Montserrat Martins*
Estamos num ano difícil, se confirmaram as previsões de um 2015
recessivo, com empresas contendo gastos e demitindo. Explicam os
economistas que existem ciclos e isso seria normal, tanto que as ações
do governos para conter os períodos recessivos são chamadas de medidas
“anticíclicas”.
Mas a economia não é uma ciência exata, depende também do fator
humano, do comportamento social e de lideranças que influem sobre esse
comportamento. Você pode gostar ou não do Lula, mas um fato reconhecido
(até mesmo no Le Monde, na época) é que em 2008, quando se falava que a
crise mundial era um “tsunami”, ele injetou otimismo dizendo que aqui no
Brasil ela não passaria de uma “marolinha”. Claro que para isso o
governo teve que fazer a sua parte investindo em obras, as tais de ações
“anticíclicas”, mas sinalizar positivamente para a população também
manteve aquecida a economia.
O governo agora alega sofrer “resquícios da crise internacional” para
justificar as dificuldades de 2015, quando sabemos que gastou demais em
ano eleitoral e a conta chegou agora. Então o comportamento dos líderes
do país influi sim na crise, pois com a contenção de despesas puxou o
freio de mão na economia.
Mas o fator humano não se manifesta só na macroeconomia, ele está
presente em nossas vidas cotidianas, nas pequenas coisas. Assim como
acontece com o país, acontece nos grupos menores, acontece nas famílias,
acontece na sua vida pessoal. Todo mundo tem algo para administrar na
vida, tem de se preparar para ciclos e ter as suas própria medidas
“anticíclicas” pessoais.
Um dos mais sábios livros sobre relacionamentos é O Monge e o
Executivo, no qual o protagonista é um executivo estressado com as metas
a atingir, resultando em que estressa todos ao seu redor com sua
demanda por produtividade. Tendo sucesso no mundo dos negócios, descobre
que é um fracasso em sua vida pessoal, as pessoas não gostam dele, a
própria família está infeliz com ele.
Essa é a “sustentabilidade das relações”, respeitar as pessoas e não
apenas as “metas”, pois sejam estas alcançadas ou não, as pessoas
estarão novamente lá, dia após dia, e o modo como forem tratadas
produzirá resultados futuros.
No mercado de trabalho e nas próprias famílias, todos os dias há
conflitos entre metas a serem alcançadas e o estresse das pressões para
isso. O papel dos líderes (e dos pais, em casa) é estimular trabalho e
responsabilidade, mas isso requer “feeling”, um tom de sensibilidade
para não cometer injustiças ou estressar demais as pessoas. Não é só o
quanto se ganha que determina a felicidade em casa, é também o modo como
as pessoas se relacionam. A sua casa, afinal, é o seu primeiro “país”.
-----------------------
*Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em
Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da
Sustentabilidade.
Publicado no Portal EcoDebate, 22/06/2015Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário