em temperaturas muito amenas. Somos tão extremos comparados a eles, quanto eles comparados a nós.”
Na Terra, a vida existe na água e no solo, mas, em um planeta gasoso gigante, por exemplo, ela pode existir na alta atmosfera, dado que os aliens podem estar completamente fora dos nossos conhecimentos e imaginando os motivos pelos quais eles nunca entraram em contato antes, eles podem estar além até mesmo do que sonha Stephen Hawking.
Paul Davies, astrofísico na Universidade do Estado do Arizona e presidente da força-tarefa de detecção do Seti, argumenta que o cérebro dos alienígenas, com sua arquitetura diferenciada, poderia interpretar informações de um jeito muito diferente do nosso. O que entendemos como bonito e amigável pode soar violento para eles e vice-versa.
“Como os imaginamos muito espertos e conhecedores, muitos acreditam que eles são pacíficos”, acrescenta Stewart. “Eu não acho que podemos dar isso como certo. Não acredito que se possa atribuir visões humanas a eles; é um jeito perigoso de pensar. Aliens são aliens. Se eles existem mesmo, nós não podemos presumir que são como nós.”
Contatos imediatos
Respostas para alguns desses enigmas podem começar a surgir nas próximas décadas. Os astrobiólogos são os pesquisadores que estão na frente de trabalho, em uma área que saiu das margens da ciência graças às melhoras na tecnologia disponível para explorar o espaço.
Cientistas descobriram os primeiros planetas extra solares no início dos anos 1990 e, desde então, os números têm crescido rapidamente. Hoje, são conhecidos 443 planetas orbitando em torno de mais de 350 estrelas. A maioria desses planetas são gigantes gasosos nos moldes de Júpiter – Gliese 581 é o menor deles, com uma massa de 1,9 Terras.
Em 2009, a Nasa lançou o satélite Kepler, uma sonda especificamente projetada para procurar planetas como o nosso.
Futuras gerações de telescópios – como o European Extremely Large Telescope (Telescópio Europeu Extremamente Amplo), com espelho principal de 30 metros de diâmetro – podem estar funcionando em 2030 e devem ser poderosos o suficiente para refletir a atmosfera de planetas distantes, procurando componentes químicos que poderiam indicar a existência de vida.
O Instituto Seti também está com um potente equipamento em construção: o Allen Array, desenvolvido graças a uma doação de US$ 11,5 milhões de Paul Allen, co-fundador da Microsoft. O projeto tem hoje 42 antenas de rádio, cada uma com seis metros de diâmetro. Mas há planos, caso o Seti consiga levantar outros US$35 milhões, de atingir 300 aparelhos de rádio. Em todos os anos de funcionamento do Seti, ele olhou cuidadosamente para pelo menos mil sistemas estelares. Com o Allen Array completo, os pesquisadores poderão olhar mil sistemas em apenas dois anos.
Shostak está confiante que, como a tecnologia continua melhorando, o Seti irá encontrar um sinal extraterrestre em duas décadas. “Nós teremos olhado para outro milhão de sistemas estelares em doze anos. Se isso for funcionar, funcionará logo.”
E o que acontece se e quando detectarmos um sinal? “Meu vigoroso conselho é que as coordenadas da entidade de origem sejam mantidas em segredo até que a comunidade mundial tenha chance de avaliar como lidar com isso”, disse Davies ao jornal The Guardian recentemente. “Nós não queremos ninguém virando um rádio telescópio para o céu e enviando suas próprias mensagens para a fonte.”
Mas seu colega, Shostak, diz que não deveríamos ter esse tipo de preocupação. “Vocês estão falando da comunidade astronômica – milhares de pessoas. Vai pedir a eles para não contarem para ninguém onde estão colocando as antenas? Não há jeito de fazer isso. E, de qualquer forma, por que você não diria a eles onde (a forma de vida alienígena) está? Você está com medo de que as pessoas possam transmitir suas próprias mensagens? Eles podem até fazer isso, mas, lembre-se, o Gong Show já está sendo transmitido há anos.” Bem como os Beatles.
Quem é Stephen Hawking?
Doutor em Cosmologia, o físico inglês Stephen Hawking sugeriu a unificação da Teoria da Relatividade de Einstein com a Teoria Quântica. Seus estudos mudaram a concepção sobre os buracos negros e mostram que o espaço não tem limites ou fronteiras. Ele acredita que o início do Universo foi totalmente regido pelas leis da ciência. Aos 21 anos, descobriu-se portador de uma doença degenerativa que o fez perder a voz e os movimentos. Hoje, Hawking se comunica por meio de um computador acoplado à sua cadeira de rodas – um software permite que ele escolha palavras de uma lista e as reproduza através de um sintetizador de voz.
________________________________________Fonte: Estadão online, 09/05/2010 - http://blogs.estadao.com.br/link/cuidado-com-os-aliens/
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