Suzana Herculano-Houzel*
É possível provocar visões e experiências extracorporais nas pessoas ao perturbar a integração dos sentidos
Visões, experiências extracorporais e de presença de entidades
invisíveis são fenômenos que não fazem parte do cotidiano da maior parte
das pessoas. Ainda assim, são comuns o suficiente para figurarem em
textos religiosos e na literatura espírita e paranormal --e portanto,
devem ter algum fundo de verdade.
Para o neurocientista Olaf Blanke, da Escola Politécnica de Lausanne,
Suíça, esses fenômenos são de fato reais: um produto de desencontros de
informações sensoriais no cérebro, causadas por ataques epilépticos,
lesões, problemas apenas transitórios --ou intervenções controladas em
laboratório.
Olaf se interessa por percepções anormais há pelo menos 12 anos, quando
descobriu que uma perturbação elétrica induzida no córtex parietal de
uma pessoa saudável durante uma cirurgia do cérebro é capaz de provocar
uma percepção extracorporal.
A razão seria a perturbação da integração normal entre sinais oriundos
dos sentidos da visão, da propriocepção (o sentido da posição espacial
do próprio corpo) e do equilíbrio. Normalmente, esses sinais casam. Mas,
se há discrepância, o cérebro se decide pela interpretação mais
razoável --mesmo que ela envolva algo improvável, como o self estar
momentaneamente fora do corpo, olhando para si mesmo.
Em um novo estudo, sua equipe abordou a sensação de uma "presença"
imaterial. Olaf notou que pacientes neurológicos que relatavam essa
sensação, sempre próxima do próprio corpo e atrás dele, tinham em comum
lesões em uma mesma região: a porção frontal do córtex parietal, que
integra sinais sensoriais e motores dos movimentos causados pelo próprio
corpo.
A sensação de presença, portanto, talvez fosse causada por uma incongruência entre esses sinais do próprio corpo.
Usando robôs controlados por voluntários para aplicar toques às suas
próprias costas, a equipe demonstrou que a sensação de uma presença
imaterial pode ser provocada sob encomenda. Basta que os robôs
introduzam um intervalo de meio segundo entre o comando do voluntário e o
toque às suas costas, e "voilà": para o cérebro, a causa deste toque
deixa de ser ele mesmo.
Pelo jeito, em caso de incongruência momentânea entre os sentidos, e na
falta de explicação melhor, o invisível é uma explicação perfeitamente
razoável para o cérebro.
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