quarta-feira, 10 de junho de 2015

Os falsos reis da nobreza brasileira

Juremir Machado da Silva*


A monarquia é uma das coisas mais absurdas já inventadas pela humanidade.

A monarquia fake é obviamente pior.

Esse negócio de chamar alguém de rei é de uma mediocridade absolutista. Só pode ser explicado por uma espécie de “servidão voluntária”, uma nostalgia de ser súdito de algum déspota quase sempre pouco esclarecido. Pelé e Roberto Carlos mereciam mais imaginação na hora de render-lhes homenagem. Pelé foi ótimo jogando futebol, embora seja uma bobagem pretender que ele não possa ser superado. Roberto Carlos continua bom no que faz, mas, como todo mundo, tem altos e baixos. Pelé e Roberto Carlos emitindo opiniões costumam envergonhar os bobos da corte. Nós. Roberto Carlos tem feito campanha para proibir biografias, clamando por censura. Pelé ainda outro dia disse que corrupção não é um problema seu. Sai de baixo.

Romário fez a melhor frase da sua vida ao dizer que Pelé calado é um poeta. Roberto Carlos cantando é um baita comentarista da vida contemporânea e de nossas paixões. A mídia é enlouquecida por um rei. Brilhou recebe coroa. Os nossos reis querem ser figuras públicas sem o ônus da vida pública. Só aceitam que se fale bem deles e só autorizam biografias que contem as partes selecionadas das suas vidas. No Brasil, falamos muito mal de Maradona cujo comportamento jamais o transformou, salvo pelo dinheiro, no genro sonhado pelos pais mais zelosos. Pelé também não pode ser considerado o melhor exemplo de cidadão. Como? Que é isso?

Pelé é nosso! Por supuesto. Cada com os seus problemas.

Uns se atolam nas drogas. Outros ignoram filhos tidos fora dos casamentos. Ninguém é realmente perfeito.

As melhores cabeças coroadas do Brasil, de Chico Buarque e Caetano Veloso a Roberto Carlos, tinham-se unido para barrar biografias de suas soberanas figuras sem a real autorização dos augustos biografados. Só essa aliança espúria já dá um capítulo em biografias não autorizados de cada um dos signatários do acordo. Gente que lutou contra a censura virando censor. Roberto Carlos, por outros interesses, teria roído a corda como um rato fugindo do navio. Era uma barganha verde-amarela: Roberto Carlos defenderia os direitos autorais. Em compensação, os demais defenderiam o bloqueio a biografias. Durou algum tempo.

Rei que é rei manda sozinho. A decisão agora é do Supremo Tribunal Federal, o último poder real do Brasil.

De minha parte, como libertário, só posso gritar: abaixo a monarquia. Não ajoelho nem para rei momo. Estou cansado de reis e de suas coroas, embora reis curiosamente não gostem muito de coroas e prefiram jovens gatinhas cortesãs. O absolutismo foi obrigado a ceder no passado. Passamos a ter monarquias constitucionais. Pelé e Roberto Carlos ainda não foram informados disso. Pelé apoiou a reeleição de Joseph Blatter certamente por considerá-lo rei da Fifa. Deve estar chocado com a pressão que levou o monarca mais poderoso do mundo a renunciar. Tem um príncipe querendo o lugar. Que tempos! É melhor Pelé tomar cuidado ou dia desses perde a coroa para Messi. O papa já é argentino. Viva a república. Sei que os monarquistas vão querer a minha cabeça. Recuso.

A guilhotina não me cai bem. É cortante.

Quando a Europa vai se modernizar e acabar com todas as suas monarquias para turista ver?
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Cronista.
Fonte: Correio do Povo online, 10/06/2015
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