terça-feira, 9 de junho de 2015

Social, Ecológica e Humana

 Marcus Eduardo de Oliveira*
Toda ciência social, guardadas as diferenças entre os campos específicos de atuação, deve ser posta, na prática, à serviço de ajudar no progresso humano. Por isso o trabalho humano mais essencial, certamente, é o de cuidar das pessoas e do Planeta que nos acolhe.

Deixar de fazer isso, ou fazer com menosprezo, com desrespeito ao próximo e/ou ao meio ambiente, é permitir que prosperem problemas como fome, pobreza, desigualdades, mortes precoces decorrentes de doenças evitáveis, e degradação/crise ambiental-ecológica.

Tais ocorrências – estejamos certos disso – podem perfeitamente ser associadas, em grande medida, a sistemas econômicos imperfeitos. Superar, pois, essas imperfeições e esses “descuidos” econômicos pelos caminhos por onde transita a ciência econômica é perfeitamente possível.

Para tanto, a economia precisa, no mínimo, dar mais atenção à questão do bem-estar das pessoas e ter um cuidado mais especial para com o planeta Terra.

Especialmente na questão do bem-estar social, foi assim que Alfred Marshall (1842-1924) – um dos mais eminentes economistas de todos os tempos -, se posicionou quando defendeu em Principles of Economics, obra publicada pela primeira vez em 1890, que “a suprema finalidade da economia é elucidar a questão social”.

Tal assertiva marshalliana corrobora com a análise que dá conta que o principal e o mais alto interesse dos estudos econômicos residem no fato que as decisões econômicas, tomadas tanto no nível privado, quanto no público, interferem sensivelmente na qualidade de vida das pessoas.

Em relação à economia, existe certa tendência em acreditar que o campo de análise e preocupação dessa ciência deve repousar continuadamente sobre a abordagem social, ainda que determinados segmentos das ciências econômicas ignorem o ser humano e façam, pois, o jogo contrário.

Indiscutivelmente, a questão socioeconômica permeia o nosso dia a dia.

Diante disso, as perguntas que ficam para uma melhor análise desse fato são as seguintes:

1) Como conseguir orientar uma economia no sentido de criar condições para a harmonia social?;

2) Como criar uma sociabilidade humana dentro da vida econômica normal?;

3) Como fazer a economia servir aos homens?;

4) Como criar uma economia cuja dimensão principal seja o estabelecimento da boa relação entre o mercado e a sociedade?;

5) Como criar, consolidar e fazer prosperar uma economia solidária, pautada no elementar princípio da comunhão, com ajustes de fraternidade e de partilha entre seus membros?

De certo modo, não tenhamos dúvidas de que a economia gira ao redor de tudo. Nesse sentido, a ciência econômica pode ser vista como uma excelente disciplina para a compreensão do mundo. Se o fito fundamental dessa ciência social é o de proporcionar o desenvolvimento de todos e para todos, nada mais plausível então que fazer da economia, metaforicamente falando, uma espécie de “escada” de fácil acesso para essa realização.

Estejamos certos que a economia – para se firmar definitivamente como uma ciência que estuda a vida dos homens e suas relações com o ato de produzir e de consumir -, e para responder afirmativamente as indagações acima lançadas, necessita construir ao seu redor uma engenharia social (uma economia civil ou uma cívica economia) capaz de captar essencialmente as constantes ações individuais que envolvem a vida das pessoas.

Para isso, nesse arcabouço social a ser construído e solidificado, não pode escapar a ideia que os sistemas econômicos devem promover, primeiramente, a felicidade e o bem-estar humanos.

Por isso cabe à ciência econômica desenvolver uma visão solidária e mais fraterna da vida. A economia – acreditemos nisso – nada é sem um projeto de vida. Em certa medida, é necessário provocar essa reflexão em torno de se visualizar a atividade econômica como uma ferramenta indispensável para “estudar” as maneiras de melhorar as condições de vida das pessoas.

É imprescindível criar, para tanto, uma nova economia: uma economia social, ecologicamente correta e essencialmente humana, com solidariedade e comunhão plenas.

Essa nova economia deve, antes, ser social, no sentido de envolver o estudo sistemático das relações sociais fartamente enraizadas no seio da sociedade.

Deve ser ecologicamente correta quando se percebe apenas como um subsistema de algo maior: o meio ambiente e, por isso, passa a respeitar as leis da natureza.

E, por fim, deve ser humana à medida que prioriza o atendimento às necessidades das pessoas, fazendo disso um verdadeiro projeto de vida.
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*Marcus Eduardo de Oliveira, Articulista do Portal EcoDebate, é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: Publicado no Portal EcoDebate, 09/06/2015
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