sexta-feira, 12 de junho de 2015

"O Papa é muito correto doutrinariamente"

 
Prof. Felipe Aquino:
ZENIT entrevista o Prof. Felipe Aquino, autor de 78 livros publicados pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova e apresentador de programas de rádio e TV na Rede Canção Nova.

Com o tema “Fé, Ciência e Razão”, a Comunidade Família em Missão promoveu o II Congresso de Formação Católica do Nordeste, nos dias 6 e 7 de junho, na cidade de Fortaleza. O palestrante convidado foi o conhecido pregador e estudioso brasileiro, professor Felipe Aquino, autor de 78 livros publicados pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova e apresentador de programas de rádio e TV na Rede Canção Nova.

ZENIT, nessa ocasião, teve a possibilidade de entrevistar o Prof. Felipe Aquino. Leia a entrevista abaixo:

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ZENIT: Na sua opinião, professor, como está a Igreja Católica hoje, no geral? Está mais voltada para Cristo, para o essencial da fé? Nesse sentido, qual tem sido o papel dos movimentos atuais, como a Canção Nova, que o senhor faz parte? 
 
Prof. Felipe Aquino:  Na minha opinião a Igreja no Brasil ao mesmo tempo que tem muita força, tem também muitos problemas. Muita força, porque a gente vê que existem muitos movimentos e muitos grupos de oração, muitos líderes religiosos que atuam bastante, mas ao mesmo tempo temos uma grande dificuldade que é a ignorância religiosa do nosso povo. Nosso povo tem muita dúvida, não tem uma formação católica sólida e isso faz com que as seitas enganem muito o povo católico e principalmente na dificuldade financeira, social, política que a gente vive as pessoas querem se agarrar em Deus para resolver seus problemas e muitas vezes com uma formação falha o que acontece é que a pessoa acaba seguindo qualquer seita, qualquer igreja, sem pedir as "credenciais da fé". Este é um problema muito sério.
 
A Canção Nova hoje faz um papel muito importante porque como outras televisões católicas, Século 21, Aparecida, consegue chegar nas casas das pessoas sem que as pessoas precisem vir e aí consegue fazer um pouco desse trabalho. Na minha participação na Canção Nova o que eu procuro fazer é isso. Não só dar um reavivamento espiritual, que é importante, mas também um aprofundamento espiritual. É como a árvore que cresce para cima mas também precisa crescer para baixo, ela precisa ter raízes, senão ela cai por não conseguir retirar os nutrientes do solo.
 
ZENIT: Com o Papa Francisco e sua atuação pastoral, o senhor percebe alguma mudança, aprimoramento ou entendimento na atuação e missão da Igreja?
 
Prof. Felipe Aquino: O Papa Francisco realmente trouxe uma mudança pastoral na Igreja, inclusive eu acho que algumas pessoas não estão entendendo e estão até pensando erradamente que o Papa está fazendo uma mudança doutrinária. Não, não é!  O Papa é muito correto doutrinariamente. Agora ele está fazendo uma mudança pastoral na Igreja. O fato dele ser um ex-cardeal da América Latina, que saiu aqui desta nossa situação e conhece tudo isso que falei anteriormente: situação de seitas e pouca formação, então ele quer exatamente fazer com que a Igreja se abra para este povo, que vá para as periferias, não só para as periferias em termos sociais mas também para as periferias em termos espirituais. Àquela pessoa que é rica mas não tem Deus. Então está na periferia religiosa tanto quanto o pobre e o rico e o Papa tem feito esta mudança e eu acho que isso vai ajudar a Igreja a ser mais aceita, a ser mais aberta e ter mais oportunidade de pregar o Evangelho às pessoas.
 
ZENIT: No Brasil, diante de tantos desafios que hoje norteiam a Igreja (política, protestantismo e falsas doutrinas, relativismo, violência, projetos de lei contrários à vida, etc), como avaliamos a postura da Igreja, e como leigos qual a nossa postura e missão junto a ela?
 
