Libby Spears não pára.
Após fazer denúncias sobre o abuso sexual de crianças
nos Estados Unidos com o polêmico documentário Playground,
a diretora e produtora americana aproveitou a passagem pelo Rio de Janeiro
para conhecer as favelas da cidade e tentar,
futuramente, fazer um trabalho social no lugar.
Foi depois de uma dessas visitas que a
encontramos no Centro Cultural Justiça Federal,
nesta quarta-feira, para falar de seu filme,
em cartaz no Festival do Rio.
Durante as filmagens de Playground,
Durante as filmagens de Playground,
Libby criou a The Nest Foundation,
que tenta levantar recursos para ajudar as vítimas de abuso.
Ela continua com o trabalho e agora se dedica a fazer pesquisas
sobre o assunto para levá-las
às autoridades responsáveis.
- Abuso sexual infantil é um problema universal
- Abuso sexual infantil é um problema universal
- disse ela em entrevista exclusiva ao Terra.
- Queria que as pessoas falassem desse assunto e
não mais o escondessem debaixo do tapete,
como se ele não existisse.
Como a internet contribui para o aumento de casos de exploração sexual infantil?
No passado, quando um pedófilo tinha desejos sexuais por uma criança, ele não tinha como dividir esse sentimento porque corria o perigo de se expor. Na internet existem centenas de comunidades em que pode encontrar outros como ele. É lá que ele divide suas experiências, fotos, vídeos e conta dos seus desejos, acreditando estar anônimo. Além disso, a internet contribuiu para que algumas casas que trabalham com esse tipo de prostituição consigam fazer anúncios que seriam impossíveis no meio social comum.
Quando você decidiu fazer um filme com esse tema? Foi antes ou depois da The Nest Foundation?
A The Nest Foundation foi um projeto à parte. Eu tive a ideia de fazer o documentário quando fiz uma série de entrevistas nas Filipinas, em 2001, com mulheres que eram vendidas para o exército japonês em troca de comida e roupas durante a Segunda Guerra Mundial. Descobri em seguida que a maior parte dessas pessoas exploradas eram meninas menores de idade. Comecei a investigar mais os casos e fui a lugares como Vietnã, Camboja e Indonésia, onde pude ter uma ideia mais abrangente desse mercado. Essa mesma pesquisa acabou me levando aos Estados Unidos, onde o filme foi rodado.
O que você espera que as pessoas pensem ao assistir ao filme?
Eu espero que elas percebam que esse não é o tipo de coisa que acontece somente com famílias desestruturadas. Abuso sexual infantil é um problema universal. Todos os países sofrem desse mal. Eu não quero que elas acreditem que os Estados Unidos é o culpado pela demanda do tráfico infantil, mas sim que ele está em todo lugar. Queria que as pessoas falassem desse assunto e não mais o escondessem debaixo do tapete, como se ele não existisse.
Como foi levantar fundos para conseguir tornar Playground viável? Eu imagino que tenha sido uma tarefa difícil...
É um tópico polêmico. Mas eu acho que eu consegui principalmente por conta do modo com que eu lidei com o tema. E por mostrar também que esse não era um filme comercial, mas feito com o propósito de levantar fundos para ajudar essas vítimas. Isso ajudou muito no processo.
Você não acha que o filme traz uma visão um tanto conservadora sobre o que poderia desencadear a sexualidade precoce de uma criança? A montagem tem imagens de Britney Spears usando um biquíni na capa da revista Rolling Stone e traz cenas de uma performance erótica de Justin Timberlake e Janet Jackson exibida em cadeia nacional. A mídia é realmente a culpada?
Na verdade eu não acho minha visão conservadora, pelo contrário. Eu estou falando sobre incitar a sexualidade em coisas que as crianças têm acesso. O que eu achei incrível no Rio de Janeiro foi que aqui não tem outdoors nas ruas. E nos Estados Unidos temos um monte de outdoors de grifes famosas que constantemente colocam imagens de jovens modelos seminuas em praça pública. Eu não gostaria que minha filha de cinco anos visse, por exemplo, a performance de Justin Timberlake e Janet Jackson no Superbowl. Não estou falando de adultos, mas sim de crianças que são expostas a isso diariamente.
Na verdade eu não acho minha visão conservadora, pelo contrário. Eu estou falando sobre incitar a sexualidade em coisas que as crianças têm acesso. O que eu achei incrível no Rio de Janeiro foi que aqui não tem outdoors nas ruas. E nos Estados Unidos temos um monte de outdoors de grifes famosas que constantemente colocam imagens de jovens modelos seminuas em praça pública. Eu não gostaria que minha filha de cinco anos visse, por exemplo, a performance de Justin Timberlake e Janet Jackson no Superbowl. Não estou falando de adultos, mas sim de crianças que são expostas a isso diariamente.
No filme, alguns dos depoimentos vindo de crianças são um pouco chocantes. Elas falam sobre terem sido estupradas com extrema naturalidade.
Foi bom você tocar nesse assunto porque, na verdade, não é tão natural assim. Eu não sou psiquiatra, mas isso é um sintoma de estresse pós-traumático. Elas estão tão assustadas com aquilo, que colocam de lado o problema e tentam fazer com que ele pareça algo natural. Nenhuma dessas crianças tinha recebido tratamento psicológico adequado quando eu as entrevistei. A própria Michelle, personagem central do filme, não sabe lidar com isso e tenta tirar sarro desse tipo de situação. Para ela é melhor evitar.
Você continua em contato com a Michelle?
Ela perdeu a guarda dos filhos e tentei colocá-la em programas de tratamento, mas ela não quer fazer. Continuamos mantendo contato e acho que agora ela finalmente está melhor.
Por que ela foi escolhida para ser a protagonista do documentário?
Michelle era a típica representante de uma cidade de médio porte (Portland) nos Estados Unidos. As pessoas que moram ali acreditam que isso acontece em lugares como Los Angeles e Nova York, nunca no quintal delas. Eu quis mostrar que elas estavam erradas. Que ali existia o caso de uma menina que foi estuprada aos cinco anos de idade e aos 11 já se prostituía.
Quando você decidiu usar as ilustrações do artista japonês Yoshitomo Nara para ilustrar determinadas situações do filme?
Eu sempre fui muito fã do trabalho dele. Eu queria que ele participasse do filme, mas sabia que não seria fácil fazer com que ele ajudasse a ilustrar situações de estupros como as que mostro. Felizmente eu o conheci numa exposição e acabei o convidando. Com o trabalho dele, eu queria que as pessoas enxergassem além do que aqueles adolescentes estavam dizendo. As pessoas podem pensar: essas meninas tem 13, 14 anos e estão bem. Mas o bom de suas ilustrações é que ele conseguiu desenhar crianças que aparentemente estavam fazendo coisas naturais para a idade, mas no olhar delas você enxerga algo triste.
Reportagem de DANILO SARAIVA, Portal Terra
Jornal do Brasil - 08/10/2009
Jornal do Brasil - 08/10/2009
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