LEI E LEIA-SE
No dia 24 de Junho deste ano entrou em vigor a lei nº. 18118 que
proíbe o uso de equipamentos eletrônicos — leia-se celular e similares —
para fins não pedagógicos durante o horário de aulas nos
estabelecimentos de educação de ensino fundamental e médio no Estado do
Paraná. Penso que o mesmo já ocorreu ou está ocorrendo em outros
estados
Nada mais acertado.
Está provado que o processo cognitivo depende do foco no objeto de
aprendizagem, portanto qualquer elemento estranho que rouba a atenção e
dificulta a concentração evidentemente o prejudica.
Naturalmente como ocorreu com outras leis que regulamentavam algum
tipo de obviedade — tais como a lei antifumo, por exemplo — surgiu uma
certa resistência no início, mas com o passar do tempo a prática já se
incorpora na conduta diária, haja vista que muitos anos antes da atuação
de nossos legisladores as escolas já apresentavam tal norma de conduta
em seu regimento interno.
Assim, a maioria dos alunos passa a deixar seus celulares no modo
silencioso ou mesmo desligados ao entrar em sala. Dá para perceber que
compreendem perfeitamente as razões de tal proibição, consentem e
colaboram.
Geralmente quando ocorre alguma desobediência às normas, ela é
pontual, muito rara e está efetivamente relacionada a um simples
esquecimento por parte do aluno, que ao ser alertado desliga o telefone
sem maiores problemas.
Fica patente que tudo deve ser regido pelo bom senso, afinal devemos
ser rigorosos para que ocorra essa otimização do uso de tais
dispositivos em ambiente escolar – mas ser rigoroso não quer dizer ser
rígido.
Porque existem momentos em que cabe perfeitamente a utilização de um
celular smartphone para fazer uma consulta rápida à internet, a um
dicionário, a um livro digital e assim por diante.
Infelizmente a lei surgiu como uma necessidade de regulamentar o uso
desses dispositivos em virtude de tensões crescentes em muitas
comunidades escolares.
Mesmo sendo uma obviedade e uma simples norma de boa conduta teve que virar lei para que de um modo geral fosse levada à sério.
Agora eu me pergunto:
— Será que terá que virar lei a regulamentação do uso desses
dispositivos — não apenas nas atividades escolares — mas também nas
demais atividades cotidianas?
Algo no estilo:
— Fica proibido a insensibilidade nas relações interpessoais.
Ou melhor:
— Desligue seu celular e viva!
Não é raro ver aquele punhado de pessoas robotizadas cutucando seu
smartphone ou outro equipamento análogo completamente alheias ao que
acontece ao seu redor. Desprezando a interação pessoal e imediata de
quem está ali, presencial, em carne e osso, a seu lado.
E por que disso?
Será que esperamos uma lei estadual, federal ou universal para que aprendamos a ter sensibilidade de enxergar o óbvio?
Será que essa forma de inversão de hierarquia não será apontada, em
um futuro mais esclarecido, como mais uma doença social desses anos
bárbaros?
Gente! É sério! De verdade!
Custa deixar o telefone desligado ou mesmo colocado no modo silencioso quando estamos rodeados de amigos ou familiares?
O que pode ser tão urgente e tão prioritário que nos impeça de
conversar pessoalmente com uma pessoa querida sem interrompê-la para
cutucar um aparelho eletrônico? Tá. Tem alguém do outro lado. Mas será
que ele não pode esperar um pouco?
— Afinal dar a atenção para quem está do nosso lado, fisicamente, nos
dando atenção é muito mais que um ato de respeito e consideração.
É acima de tudo uma demonstração de afeto.
Não! Não é assim! São os outros que me ignoram!
São os outros que fincam a cara em suas gerigonças acessando infinitas redes sociais onde se emula a amizade.
Eu apenas dou o troco.
Eu não recebo atenção portanto também não dou a atenção.
Fica assim estabelecido o jogo do perde-perde, onde o egoísmo e a
vaidade são as molas propulsoras de um revanchismo cíclico e
retroalimentado.
É o aparelho em si que oferece essa alternativa ou somos nós seres
pretensamente humanos que estamos paulatinamente nos desumanizando?
Virando anexo de um eletrônico?
Eu penso que a tecnologia está a nosso serviço e somos nós quem apertamos os botões!
Ou não?
Afinal tais aparelhos foram concebidos para efetivar nossa comunicação – um enlace cognitivo e afetivo entre duas inteligências.
Acho que está faltando afeto e inteligência para estabelecer essa comunicação.
Comunicação?
Pois é exatamente isso o que não estamos fazendo!
— E se você querido leitor, está lendo esse artigo em um smartphone
que tal olhar ao redor e ver se alguém a seu lado não está querendo
conversar com você?
Faça por você. Mas, faça-o agora!
— Antes que precise virar lei.
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Artigo de Mustafá Ali Kanso . Professor e conferencists. Fonte: http://hypescience.com/acesso 08/06/2015
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