Ivan Lessa*
Lê-se muito nestas ilhas. Agora de várias formas, mas sempre lendo. Com alguma tristeza, leio (eu não disse que se lia?) nota que informa que o número de livrarias está caindo. Bastante.
Gosto de livros. Às vezes, num pega pra capar de minha vida, leio tudo: bom, ruim, o que estiver mais à mão ou à vista. O objeto físico do livro me faz companhia. Decora a sala e a alma.
Sim, claro, o conteúdo é o que conta. Nunca desprezei nem desprezarei o cheiro de livro novo ou o olor (só vale essa palavra) do livro velho. Gosto também do gosto de livro – e sim eu já devorei, literalmente, algumas páginas. Com açúcar, sal e canela, mas devorei. Foi há muito tempo. Eu deveria estar querendo me fazer de interessante. Ou, sendo mais franco, numa péssima. Livro tem dessas coisas.
Leio, dizia eu, num jornal, que o número de livrarias nas ruas do Reino Unido está declinando além de também estar caindo. Caindo lento e seguro.
A Associação de Livreiros Britânica, válida também para a Irlanda, sabe-se lá porquê, que representa 95% da nobre profissão, é quem dá os dados. São categóricos como só quem lida muito com muitos livros sabe ser: a queda é lenta e segura e válida para os últimos seis anos.
Desde 2006, o número total de livrarias que fazem parte da associação, sem incluir os supermercados, onde se vende besteira às pampas, o que não impede um livro de valer, talvez até o contrário, caiu em 20%. É muito.
Os livreiros independentes também acusaram queda pronunciada. Uma figura de proa da associação já pediu que o governo e as editoras tomem providências. O que me parece coisa de gente sem muita intimidade com a palavra escrita. Sempre que se pede intervenção do governo, dá besteira.
Quanto aos senhores editores, se alguma providência tomaram – concursos, festivais em cidades exóticas, campanhas publicitárias – desconheço-a. Talvez ainda estejam em estado de choque.
Olhaí, tem um troço, ninguém culpou, nem dava para culpar, já que tem seis anos a queda, o livro eletrônico. Esse, ao que parece inodoro, inexistia em 2004.Agora, baratíssimo, está na bica, ou da bica já passou, a virar moda.
Olha o ilustre passageiro, belo tipo faceiro, com seu livro eletrônico, ou e-book, diante das mãos no trem ou no metrô. A turma do ônibus ainda vai de tablóide sensacionalista. São como a gente com Justin Bieber. Ô paixão, sô!
Alguns números: em 2006 eram 4495 o número de livrarias sem falar em 1483 independentes. Em junho deste ano, caíram para 3683 e os independentes para 1099. Em 2010, 50 novas livrarias abriram suas instalações para o distinto eleitorado através da Grã-Bretanha inteira sendo que 72 fecharam e foram ser lojas de ferragem ou outras grossuras. Ou seja, 22 livrarias pela bola 7 foram encaçapadas mais as 50 estalando de novinhas.
Eu falei no livro eletrônico. A partir de 2010, passou sim a contar ponto. Sofreu, ou melhor gozou, de um aumento de 318%.
Há previsões de que, dentro de 10 anos, 50% de todos os livros serão downloads digitais. Todos, como acontece com os que ainda vem com capa e páginas, com certeza sobre culinária ou saúde física (é dado da associação).
Do que se pode concluir que os britânicos ainda tem força para carregar (upload?) um quadradíssimo retângulo de papel couché de preferência.
Uma sugestão: seja você, amigão, o primeiro de seu quarteirão, bairro, cidade e país, a comprar online um volume de poemas do poeta escandinavo Tomas Transtroemer, agorinha mesmo laureado com o prêmio Nobel de Literatura.
Há horas em que a presença de um livro, na mão ou displicente na mesinha da sala, fala – claro – volumes. Um livro nem sempre precisa ser lido, basta estar presente.
Ou, em a havendo, vão de biografia de Justin Bieber. Leiam.
Peguem nesse levíssimo pesado, se querem fazer a si próprios e à instituição histórica do livro um favor. Vale a pena. Vida, Paixão e Morte de Justin Bieber.
Palavra que esse eu importava. Essas roquices (de rock, né?) ficam muito melhores, muito mais divertidas em nossa língua materna.
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*Colunista da BBC Brasil
Imagem da Internet
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