Paulo Yokota*
Ilustração constante do artigo no The Japan Times
Um artigo publicado por Victoria James no jornal japonês The Japan Times permite
melhor entendimento do erotismo japonês constante dos trabalhos de
ukiyo-e de diversos artistas, que apresentam aspectos totalmente
diferentes dos ocidentais. É preciso esclarecer que nas culturas
orientais, como a japonesa, que ganha uma expressão artística invejável
no ukiyo-e como os de Kitagawa Utamaro, cada vez mais valorizado no
mundo ocidental, acaba se diferenciando pela ausência do sentimento de
pecado que é um conceito eminentemente cristão, ainda que tenha origem
nas concepções judaicas. Ela se refere ao livro “Shunga: Aesthetics of
Japanese Erotic Art by Ukiyo-e Masters”, publicado pelo Japan´s Pie
Books e Pie International. Conta com texto dos acadêmicos japoneses Aki
Ishigami, curadora para a exibição no British Museum de Uragami Mitsuru e
do historiador de arte Yukari Yamamoto, tendo a parte artística sob
responsabilidade de Takaoka Kazuya. A edição apresenta 600 páginas bem
ilustradas em dimensão de 30 por 21 centímetros, com papel adequado e
coloração de elevada qualidade, segundo o artigo.
É preciso atentar para estes detalhes culturais quando se comenta,
por exemplo, as esculturas budistas hindus que apresentam as muitas
posições para a prática do sexo, que seria um meio para aproximar os
seres humanos do nirvana e não simplesmente do erotismo ocidental.
O primeiro estudo sobre “shunga” foi efetuado pelo livro de Timon
Screech, professor da história da arte na Escola de Estudos Orientais e
Africanos da Universidade de Londres. Hoje, o “shunga” figura como
“mainstream” e no livro citado consta detalhes como os do livro de fotos
“Warai Jogo”, que apresenta detalhes do corpo de homens e mulheres como
não constam na arte ocidental.
Mas também mostram detalhes do mobiliário das salas em que estão os
amantes, alguns utensílios, além do “katana”, pratos de porcelana e
escritos em livros de caligrafia, mostrando toda a arte dos seus
autores. São detalhes que mostram o cuidado dos trabalhos destes
artistas japoneses.
Nestas últimas décadas, explica a autora do artigo, houve um avanço
significativo dos estudos destas obras, pois as autorizações legais do
seu uso foram liberadas, resultando nas exposições como as feitas no
Museu Britânico, além de trabalhos acadêmicos sobre o assunto.
No processo, estas gravuras eróticas revelam a arte, são documentos
sociais e até trabalhos chocantes, hoje examinados com muito cuidado.
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* Paulo Yokota, economista brasileiro (dupla
nacionalidade japonesa), ex-professor da USP, ex-diretor do Banco
Central do Brasil, ex-presidente do INCRA. Viveu e trabalhou nestas
regiões. Foi comissário do governo brasileiro, temporariamente, na Expo
Tsukuba 85. Supervisionou os escritórios de uma trading brasileira na
Ásia. Viajou para lá mais de uma centena de vezes. Percorreu por
lugares mais afastados de alguns destes países de ambas as regiões. Tem
alguns livros publicados e centenas de artigos escritos sobre o
intercâmbio entre estas regiões. Fez parte de alguns Conselhos que
cuidaram deste intercâmbio, inclusive para o século XXI. Procura estar
sempre atualizado sobre a Ásia. Viajou e trabalhou também pela Europa e
a América do Norte, acumulando elementos para comparações. Ele contará
com a colaboração de outros amigos com a vivência e experiência
similares.
Fonte: Ásia Comentada, 21/12/2014
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