segunda-feira, 22 de junho de 2015

O FATOR HUMANO

 Montserrat Martins*
 
Estamos num ano difícil, se confirmaram as previsões de um 2015 recessivo, com empresas contendo gastos e demitindo. Explicam os economistas que existem ciclos e isso seria normal, tanto que as ações do governos para conter os períodos recessivos são chamadas de medidas “anticíclicas”.

Mas a economia não é uma ciência exata, depende também do fator humano, do comportamento social e de lideranças que influem sobre esse comportamento. Você pode gostar ou não do Lula, mas um fato reconhecido (até mesmo no Le Monde, na época) é que em 2008, quando se falava que a crise mundial era um “tsunami”, ele injetou otimismo dizendo que aqui no Brasil ela não passaria de uma “marolinha”. Claro que para isso o governo teve que fazer a sua parte investindo em obras, as tais de ações “anticíclicas”, mas sinalizar positivamente para a população também manteve aquecida a economia.

O governo agora alega sofrer “resquícios da crise internacional” para justificar as dificuldades de 2015, quando sabemos que gastou demais em ano eleitoral e a conta chegou agora. Então o comportamento dos líderes do país influi sim na crise, pois com a contenção de despesas puxou o freio de mão na economia.

Mas o fator humano não se manifesta só na macroeconomia, ele está presente em nossas vidas cotidianas, nas pequenas coisas. Assim como acontece com o país, acontece nos grupos menores, acontece nas famílias, acontece na sua vida pessoal. Todo mundo tem algo para administrar na vida, tem de se preparar para ciclos e ter as suas própria medidas “anticíclicas” pessoais.

Um dos mais sábios livros sobre relacionamentos é O Monge e o Executivo, no qual o protagonista é um executivo estressado com as metas a atingir, resultando em que estressa todos ao seu redor com sua demanda por produtividade. Tendo sucesso no mundo dos negócios, descobre que é um fracasso em sua vida pessoal, as pessoas não gostam dele, a própria família está infeliz com ele.

Essa é a “sustentabilidade das relações”, respeitar as pessoas e não apenas as “metas”, pois sejam estas alcançadas ou não, as pessoas estarão novamente lá, dia após dia, e o modo como forem tratadas produzirá resultados futuros.

No mercado de trabalho e nas próprias famílias, todos os dias há conflitos entre metas a serem alcançadas e o estresse das pressões para isso. O papel dos líderes (e dos pais, em casa) é estimular trabalho e responsabilidade, mas isso requer “feeling”, um tom de sensibilidade para não cometer injustiças ou estressar demais as pessoas. Não é só o quanto se ganha que determina a felicidade em casa, é também o modo como as pessoas se relacionam. A sua casa, afinal, é o seu primeiro “país”.
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*Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.
Publicado no Portal EcoDebate, 22/06/2015
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