David Coimbra*
Uma árvore é um milagre. Estava olhando uma árvore que se ergue aqui
perto de casa. É um grande e escuro carvalho. Suas raízes emergem do
solo como jiboias e se transformam no tronco poderoso que dois homens
juntos não conseguiriam abraçar. Ela se eleva para o céu, frondosa,
orgulhosa, amenizando o clima à sua volta e abrigando uma pequena fauna,
entre formigas, esquilos e passarinhos. Como é linda. Tamanha perfeição
e imponência tem de ser um milagre.
Gosto de árvores. Tenho planos de visitar o Parque das Sequoias, na Califórnia, talvez ainda neste verão. Lá vive a rainha de todas as árvores da Terra, uma sequoia que já existia quando Alexandre, o Grande, usou mais a inteligência do que a força para domar o indomável garanhão Bucéfalo. Estou falando de uma árvore de 2 mil e 500 anos de idade e 82 metros de altura, tão alta quanto um prédio de 30 andares. Essa sequoia tem nome de homem: General Sherman. Deste nome não gosto. O general Sherman foi um matador de índios. Foi ele quem disse que “índio bom é índio morto”.
Os índios sabiam que as árvores são milagres.
Uma mulher grávida também é um milagre. Sempre fico encantado ao ver uma mulher grávida. Ela está “preparando outra pessoa”, como diria Caetano. Como isso é possível, um ser independente e individual se originar das entranhas de outro?
Uma mulher grávida, uma árvore, um gato se espreguiçando, uma tempestade no horizonte, o troar do trovão, o cheiro que se desprende da terra no começo da chuva de verão, o sol que se levanta todos os dias atrás do Monte Fuji, tudo isso é um milagre porque é apenas o que é. Verdade que a mulher grávida, ao contrário de todos os demais exemplos que citei, tem consciência de existir e da sua gravidez. Ela bem pode estar se preocupando com o futuro da pessoa que está dentro dela, mas o que está acontecendo com seu corpo, a formação do feto até a transformação em criança, aquele processo inteiro se dá independentemente da sua consciência. É uma atividade da natureza, como o ir e vir das ondas do mar. É um milagre.
O homem deixa de ser um milagre quando se inquieta com o que virá. Ele é o único elemento da natureza que tem a concepção do futuro. Na verdade, o homem inventou o futuro. Nem as formigas e os esquilos que acumulam mantimentos no carvalho perto da minha casa se angustiam com o futuro. Sua atividade faz parte do movimento da sua existência, como o dia que sucede a noite.
Tenho a convicção nada mística, mas completamente cerebral, de que nosso maior problema é pensar nos problemas. A cada dia basta o seu cuidado, disse Jesus. Mas aprender a viver bem o dia, sabendo que os problemas do dia seguinte só importam ao dia seguinte, isso também seria um milagre.
Gosto de árvores. Tenho planos de visitar o Parque das Sequoias, na Califórnia, talvez ainda neste verão. Lá vive a rainha de todas as árvores da Terra, uma sequoia que já existia quando Alexandre, o Grande, usou mais a inteligência do que a força para domar o indomável garanhão Bucéfalo. Estou falando de uma árvore de 2 mil e 500 anos de idade e 82 metros de altura, tão alta quanto um prédio de 30 andares. Essa sequoia tem nome de homem: General Sherman. Deste nome não gosto. O general Sherman foi um matador de índios. Foi ele quem disse que “índio bom é índio morto”.
Os índios sabiam que as árvores são milagres.
Uma mulher grávida também é um milagre. Sempre fico encantado ao ver uma mulher grávida. Ela está “preparando outra pessoa”, como diria Caetano. Como isso é possível, um ser independente e individual se originar das entranhas de outro?
Uma mulher grávida, uma árvore, um gato se espreguiçando, uma tempestade no horizonte, o troar do trovão, o cheiro que se desprende da terra no começo da chuva de verão, o sol que se levanta todos os dias atrás do Monte Fuji, tudo isso é um milagre porque é apenas o que é. Verdade que a mulher grávida, ao contrário de todos os demais exemplos que citei, tem consciência de existir e da sua gravidez. Ela bem pode estar se preocupando com o futuro da pessoa que está dentro dela, mas o que está acontecendo com seu corpo, a formação do feto até a transformação em criança, aquele processo inteiro se dá independentemente da sua consciência. É uma atividade da natureza, como o ir e vir das ondas do mar. É um milagre.
O homem deixa de ser um milagre quando se inquieta com o que virá. Ele é o único elemento da natureza que tem a concepção do futuro. Na verdade, o homem inventou o futuro. Nem as formigas e os esquilos que acumulam mantimentos no carvalho perto da minha casa se angustiam com o futuro. Sua atividade faz parte do movimento da sua existência, como o dia que sucede a noite.
Tenho a convicção nada mística, mas completamente cerebral, de que nosso maior problema é pensar nos problemas. A cada dia basta o seu cuidado, disse Jesus. Mas aprender a viver bem o dia, sabendo que os problemas do dia seguinte só importam ao dia seguinte, isso também seria um milagre.
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* CRONISTA DA ZH
Fonte: ZH online, 24/06/2015
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