Prof. Felipe Aquino: No Brasil, diante destes desafios difíceis que a gente vive: na política uma corrupção tremenda, o crescimento das falsas doutrinas e do protestantismo, a questão do relativismo moral e religioso, da violência, muitos projetos contra a vida, como aborto e penso que de repente vão querer fazer aí a eutanásia, manipulação de embriões, ideologia de gênero, esta coisa terrível! Penso que a Igreja precisa realmente reagir diante de tudo isso. Hoje graças a Deus eu vejo que temos muitos padres e muitos leigos, principalmente usando a mídia, a internet, sites e estão realmente fazendo uma oposição a isso. Mas é preciso a gente entender que há necessidade também de uma atuação mais a nível político, a nível de Congresso, porque essas coisas não são decididas na praça, são decididas no Congresso. Então o movimento do povo não pode ficar só a nível de Igreja e praça, tem de chegar até os governantes, aos políticos e fazer esta elite política do país, Câmara dos Deputados, Congresso, Senado, sentir que o povo católico não quer isso. E nós somos maioria! Só que uma maioria calada, que muitas vezes não se manifesta, como aconteceu naquilo que disse o Papa Leão XIII: "A audácia dos maus se alimenta da covardia e omissão dos bons". Isso nós não podemos deixar acontecer. E é preciso também, penso, que os Bispos e sacerdotes peguem firme nisso. Eu, graças a Deus, li na própria ZENIT, a manifestação de Dom Keller, Bispo de Frederico Westphalen, exatamente conclamando o povo a lutar contra a ideologia do gênero que é uma coisa realmente anti-evangélica.
 
ZENIT: Alguns temas hoje emergem e são pontuais na vida e no coração da Igreja: Dentre eles o sínodo da família. O que esperar deste sínodo mediante tudo que foi avaliado e já projetado no sínodo extraordinário em preparação para o sínodo ordinário de outubro?
 
Prof. Felipe Aquino: Teremos um Sínodo da Família, que realmente é o assunto mais importante do momento, porque Deus estruturou a humanidade em cima da família. Jesus entrou na nossa história pela família, Ele não precisava ter uma família porque seu pai não era um pai natural, São José era um pai adotivo, mas Jesus segurou São José ali junto com Nossa Senhora pois ele quis ter uma família, quis viver trinta anos com uma família para mostrar para nós que Ele começava a restauração da  humanidade pela família. A família foi a primeira coisa que Deus criou para começar a humanidade. Criou Adão e Eva e disse: crescei e multiplicai-vos e aqui temos a raiz do casamento e da família. Então é preciso realmente que a família seja reabilitada e o que eu espero do Sínodo, que já deu uma caminhada, uma preparação é que haja um novo alento, que a família consiga com a ajuda da Igreja, principalmente contra uma mídia destruidora dos valores morais e dos valores familiares, despertar uma reação contra essa ação midiática que destrói a família, em termos de novela, propagando homossexualidade, aborto, adultério, etc e que vai minando a cabeça do povo, mesmo os católicos que não tem uma formação muito boa.
 
ZENIT: Em diversos grupos católicos temos percebido um fenômeno de retorno às raízes da Tradição, da História da Igreja, de uma busca acentuada pelo conhecimento da Doutrina: Missas Tridentinas, encontros de formação como este que está sendo realizado. O que isso poderia significar? E como fazer para que esse retorno seja acompanhado com o retorno às raízes do evangelho e do amor cristão, proposto pelo Papa Francisco nesse pontificado?
 
Prof. Felipe Aquino: O Espírito Santo sopra sobre a Igreja em todos os tempos. Quando parecia que a Igreja não tinha mais salvação, por volta do Século X, aquele século que papas foram assassinados  por gente de dentro da Igreja, pelas famílias que queriam fazer os Cardeais e os Papas, parecia que a Igreja ia afundar. Mas Deus, através do Espírito Santo, levanta a Igreja e mandou grandes santos como São Domingos de Gusmão, São Francisco de Assis, São Bernardo de Claraval, aqueles "gigantes" levantavam a Igreja. Nós estamos vivendo tempos de grande ceticismo, onde se exalta o pragmatismo, o niilismo. Então o Espírito Santo está trazendo também a sua força e essa força é a volta às origens da Igreja, é a volta aos Santos Padres. A Igreja sempre entendeu isso! O Cardeal De Lubak, francês disse que todas as vezes que houve uma renovação espiritual na Igreja, foi quando a Igreja voltou às suas origens, aos Santos Padres, aos Atos dos Apóstolos. E é o que está acontecendo hoje. O tradicionalismo é bom desde que signifique você ser fiel às raízes. E hoje o povo precisa ser orientado, porque não podemos cair no atraso, no reacionarismo que quer negar por exemplo, o Concílio Vaticano II. "Pelo amor de Deus!" Se negarmos o Concílio Vaticano II vamos ter que negar  todos os outros concílios, pois o Concílio Vaticano II foi tão legítimo quanto os outros. Quem já leu o compêndio do Concílio vê uma obra-prima do Espírito Santo. O que aconteceu foram interpretações erradas do Concílio. 
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Fonte: Horizonte, (ZENIT.org)
Reportagem Por Fabiano Farias de Medeiros

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