m busca do silêncio: escritora Sara
Maitland investiga as revelações por trás da solidão - Divulgação
Escritora Sara Maitland se interessa pela ausência de ruídos como um fenômeno cultural e transformou sua vida num laboratório
Após crescer numa família com seis irmãos, casar-se e ter dois filhos,
a escritora britânica Sara Maitland descobriu-se fascinada pelo silêncio. Ela,
então, juntou suas coisas e mudou-se para uma casa estrategicamente construída
numa região da Escócia onde há uma das menores densidades populacionais da
Europa. Ela vive a 16 quilômetros do supermercado mais próximo, não conta com
sinal de celular e passa o dia inteiro sem ver uma única pessoa (fato que ela
adora). Mas a escritora garante nada disso significa uma vida de solidão, já
que a amizade permanece como um dos valores centrais de sua vida. Toda essa
experiência permitiu que escrevesse o livro “Como ficar sozinho”, que integra a
série “The school of life”, lançada no Brasil pela Objetiva.
Você diz que estar sozinho é
diferente de ser solitário. Qual é, de fato, essa diferença?
Quando alguém está no chuveiro, geralmente está sozinho, mas praticamente
nunca solitário. Quase todo mundo possui atividades que gosta de fazer só. É o
caso da maioria dos escritores. Durante o trabalho, sentiriam a chegada de
outra pessoa, mesmo que um ser amado, como uma interrupção. Seria absurdo
chamá-los de solitários. É possível estar sozinho, mas não solitário, porque a
pessoa gosta de estar assim. E a palavra “solitário” implica em não ser feliz.
Por que as pessoas têm tanta dificuldade em ficar sozinhas?
Vivemos em uma sociedade que diz que quem está sozinho é, de alguma forma,
uma pessoa que falhou como humano. Também diz que está sentindo falta de alguém
cuja presença anseia, como uma condição de luto e separação. Você também corre
o risco de descobrir que não gosta de si mesmo o quanto esperava ou ter medo,
por exemplo, de sofrer um estupro e até cair e precisar de ajuda. Além disso,
ninguém nunca lhe ensinou a gostar de estar sozinho. Afinal, gastamos um tempo
enorme ensinando as crianças a serem sociáveis, mas raramente as deixamos
experimentar como é estar sozinho.
Vivemos em um mundo que exclui quem
opta por viver sozinho?
Excluir pode ser um termo muito forte. Mas, certamente, desencoraja. Hotéis
geralmente têm poucos quartos individuais e cobram das pessoas que estão
sozinhas custos extras para o uso de um quarto duplo. Pequenas embalagens de
alimentos são mais caras do que as grandes e assim por diante...
Mas, por outro lado, este mesmo
mundo está conduzindo as pessoas à solidão em alguns aspectos?
Essa é uma grande questão. Temos comunidades fragmentadas pela alta
mobilidade. As pessoas tendem a viver longe de suas famílias e comunidades
originais. Isso impõe àqueles com menos mobilidade, muitas vezes os mais
velhos, o isolamento. Também temos uma nova realidade em que estamos conectados
24 horas por dia, na qual pessoas que não tenham 500 amigos no Facebook podem
sentir-se solitárias, de uma forma que não acontecia há 50 anos.
Pesquisas em diferentes países
mostram o aumento no número de pessoas que moram sozinhas. O que está por trás
disso?
Sabemos com bastante precisão, no Reino Unido, que os dois grupos que mais
crescem neste sentido são mulheres com mais de 70 anos, em função do luto, e
homens entre 30 e 45, devido à ruptura conjugal, já que as crianças ainda
tendem a ficar com a mãe. E como estas são duas causas infelizes, que
independem da escolha pessoal, acabam levando ao sentimento de solidão. Mas não
tenho ideia do que isso significa realmente. É um fenômeno muito novo.
Que tipo de revelações experiências
solitárias podem proporcionar?
Estar só nutre trabalhos artísticos de vários tipos, especialmente
literários. Tal condição proporciona espiritualidade e experiências místicas.
Há um forte indicativo de que isso aprofunda o amor e a apreciação da natureza.
É algo que, obviamente, permite o desenvolvimento de gostos pessoais, da
originalidade, da gestão do tempo e da independência de pensamento e ação.
Suspeito que aumenta a autoestima, além do senso de competência e capacidade.
Na verdade, acaba por ser muito boa para a saúde, pois reduz o estresse e,
portanto, a frequência cardíaca e a pressão arterial. Dormir sozinho melhora a
qualidade do sono e dos sonhos. Mas a maior surpresa é a descoberta de que
sozinho você é, de fato, uma pessoa interessante, com muitos recursos
inesperados.
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Reportagem por Eduardo
Vanini
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