Montserrat Martins*
O Odebrecht deve estar arrependido de não ser banqueiro, onde poderia
lucrar à vontade, com leis e governos sempre a favor. Entre 1980 e 2014,
o Estado brasileiro aplicou 861 bilhões em investimentos e 3 trilhões e
584 bilhões com o pagamento de juros, dado publicado pelo jornalista
Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, que não foi manchete daquele jornal
e de nenhum outro do país – quem quer se incomodar?
Poderosos mesmo não são os corruptos, são os que tem as leis a seu
favor. Agiotagem é crime, mas os juros bancários extorsivos, seja sobre
as pessoas comuns, seja sobre os governos, são legais. A Função Social
da Empresa está na Constituição, Art.5º,XXIII, que enfatiza que “a
propriedade atenderá a sua função social”. Mas na prática o Barão de
Itararé já explicava como isso funciona, “banco é um lugar que te
empresta dinheiro, se você provar que não precisa”.
No ambiente interno dos bancos, os funcionários são sugados até a
exaustão. Um número expressivo de bancários – não só de funcionários
comuns, mas inclusive de cargos de chefia, muitos deles Gerentes, passam
a precisar de atendimento psiquiátrico em função do estresse crônico e
cumulativo a que são submetido pela pressão constante pelas famosas
“metas” a atingir.
Bertold Brecht foi quem matou a
charada:
“Melhor que roubar um banco,
é fundar um”.
Os psiquiatras são testemunhas involuntários das várias formas de
perversidade intrínsicas aos bancos, sejam privados ou estatais, todos
dentro da mesma lógica da competição por produtividade. Jovens da faixa
dos 20 anos de idade são rapidamente promovidos a funções gerenciais,
para atrair clientes com a “boa aparência” dos funcionários que os
induzirão a contratar os mais diversos “produtos” dos bancos. Os
Gerentes mais experientes, que sabem que alguns negócios podem não ser
bons para os clientes, podem ter crises de consciência em induzir
pessoas a fazer certos negócios, mas são pressionados a “fechar metas”
mesmo assim.
Quando bancários passam a ter problemas psiquiátricos e a depender do
INSS, por terem de tomar medicação e não conseguirem mais trabalhar,
eles tem uma perda financeira grande, em relação ao tempo na ativa,
principalmente os que já foram Gerentes. Mesmo assim, a simples menção
dos nomes de seus bancos, metas e uma série de siglas de produtos que
vendiam, lhes faz terem sintomas de pânico. Dinheiro não é tudo na vida,
eles querem ter um mínimo de saúde, que lhes foi sugada pelo sistema
financeiro, uma “máquina de moer carne” por dentro e para fora.
A quem beneficiam os bancos, hoje? Nem aos funcionários, nem à
indústria ou ao comércio, sob altos juros, nem ao governo, nem à
sociedade. Meia dúzia de banqueiros, os donos, são os únicos
beneficiários de um sistema perverso. Bertold Brecht foi quem matou a
charada: “Melhor que roubar um banco, é fundar um”.
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* Montserrat Martins,
Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em
Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da
Sustentabilidade.
Publicado no Portal EcoDebate, 29/06/2015
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